sexta-feira, 3 de junho de 2011

Extra: Mulher Maravilha com AIDS (cuidado!)

"A 'flexibilização' do código florestal é um bom exemplo desta avidez do lucro que ameaça levar à destruição da floresta Amazônica"

Entrevista Michael Löwy concedida à revista Caros Amigos

Nascido no Brasil, formado em Ciências Sociais na Universidade de São Paulo, o sociólogo Michael Löwy vive em Paris desde 1969. Autor de diversos livros, é organizador do livro Revoluções (Boitempo, 2009), que inspirou a multi-exposição Revoluções, aberta ao público até 03/07, no Sesc Pinheiros, em São Paulo. Nesta entrevista ao site da Caros Amigos, ele avalia o potencial revolucionário de movimentos latino-americanos e das revoltas no mundo árabe, comenta a flexibilização do código florestal brasileiro, o assassinato de militantes do campo e as grandes obras hidrelétricas. Confira. 

Michael Löwy 


 Caros Amigos - No projeto Revoluções, o sr. afirma que as revoluções nunca se repetem e, por mais que se possa aprender com as anteriores, sempre há um processo de inovação que é imprevisível. O sr. diria que há um processo de inovação na América Latina? Existe uma revolução bolivariana em curso?

Michael Löwy - Existem hoje em dia na América Latina vários movimentos sócio-políticos com vocação revolucionária. O exemplo mais evidente é o Exercito Zapatista de Libertação Nacional, que mostrou uma notável capacidade de inovação, com várias iniciativas que tiveram repercussão internacional. Basta mencionar a Conferência Intergalactica de Chiapas em 1996, que foi o ponto de partida do movimento altermundialista. Outros movimentos com capacidade de inovação são os piqueteiros e as ocupaçôes de fabrica na Argentina, os movimentos indigenistas, em particular na região andina e o MST brasileiro.
Existem também governos com um programa de ruptura com a oligarquia, com a dominação imperialista e com o neo-liberalismo, mas é cedo ainda para se falar em « revolução ». O exemplo mais interessante é no momento a Bolivia de Evo Morales ; o processo bolivariano da Venezuela com Chavez, e a « revolução cidadã » de Rafael Corrêa no Equador são mais contraditórios.

Caros Amigos - As transformações no mundo árabe podem ser entendidas como o começo de uma revolução? Por que?

Michael Löwy - Sem dúvida assistimos na Tunísia e no Egito a uma autêntica revolução democrática e popular, derrubando regimes ditatoriais corruptos e opressores. É um belo exemplo de inovação, as formas de luta e de auto-organização são inéditas e inesperadas. Da capacidade dos trabalhadores, da juventude, das mulheres, de se organizarem de forma autônoma vai depender o futuro deste processo e o seu caráter revolucionário. Caros Amigos - Como a comunidade europeia tem encarado as transformações no mundo árabe?
Os dirigentes da comunidade européia manifestaram perplexidade diante destes movimentos, já que tinham, ja ha muitos anos, propiciado apoio político, econômico e militar a estas ditaduras do mundo árabe. No momento, sua maior preocupação é impedir o afluxo de imigrantes da África do Norte na Europa, intensificando o controle policial nas fronteiras. Caros Amigos- Em maio, é aniversário da Comuna de Paris. Como a Comuna influenciou a Europa? E a América Latina?
Precisaria de um livro inteiro para responder à esta pergunta… Todos os movimentos revolucionários do século 20, à começar pela Revolução Russa, foram influenciados pela Comuna de Paris. Hoje em dia se observa, na Europa e talvez em outros continentes, um interesse renovado pela Comuna de 1871, pelo seu caráter profundamente democrático, pluralista.

Caros Amigos - Nas últimas semanas, a proposta de flexibilização do código florestal causou polêmica no Brasil. Você avalia que seja possível promover uma exploração capitalista sustentável, como pregam os defensores do novo código?

Michael Löwy - Um “capitalismo sustentável” é tão provável como um crocodilo vegetariano… A lógica intrinsecamente perversa de expansão ilimitada e de acumulação infinita do capital conduz inevitavelmente à destruição do meio ambiente e à catástrofes ecológicas como o aquecimento global. A “flexibilização” do código florestal é um bom exemplo desta avidez do lucro que ameaça levar à destruição da floresta Amazônica, um desastre de proporções planetárias. São os mesmos que mataram Chico Mendes e Dorothea Stang, e mais recentemente o casal José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva: todo e qualquer obstáculo à exploraçâo/destruição da floresta tem de ser eliminado…

Caros Amigos - A preservação ambiental precisa ser colocada no centro das plataformas de transformações sociais? Por que?

Michael Löwy - Porque as condições de vida, a saúde e a própria sobrevivência da população depende de se preservar os equilíbrio ecológicos. Todo programa de transformação social ou de luta contra o neoliberalismo tem portanto de incluir a questão ecológica como um aspecto essencial. Se deixarmos que continue o « business as usual », dentro de dez, vinte ou trinta anos sofreremos as dramáticas consequências da mudança climática. De fato, desde ja se fazem sentir os primeiros efeitos do aquecimento global, com a ameaça da sequia que pesa sobre a Europa, a África e outros continentes. Por isto somos muitos a colocar como horizonte histórico da luta pela transformação social o ecosocialismo, a síntese dialética entre a revolução social e a ecologia.

Caros Amigos - O sr. avalia que Brasil tem priorizado grandes obras – como novas centrais nucleares e mega hidrelétricas – a agenda ambiental? Se sim, que riscos isto representa?

Michael Löwy - A energia hidrelétrica deve ser utilizada, mas não desta forma, com megaprojetos (Belo Monte!) a serviço da indústria de exportação de alumínio, destruindo imensas áreas de vegetação. É pena que o governo brasileiro, em vez destes projetos faraônicos - que vem da época da ditadura militar – de centrais nucleares e mega-hidrelétricas, com consequências ambientais profundamente negativas, não desenvolve as energias alternativas, eólica, solar. Não falta sol no Brasil, o pais poderia ser um dos pioneiros mundiais no campo da energia solar.

Fonte: Caros Amigos por Débora Prado

Energia Nuclear: Fukushima reascende debate sobre a segurança das usinas

Apesar do grave acidente no Japão, o governo brasileiro prepara a construção de quatro novas centrais nucleares e conclusão de Angra 3 com orçamento de R$ 40 bilhões.

O desastre na usina de Fukushima Daí-ichi, no Japão, tomou dimensões catastróficas e reascendeu o debate sobre energia nuclear em todo o mundo. Os argumentos mais comuns são conhecidos: os defensores atestam que esta é uma fonte de energia elétrica limpa, que gera energia de baixo custo, sem ocupar grandes áreas, como no caso das hidrelétricas. Já os críticos às usinas nucleares afirmam que a opção é perigosa e cara, dados os altos investimentos necessários para sua construção, destacando que os rejeitos (o ‘lixo nuclear’) são um problema sem solução. O que poucas pessoas debatem, porém, é o programa nuclear brasileiro – uma herança da Ditadura Militar que permanece como um assunto a ser tratado nos gabinetes do governo e gera polêmica entre os atores da área.

Uma sondagem do IBOPE Inteligência*, realizada após o acidente no Japão, mostrou que 54% dos brasileiros são contrários ao uso da energia nuclear para gerar eletricidade no País. As propostas do governo, por outro lado, preveem a instalação de 50 usinas nucleares nos próximos 50 anos, sendo 5 delas em curto prazo, com a conclusão de Angra 3 e a construção de quatro novas centrais, sendo duas delas na região Nordeste, com prioridade, e outras duas no Sudeste.

As perspectivas de expansão geram polêmica. Para Heitor Scalambrini Costa, físico e professor da Universidade Federal de Pernambuco, o acidente de Fukushima foi uma alerta para a humanidade. “Apesar dos renovados esforços da indústria nuclear em apresentar-se como segura, acidentes em instalações em diversos países continuam a demonstrar que esta tecnologia é perigosa, oferecendo constantes riscos que podem trazer consequências catastróficas ao meio ambiente e à humanidade”, avalia.

A tragédia no Japão reacendeu também as críticas em relação ao projeto de Angra 3, com construção em curso no Rio de Janeiro. Isto porque, o projeto original, cuja licitação foi realizada em 1983, não passou por uma revisão antes de ser implementado e, por isso, é acusado de ser obsoleto, portanto, mais arriscado. Por um lado, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, tem reiterado que o projeto é seguro e se tornou defensor de Angra 3 e da expansão na frente nuclear. Por outro, pessoas ligadas ao setor alegam que o governo não fez a revisão para evitar gastos e porque, se o projeto fosse alterado, a licitação para construção da usina teria que ser refeita. Com isso, a empresa Andrade Gutierrez, entre outras, poderia perder um contrato bilionário.

Fonte: Caros Amigos (por Débora Prado)

Entram em vigor novas regras para uso do cartão de crédito

As regras que padronizam o uso do cartão de crédito entram em vigor hoje. A quantidade de tarifas cobradas caiu de aproximadamente 80 para cinco, no caso de cartões novos. A decisão de mudar as regras do uso do cartão de crédito foi tomada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em novembro do ano passado.
Além da anuidade, só poderão ser cobradas tarifas pelo fornecimento de segunda via do cartão, pela retirada de dinheiro na função saque, pelo pagamento de contas e pela avaliação emergencial de limite de crédito pelo cliente. Para os clientes que já trabalham com cartão de crédito, as cinco tarifas permitidas passam a valer a partir de 1º de junho de 2012.
Outra mudança foi o percentual da parcela mínima mensal para pagamento do cartão, que passa a ser 15%. Em 1º de dezembro, a parcela mínima para pagamento passará para 20% do total da fatura. Desde março passado, também não existe mais a cobrança de tarifas para as contas eletrônicas, exceto a anuidade. Essas contas são operadas diretamente pelo consumidor, como na internet, sem a necessidade de comparecimento às agências.
O CMN instituiu ainda uma diferenciação, nos tipos de cartão, que vai permitir aos clientes comparar os preços e escolher o mais adequado para suas necessidades. Passam a existir dois tipos de cartão destinados às pessoas físicas: o básico e o diferenciado. O básico poderá ser utilizado exclusivamente nas funções clássicas de pagamentos de bens e serviços em estabelecimentos credenciados, incorporando as opções de compra ou parcelamento.

O cartão diferenciado foi classificado como aquele associado a programa de benefícios e recompensa, como a troca de milhagens por passagens aéreas. Essas vantagens terão que ser incluídas apenas na anuidade e não terão taxas específicas. A instituição financeira terá que informar aos clientes todos os serviços incluídos nas tarifas. Continua proibido o envio de cartões para o cliente sem autorização prévia.
Além das tarifas, na fatura do cartão também terão de constar informações como o limite de crédito total e limites individuais para cada tipo de operação, gastos, por evento, inclusive quando o saldo é parcelado e os encargos cobrados,  informados de acordo com a operação.
Fonte: Correio do Brasil em 1/6/2011

Cortar o sal para reduzir risco de hipertensão

Pesquisas ligam hipertensão ao consumo excessivo de sal...
O governo da Província de Buenos Aires, na Argentina, iniciou nesta semana um programa para eliminar os saleiros das mesas dos restaurantes.
O objetivo da medida, que é parte de um programa para o combate à hipertensão arterial, é conseguir uma redução no consumo de sal e com isso a redução dos riscos de doenças cardíacas entre a população.
Os especialistas afirmam que os clientes dos restaurantes têm o costume de colocar sal nos pratos sem sequer prová-los antes para saber se já não estão suficientemente salgados.
A nova norma vale apenas para os restaurantes da Província de Buenos Aires, que não inclui a cidade de Buenos Aires, capital do país.
As autoridades locais estimam que até 3,7 milhões dos 15,6 milhões habitantes da província sofram de hipertensão, que pode levar a derrames cerebrais ou problemas cardíacos.
– A intenção é reduzir o risco de hipertensão, enfermidade que afeta um terço da população argentina e que constitui um dos principais fatores que levam a doenças e mortes cardiovasculares –, explicou o secretário da Saúde da província, Alejandro Collia.
– Por isso acreditamos que o Estado deve intervir –, disse.
Mortes
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a cada ano cerca de 12 milhões de pessoas morram por problemas cardíacos ou acidentes cardiovasculares, número muito maior do que o de fatalidades em decorrência da violência ou de acidentes de trânsito.
Segundo especialistas, a redução do consumo de sal pode ser chave para reduzir essas mortes. Um estudo argentino calculou que a redução de um grama de sal a cada cem gramas de pão consumido pode evitar 60 mil mortes em dez anos.
Em sua campanha contra o sal, o governo de Buenos Aires chegou a dois acordos – um com a associação argentina de restaurantes para eliminar os saleiros das mesas e outro com a federação da indústria panificadora para reduzir em 40% o sal colocado nas massas dos pães.
– Cada argentino consome em média 13 gramas de sal por dia, enquanto a recomendação da OMS é para consumir menos de 5. Se conseguirmos baixar o consumo diário na província em 3 gramas, evitaríamos cerca de 2 mil mortes ao ano –, diz Collia.
– Não é algo que vamos mudar de um dia para o outro, mas com os programas de conscientização faremos com que ocorra uma redução importante do consumo de sal –, afirmou.
1/6/2011 13:31, 

Nutricionistas criticam Ministério da Saúde por parceria com McDonald’s

A adesão da rede de lanchonetes McDonald’s a campanhas do Ministério da Saúde e sua classificação como “empresa amiga da saúde” pela pasta gerou protestos de ONGs e de especialistas em nutrição. Professores universitários da área pedem a desvinculação da pasta de “produtos e campanhas” da empresa.

Depois de aderir às campanhas, a rede de fast foods passou a estampar em suas toalhas de bandeja material educativo elaborado pelo Ministério da Saúde, junto com o lema “Amo muito tudo isso” e a marca da empresa. No verso do material, o McDonald’s também incluiu o cardápio da rede e informações nutricionais.
Por telefone e em nota, a assessoria de imprensa do Ministério da Saúde esclareceu que o foco da cooperação entre o órgão e diversas empresas no país é ampliar o número de pessoas atingidas por suas campanhas. Em nenhum momento o órgão endossa práticas e condutas das empresas.
“O Ministério da Saúde mantém parceria com 384 empresas brasileiras, de diversos setores, que nos apoiam em iniciativas de promoção da saúde e prevenção de doenças. A participação destes parceiros nos ajuda a ampliar o alcance e a visibilidade de nossas campanhas informativas, mas sem implicar endosso irrestrito do ministério às práticas e condutas das empresas”, informou também em nota.
O material, entregue aos consumidores que se alimentam nas lojas da rede, contradiz a promoção da alimentação saudável e de outras políticas do governo federal, na interpretação de especialistas em saúde e nutrição humana. Para os professores da Universidade de São Paulo (USP) e membros da Academia Brasileira de Ciências, Carlos Augusto Monteiro e César Gomes Victora, acompanhados do professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), membro do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), a campanha da rede “é extremamente nociva” e induz o consumidor a pensar que seus produtos deveriam ser consumidos frequentemente.
“A própria composição nutricional do cardápio da rede McDonald’s, descrita nas toalhas, revela quão enganosa é esta campanha publicitária”, reclama a carta dirigida a Alexandre Padilha, ministro da Saúde. Segundo eles, uma refeição formada por uma combinação padrão da rede – o sanduíche Big Mac, mais uma porção média de batatas fritas, um copo médio de refrigerante e uma porção pequena de sorvete com calda – fornece dois terços do total de calorias que um adulto poderia consumir em um dia. Para uma criança, o valor representa praticamente toda a demanda de energia.
Para os professores universitários, é preciso desvincular a marca da rede de quaisquer ações do Ministério da Saúde.
– Pedimos-lhe que ordene a imediata desvinculação das marcas, programas e imagem do Ministério da Saúde do Brasil da marca, produtos e campanhas da empresa McDonald’s – pleiteiam.
Publicidade perigosa
Em outra carta ao ministro, a  Frente pela Regulação da Publicidade de Alimentos também pediu a desvinculação das marcas. “Não se justifica, em hipótese alguma, o Ministério da Saúde associar sua imagem a de empresas como McDonald’s atribuindo-lhes o título de ‘Parceiro da Saúde’, uma vez que a sua principal atividade é a comercialização de alimentos que, em sua grande maioria, fazem muito mal à saúde”, contestou a entidade.
“É necessário cuidado especial com as nossas crianças que devem crescer em um ambiente que favoreça seu máximo potencial de desenvolvimento, o que inclui a garantia da proteção contra os produtos comercializados e práticas de marketing empregadas por empresas como o McDonald’s”, discorreu a Frente.

Fonte; Correio do Brasil (01.01.11)

Nuvens negras no horizonte - ameaça de novas crises mundiais

Já se delineiam duas sérias ameaças em nível global, que podem indicar um primeiro desdobramento da crise financeira originada nos Estados Unidos em 2008. É a situação crítica da questão fiscal dos Estados Unidos e Grécia. Os holofotes agora estão na Grécia, mas não levará tempo para se dirigirem aos EUA. Face a esse quadro, o melhor para o Brasil é apostar as fichas da saúde econômica e financeira naquilo em que somos bons: alto potencial de mercado interno inexplorado. Assim, é bom repensar as políticas do pé no freio, que podem fragilizar o País aos trancos que poderão vir de fora.
Ainda não se passaram três anos e já se delineiam duas sérias ameaças em nível global, que podem indicar um primeiro desdobramento da crise financeira originada nos Estados Unidos em 2008. É a situação crítica da questão fiscal dos Estados Unidos e Grécia. Os holofotes agora estão na Grécia, mas não levará tempo para se dirigirem aos EUA.
Vale recordar. Na primeira tentativa de sair do buraco, a Grécia acertou com o FMI que sua economia deveria encolher 4% em 2010, 2,6% em 2011 e o desemprego, de 9,4% em 2009, subiria para 14,8% em 2012. Esse o custo da redução do déficit fiscal de 13,6% do PIB em 2009, para 8,1% em 2010 e 6,5% em 2012. Mesmo assim, sua dívida se estabilizaria em 150% do PIB! Mas em 2010 em vez de conseguir a meta de déficit de 8,1%, obteve 10,5%, o que acendeu a luz vermelha.
Os holofotes agora estão na questão fiscal da Grécia, que precisará de um novo empréstimo em 2012. Com um crescimento mais baixo que o esperado, a tendência é o agravamento fiscal e a necessidade de mais empréstimos que, se vierem, trarão sérias dificuldades de satisfazer as condições impostas pelo FMI, com impacto social crescente e sério risco político ao governo.
A aposta dos “salvadores” (Banco Central Europeu – BCE, países da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional – FMI) ao concederem o primeiro socorro era de que uma profunda restrição fiscal, com rebaixamento de salários, demissões no setor público e freada no crescimento econômico, seria capaz de gerar os excedentes para honrar as parcelas dos empréstimos, que tiveram prazos mais alongados.
Esse aperto fiscal deveria ser imposto à população e as reações foram imediatas com paralisações e manifestações de massa, que na ocasião poderia inviabilizar as negociações em curso. Mas o governo grego conseguiu vencer o primeiro round e aprovou as duras exigências dos financiadores, mas com importante condição: a dívida teria que ser integralmente paga, sem nenhum prejuízo aos credores.
Esse socorro financeiro implica em dois problemas fiscais, de solução quase impossível, pois crescem as despesas com o serviço da dívida pelo forte aumento do endividamento e cai a arrecadação pela redução da atividade econômica e pelo aumento da inadimplência dos contribuintes, ou seja, forma-se um “sanduíche” fiscal.
Os credores, no entanto, partiram da premissa de que a redução das despesas públicas seria suficiente para superar esses dois problemas. Não foi o que aconteceu e nem acontecerá. Assim, seria necessário reduzir o valor a ser pago no serviço da dívida, ou seja, seu deságio, com perda para os credores.
Mas, o deságio não bastaria para solucionar o problema, pois os desequilíbrios macroeconômicos já existentes tornam necessários outros esforços para viabilizar o equilíbrio de suas contas internas e externas. Atualmente ocorre déficit na balança comercial de 4% do PIB, maior déficit comercial entre os países da região do euro. Se esse déficit persistir, terá de captar o volume total em instituições de crédito estrangeiras, mesmo se os déficits orçamentários pós-inadimplência puderem ser financiados com captações domésticas.
A simples ameaça do deságio na Grécia precipitou a elevação dos riscos das dívidas de Portugal e Espanha. Portugal foi o primeiro a pedir socorro e já está seguindo o mesmo caminho grego. Tomou em maio recursos do FMI e da União Europeia de US$ 110 bilhões, que representa 47% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. O último pacote de auxílio do FMI ao Brasil, em 1998 foi de US$ 40 bilhões ou 4,7% do PIB. Assim, esse socorro a Portugal foi, em termos de tamanho de sua economia, 10 vezes maior do que o nosso.
Para situar a gravidade do problema que ronda a Europa, o pacote da Grécia de US$ 156 bilhões foi também de 47% do PIB e o da Irlanda de US$ 120 bilhões, 52,9% do PIB, segundo matéria publicada no jornal Estado de São Paulo (22/maio).
Esses socorros foram também sem deságio nas dívidas e será apenas questão de tempo para evidenciar a falta de visão dos “salvadores” e o agravamento da inevitável deterioração fiscal nesses países.
Não tem como escapar do deságio das dívidas. Esse deságio, por sua vez, poderá trazer novos desdobramentos na rede financeira europeia já fragilizada pela crise iniciada nos Estados Unidos com as hipotecas de alto risco (subprime) e por a nu os títulos podres em posse do BCE ao socorrer o sistema bancário da Irlanda, Grécia, Espanha entre outros países.
A nova tentativa de socorro à Grécia continuará tentando preservar os credores, alongando mais a dívida, sem reestruturá-la, com nova injeção de empréstimos, e o calote será inevitável e maior mais a frente. É uma exigência do BCE para tentar empurrar com a barriga os títulos podres em seu poder cujo montante é desconhecido.
O mesmo poderá ocorrer com Portugal, mais à frente à Espanha e, em seguida a Itália, países de maior expressão econômica na zona do euro. Poderá ser essa a sequência dos PIIGS. É claro que isso atingirá o sistema bancário das economias mais sólidas como França e Alemanha, agravando a crise européia com repercussões em outros países fora da área. Como existe forte relação entre os sistemas financeiros de Europa e Estados Unidos, esse país certamente será afetado.
EUA – Em 16/5, os Estados Unidos atingiram o teto de US$ 14,294 trilhões da dívida pública e o Departamento do Tesouro planeja anunciar que vai parar de emitir e reinvestir títulos do governo em certos fundos de pensão públicos, parte de uma série de medidas para adiar a moratória até 2/8. Essas medidas do Tesouro visam ganhar tempo para a Casa Branca e líderes do Congresso chegarem a um acordo de redução do déficit, para atingir número suficiente de congressistas a votar o aumento da dívida.
A disputa política entre republicanos e democratas pode fornecer o combustível necessário para começar a por em dúvida a capacidade do país honrar o pagamento aos credores, que estão espalhados por todo o mundo, especialmente países que acumularam fortes reservas ligadas ao dólar, como China, Japão, Alemanha e o Brasil. Para agravar esse quadro o déficit fiscal previsto ao final deste ano pode atingir US$ 1,7 trilhões ou 11% do Produto Nacional Bruto (PNB).
A tentativa de ativar a economia via elevação da liquidez é outro motivo de preocupação. De 2004 a 2008 a base monetária girava em torno de US$ 0,8 trilhão e a disparada sem cessar a partir de 2009 a elevou para US$ 2,4 trilhões. Apesar disso, os empréstimos bancários ficaram estabilizados desde o final de 2008 em US$ 9 trilhões, evidenciando o deslocamento dessa elevação da liquidez para fora dos EUA.
É possível que as agências de classificação de risco, que dormiram no ponto na crise de 2008/2009, não tenham o mesmo comportamento agora. Alguns sinais já apontam nessa direção. O primeiro foi dado pela Standard & Poor’s que rebaixou de ‘estável’ para ‘negativa’ a perspectiva de rating de crédito soberano de longo prazo dos Estados Unidos. Com isso sinalizou que poderá piorar a nota da dívida americana. As razões apontadas para a decisão foram o persistente déficit orçamentário e o elevado endividamento do país.
De acordo com a agência, mesmo após dois anos após a eclosão da crise financeira que abalou o mercado de hipotecas dos EUA, o governo do presidente Barack Obama dá sinais de que não chegou num acordo sobre como reverter a deterioração fiscal por que passa o país atualmente, nem aponta soluções para as pressões fiscais de longo prazo.
O dólar já vem de longo processo de perda de valor perante outras moedas e commodities, e isso expressa a doença que se abate lentamente sobre a economia americana. As análises sobre as perspectivas deste país oscilam a cada dia ao sabor de dados sobre pedidos de desemprego, construção de novas moradias, produção industrial, inflação, etc. Fato é que a reação aos fortes estímulos dados desde 2008 produziram efeitos pífios e os déficits fiscais passaram de 3% do PNB em 2008 e poderão atingir 11% neste ano, e a dívida sobe de forma ameaçadora, indicando claros riscos em seu pagamento.
Para agravar esse quadro a elevação dos preços do petróleo e outras commodities subtraem o poder aquisitivo dos americanos, com reflexos negativos sobre o consumo que representa 70% do PIB do país. Isso afeta o crescimento econômico, a arrecadação e eleva o déficit fiscal.
Parecem esgotados os instrumentos monetários para tirar o país da crise. A forte injeção de dólares feita pelo Fed (banco central americano) e os juros negativos não conseguiram estimular o consumo. É incerto se terminará em junho a escalada da injeção de US$ 600 bilhões. Essa elevação da liquidez já dá sinais de problemas com a inflação, que começam a aparecer no front de preocupações do Fed. E nada mais potente para retirar o poder aquisitivo do americano do que a inflação.
A forma que seria possível para romper com esse agravamento é a ampliação das exportações e contenção das importações, para gerar empregos suficientes para tirar da letargia o mercado interno. Mas não é isso que vem ocorrendo no nível necessário, pois a disputa no mercado internacional cresceu fortemente como consequência da crise de 2008.
Face a esse quadro, o melhor para o Brasil é apostar as fichas da saúde econômica e financeira naquilo em que somos bons: alto potencial de mercado interno inexplorado. Assim, é bom repensar as políticas do pé no freio, que podem fragilizar o País aos trancos que poderão vir de fora.
Amir Khair é engenheiro e mestre em finanças públicas pela EAESP/FGV. Foi secretário de Finanças da Prefeitura de São Paulo (1989/92). Atualmente é consultor na área fiscal, orçamentária e tributária.
Publicado em 31/5/2011

Pistoleiros voltam a aterrorizar assentamento no Pará


José Cláudio foi morto por ser uma das testemunhas do desmatamento no Pará

Pistoleiros voltaram a aterrorizar no Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE) Praialta Piranheira, onde foram executados os dirigentes José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espirito Santo, no último dia 24. Os assassinos voltaram para assassinar testemunhas que os teriam visto. Dois agricultores foram atacados. Um deles foi assassinado e o segundo está desaparecido. Agentes pastorais da Comissão Pastoral da Terra (CPT) estão no local desde o final da tarde deste sábado e encontraram o corpo de Herivelto Pereira dos Santos, de 25 anos, integrante do assentamento, jogado em um matagal. O corpo estava a sete quilômetros do assentamento e a cerca de 100 metros da estrada. Herivelto era uma das testemunhas do caso do homicidio de José e Maria. Ele viu uma moto Bros vermelha sair do assentamento. A mesma moto foi flagrada por outra das testemunhas entrando no local, minutos antes do crime.
Segundo relato de jornalistas locais, dois dias após o duplo homicídio, Herivelto foi fazer compras em Porto Barroso, no lago Tucuruí. Ele seguiu na mesma direção dos suspeitos duplo crime. Desde então não foi mais localizado até a véspera. Como Herivelto era considerado desaparecido, neste sábado, 10 pessoas sairam a sua procura. Encontraram a moto da vítima na estrada, próxima ao corpo, que foi localizado, por volta das 10h, por equipe do Ibama e da Polícia Federal. Segundo a CPT, Herivelto também morreu com um tiro na cabeça e a arma seria do mesmo calibre da utilizada na execução do casal de extrativistas Zé Cláudio e Maria.
A vítima, que praticamente nasceu no assentamento Praialta-Piranheira, era casada e tinha quatro filhos. A família da vítima está assustada e teme retaliações. As polícias Federal e Rodoviária Federal já se encontram no local. Instituto Médico Legal e Polícia Civil estavam a caminho. Este foi o quarto homicídio de trabalhador rural em cinco dias, três deles aconteceram no Pará e outra no Amazonas, desta vez, sem testemunhas.
Fonte: Correio do Brasil  (publicada em 29/5/2011)

SARNEY REESCREVE A HISTÓRIA.

Monumento vivo ao mandonismo, ao fisiologismo, ao compadrio, ao nepotismo, ao tráfico de influência - a tudo, enfim, o que de pior existe na política brasileira -, o presidente do Senado, José Sarney, resolveu reescrever a História do Brasil, menosprezando a opinião pública e depreciando um dos mais edificantes momentos de mobilização cívica que a Nação viveu nos últimos tempos. Para Sarney, o afastamento de Fernando Collor da Presidência da República, em 1992, "não é marcante", pois se trata de "apenas um acidente que não devia ter acontecido na História do Brasil". O impeachment do "caçador de marajás" na verdade não chegou a acontecer como decisão do Congresso. Formalmente, Collor renunciou à Presidência. Mas só o fez porque a cassação de seu mandato se tornara inevitável como resultado do processo de impeachment provocado pelas denúncias de corrupção em seu governo. O Parlamento teve, portanto, papel decisivo na renúncia.

Mesmo assim, esse episódio foi banido da galeria de eventos históricos do Congresso, reinaugurada na terça-feira por Sarney no "túnel do tempo", o amplo corredor que liga os gabinetes dos senadores ao plenário da Câmara Alta. No dia seguinte Sarney recuou, determinando a reinclusão do episódio na galeria. Mas nada apaga o despautério da véspera.

Diante da perplexidade geral causada pela omissão, Sarney ordenara à Secretaria de Comunicação Social do Senado, em nota oficial, botar a culpa nos historiadores: "A partir da Constituição de 1988, a opção dos historiadores foi destacar os fatos marcantes da atividade legislativa. O foco da exposição é mostrar a produção legislativa do Congresso Nacional. A discussão e aprovação das leis é a essência do que faz o Parlamento como poder republicano". Sarney reinterpretava a seu modo a Constituição, que atribui ao Poder Legislativo também a responsabilidade pela fiscalização dos atos do Executivo. Para ele, essa responsabilidade é secundária. Caso contrário não teria acatado - para depois voltar atrás - o critério dos "historiadores". Que foram generosos na valorização do papel do próprio Sarney em episódios como o da aprovação do projeto que assegura tratamento gratuito aos portadores de aids.

Certamente no afã de fazer sua parte no conchavo que tornou o agora senador Fernando Collor um de seus fiéis aliados, o experiente José Sarney, um dos principais fiadores políticos do governo do PT, pisou em falso - como ele próprio parece ter percebido - ao depreciar publicamente o papel dos "caras-pintadas" de 1992, os jovens que empolgaram a Nação com sua indignação contra os desmandos de um governo corrupto e acabaram provocando a renúncia do primeiro presidente eleito pelo povo na "Nova República". Vai ser difícil para os jovens de 1992 ou para qualquer brasileiro imbuído de sentimento cívico e, por isso mesmo, orgulhoso da mobilização que levou à queda de Collor engolir a desfeita de Sarney. Não foi à toa que o presidente do Senado se apressou a dar o dito por não dito. Falseando a História para bajular Collor, Sarney correu o risco de acender o estopim de uma onda nacional de indignação - o que é tudo de que o Palácio do Planalto não precisa, estando em curso o escândalo Palocci.

Sempre restará ao presidente do Senado protestar inocência, atribuindo a falsificação da História a uma conspiração de seus adversários para "fragilizar as instituições". Durante os últimos anos, sob a presidência do senador e de seu irmão de fé Renan Calheiros, a administração da Câmara Alta protagonizou escândalos capazes de fazer corar um monge de pedra.

Mas Sarney tem a consciência tranquila, como revelou dias atrás, ao discursar na comemoração dos 185 anos do Senado: "Identifico muito essa campanha contra o Senado ao fato de ele ser uma casa forte, a quem o Brasil deve muito com relação a sua construção. Em um momento em que se procura fragilizar instituições no Brasil, ataca-se muito o Senado, porque aqui continuamos a ser uma fonte permanente de ajuda ao Brasil". De autoajuda, melhor diria.

Fonte: O Estadão - http://bit.ly/ldRFwW