Há
duas semanas, Anders
Behring Breivik
invadiu um acampamento juvenil em uma ilha norueguesa, atirando a
esmo contra centenas de adolescentes - e matando 69 deles. Quanto
mais progride a investigação sobre o caso, mais fica evidente que
Breivik é um louco. Sua loucura, no entanto, é alimentada por
angústias e temores compartilhados por muitos europeus. Eles têm
sua raiz num fenômeno que os países do continente não descobriram
como abordar: o afluxo de imigrantes para dentro de suas fronteiras.
A integração de muçulmanos representa um desafio particular. Ele
requer a superação daquele "choque de civilizações" de
que falou o cientista político Samuel Huntington. Mas até mesmo os
imigrantes de um país vizinho podem ser fonte de tensões, quando
disputam os mesmos empregos com os habitantes locais. Capaz de
experimentos extraordinários no campo da política, do direito e do
comércio, a União Europeia tem se mostrado, no entanto, impotente
diante do desafio que "os outros" lhe impõem.
A
Europa foi um continente que, ao longo de séculos, exportou sua
população, colonizando vastas porções do planeta. Só muito
recentemente esse processo se inverteu. Estrangeiros - especialmente
habitantes de antigas colônias na Ásia, no Norte da África e no
Oriente Médio - começaram a avançar em massa para o continente
sobretudo depois da II Guerra. A grande maioria buscava emprego ou
fugia de conflitos locais, planejando permanecer no continente apenas
por algum tempo. Mas começaram uma nova vida e lá criaram suas
famílias. Esses filhos de imigrantes continuam, muitas vezes, sem
ser vistos como europeus. Vivendo à margem, esses jovens se revoltam
e podem chegar a atitudes extremas, como ocorreu na
França, em 2005, quando
as ruas de várias cidades foram tomadas por distúrbios e
depredações. "Quando você tem um nome árabe ou é negro,
você encara discriminação, racismo e xenofobia", afirma o
filósofo e professor da Universidade de Oxford Tariq Ramadan, que
lamenta o fato de que mesmo portadores de passaportes europeus sejam
tidos - e enxerguem a si mesmos - como "alienígenas".
Cada
um na sua - Para
tentar entender como a própria população analisa o problema, a
Comissão de Assuntos Internos da UE publicou seu primeiro
Eurobarômetro, um meio de medir o progresso (ou não) dessa
integração. Realizado em abril passado e publicado em julho, o
levantamento abordou 700 habitantes dos países que mais recebem
pessoas de outras nacionalidades (confira
os 10 principais no infográfico abaixo).
O que se constatou foi que tanto imigrantes quanto europeus concordam
que são necessários três pontos principais para o sucesso desse
projeto: falar a mesma língua, conseguir um emprego e compreender a
cultura local. A maioria dos participantes da pesquisa também
acredita que esse caminho é uma via de mão dupla, e são
necessários esforços de ambos os lados - apesar de poucos se
mostrarem dispostos a fazer algo. Nesta quinta-feira, por exemplo, um
estudo do instituto Ipsos Mori mostrou que 71% dos britânicos acham
que há imigrantes demais morando no Reino Unido, o que, para eles,
está diretamente ligado à piora de serviços e indicadores sociais
A
integração não tem sido bem-sucedida na Europa", reconheceu
recentemente a comissária de Assuntos Internos da UE, Cecilia
Malmström, ao divulgar uma nova estratégia voltada para os
imigrantes de países subdesenvolvidos que vivem no continente. A
proposta, no entanto, é bastante limitada. As principais
recomendações ficam restritas à área educacional, como oferta de
cursos do idioma local e do funcionamento da sociedade, a criação
de políticas que estimulem a participação de imigrantes no mercado
de trabalho e a qualificação de professores para lidar com a
diversidade cultural. Não há regras gerais a serem seguidas por
todo o bloco - o que parece ser uma receita certa para o fracasso.
Enquanto cada governo se preocupar somente em "moldar" os
imigrantes a sua sociedade, eles nunca avançarão.
Por Gabriela Loureiro
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