segunda-feira, 24 de maio de 2021

O Discurso do Rei - um guia para o mundo Business

O Filme The King´s Speech (traduzido para O Discurso do Rei), lançado em 2010, resume em 118 minutos, dicas que abordam a necessidade da oratória para a comunicação entre as pessoas, devidamente assistida pela fonoaudiologia, até importância de saber contratar um colaborador que pode alavancar o sucesso de qualquer projeto.

O Príncipe Albert sofria de disfemia, mais popularmente conhecidcomo gagueira. Condição inoportuna para um membro da realeza que precisa falar publicamente em alguns eventos oficiais. Na foto, ele está no Estádio de Wembley, prestes a fazer um discurso de encerramento de um evento. Pode-se notar a expectativa dos súditos aguardando as palavras de um dos seus proeminentes monarcas. (A foto foi escolhida porque representa um momento de crise de uma pessoa que precisa ser resolvida. Esta pessoa, no caso o Príncipe, precisou contratar uma pessoa e trabalhar em equipe para que o projeto de falar em público, adequadamentetivesse sucesso).

Fez vários tratamentos com vários profissionais ao longo do tempo, quando, finalmente, foi apresentado ao Lionel, um Terapeuta que usava de métodos incomuns na época, para tratar da dificuldade de oratória ou comunicação dos seus clientes.

Para a elaboração e execução de um projeto, é necessário admitir as pessoas corretas para a função. Após extensivo recrutamento, com vários testes realizados, por fim, é admitido um colaboradorUm dos pré-requisitos necessários que o mercado de trabalho anseia é que o postulante ao cargosaiba trabalhar em equipe. Dificilmente, em uma empreitada, alguém não precisa se relacionar com outras pessoas. O Príncipe Albert aprendeu trabalhar em grupo com o seu par para poder progredir na sua oratória. Vale destacar, a presença da mulher do Príncipe Albert que foi a headhunter que contratou o Lionel e, provavelmente, esteve à frente da busca e recrutamento de todos os profissionais envolvidos na tentativa de tratar seu marido. Além do mais, foi uma incentivadora de todo o trabalho desenvolvido do Lionel com o seu marido sendo peça fundamental bem documentada no filmeÉ possível afirmar que ela é um exemplo de um sócio de uma empresaacionista, ou mesmo um colaborador, que veste a camisa busca ajudar de todas as formas, a prosperidade do local de onde trabalha.

Em vários momentos, aconteceram crises de relacionamento que precisaram ser solucionados para que o trabalho não fosse interrompido. Alguns agentes externos, propuseram a troca do seu Fonoaudiólogo, mas, a confiança que o Príncipe depositava no seu contratado foi persistente e fundamental para o discurso final que comoveu uma nação em um período de guerra iminente.

Por fim, o recrutamento e seleção de indivíduos adequados para uma empreitada, trabalho em equipe, com suas nuances e desafios que precisam ser resolvidos continuamente, a confiança no trabalho realizado entre os participantes de um grupoa comunicação verbal e não-verbal como ferramentas importantes no dia a dia das pessoas e no mercado de trabalho, fazem deste filme, um excelente exemplo de Gestão de Pessoas em qualquer empresa.

quinta-feira, 22 de abril de 2021

Conto O diabo não é o culpado!

 

O diabo não é o culpado!

O costume de encontrar desculpas para tudo o que acontece de errado é uma prática inerente do ser humano. É semelhante ao instinto de sobrevivência. Se algo não sair como o planejado, Roberta já começa a explicar todos os detalhes do incidente, independente que aconteça em casa ou no trabalho, defendendo que ela não teve culpa. Não há lembranças dela assumindo o erro de qualquer eventualidade adversa, mas de tudo que deu certo, foi a primeira a se apresentar como a mãe da ideia. Roberta vivia assim sem constrangimentos. Se o seu filho falava alguma palavra imprópria, corrigia-o imediatamente apesar dela ser um dicionário vivo de palavrões, já que não conseguia terminar uma frase sem ter dito pelo menos uma palavra torpe. Se um funcionário errasse, ela era a primeira a se levantar e apontar para o culpado. Os colaboradores da empresa se preocupavam mais em esconder os problemas, que ocorriam dentro do ambiente de trabalho, da Roberta que do próprio gerente administrativo, seu chefe. Não obstante, o inesperado independe de desculpas.

Roberta acordou em ambiente muito claro, como um grande quarto branco e podia se notar que não havia paredes, não havia chão. Ela não estava sentindo medo por estar em uma paragem tão incomum. Naquele momento, Roberta sabia de nada, nada mesmo. Situação análoga a um sonho que não faz sentido, mas que não é questionado. Tudo era muito real. Aos poucos conseguia definir duas figuras que parolavam sem parar. Ela nota que eles estão se aproximando dela paulatinamente. Dissertam sobre infindáveis assuntos, desde astrofísica até a cor da maçã, sempre em discordância. Por fim, param de grulhar e observam a presença incólume de Roberta. Olham através do seu corpo, conseguindo enxergar toda a história dela e todas as consequências decorridas dos seus atos. A presença deles é angustiante, sufocadora, todavia serena. Começam a falar, novamente, olhando para ela, aumentando o tom cada vez mais e acelerado. Roberta procura entender o que eles dialogam, pois, é muito provável, que estão falando dela ou para ela já que a olham e gesticulam compulsivamente. Percebe que estão julgando-a, avaliando seus atos do passado e decidindo se ela deveria ir para o inferno ou para o céu. Inúmeros atos da sua vida que ela nem se lembrava mais são exprimidos. Eram tantas divagações, percepções inusitadas de uma vida que estava sendo acompanhada dia a dia de uma forma ostensiva. Todos os milésimos de segundos eram como décadas de uma passagem fugaz na terra onde todo o olhar, aperto de mão e fios de cabelo que ficavam em sua escova estavam sendo acompanhados. Sabiam muito mais dela do que ela mesma. Conheciam muito mais, pois eram capazes de avaliar as consequências de todos os seus atos através dos anos. 

Quando acabou o namoro com o seu primeiro namorado, este conheceu uma mulher para poder esquecer dela. Manteve relações sem preservativo, sendo acometido de doenças venéreas que o incapacitaram de gerar filhos.  Ela não tinha a intenção de ser má, mas, na maioria das vezes, a ação era deveras inoportuna. Certa vez, ao encontrar um saco com dinheiro, sentiu-se muito feliz, com muita sorte. Naquele momento, não percebeu que havia um homem desesperado procurando este saco com dinheiro, pois iria pagar a dívida que o filho fez com um traficante, que era viciado em crack, e era a sua última oportunidade de fazer o pagamento. O pai não encontrou o dinheiro, estava em débito com vários agiotas e não possuía mais nada para poder vender para salvar o seu único filho. Depois disto, restou aguardar desesperado, em frente ao poço sem fim da desesperança, o aviso que encontraram o seu filho morto cravejado de balas em um matagal próximo.

Roberta também foi reconhecida pelos seus feitos de bondade e resultados benéficos semeadas na humanidade. Constantemente, costumava atravessar a cidade onde morava para ir encontrar uma tia-avó que vivia em um asilo onde somente três anciãos recebiam visitas: a tia-avó da Roberta, e dois senhores que passaram a receber a atenção dos seus parentes quando Roberta divulgou em sua página virtual sobre o asilo e a situação de penúria que se encontravam estas pessoas. Roberta não conhecia esta tia-avó, nunca havia ouvido falar dela, mas, ao fazer um projeto para a sua empresa, teve que entrar no abrigo para idosos para solicitar alguns documentos e, após várias idas e vindas, cafés com bolacha e sabendo das inúmeras histórias que aquele local preservava, foi surpreendida com a notícia de uma parente esquecida por todos. A partir de então, a visitava frequentemente, conversava bastante, chorava e ria com a anciã, apesar da incapacidade desta de diálogo subtraído pela demência interposta há anos.

A decisão foi tomada de forma drástica – Roberta deveria ir para o inferno. Suas ações em vida a condenaram.

Roberta sentiu um frio na barriga. Sabia que era muito tempo para tanto suplício. Pediu a palavra para fazer alguns questionamentos. Os dois homens, após longa espera, aceitaram a ouvir. Roberta disse que sua vida sempre foi atormentada. Não tinha bom relacionamento com seus pais por que eles não a entendiam, era brigada com seus irmãos por que eles eram egocêntricos e nunca procuraram ajuda-la, todos os relacionamentos eram conturbados por que os homens são difíceis de conviver além de serem machistas. Em qualquer ambiente que estivesse sempre havia alguma pessoa que não gostava dela gerando fofocas, discussões. Ela sentia que era perseguida pelas pessoas. Ela não frequentava igrejas, pois acreditava que Deus estava consigo de qualquer modo e culpava o diabo devido o flagelo vivido em vida.

Os dois seres postos em sua frente entreolham-se sem esboçar sentimentos. As palavras dela ecoaram no nada. Uma das figuras, em um gesto de misericórdia derradeira, explica morosamente, os motivos do seu julgamento. O livre arbítrio concedido a ela foi indevidamente utilizado. Ela poderia ter feito o bem em todos os momentos da sua vida, mas por narcisismo preferiu agir para o benefício próprio sem se preocupar com as sequelas. Nos seus inúmeros relacionamentos e nos casamentos, não procurava manter um ambiente de tranquilidade, entender as limitações do próximo, buscar apoio em grupos de casais e, como consequência, o divórcio foi frequente. Sempre Roberta chorava muito, amargurada com as separações colocando culpa no diabo pela sua infelicidade. Ela estava prestes a noivar com o seu primeiro namorado, com reais planos para um casamento, mas quando soube que seu futuro noivo ficou desempregado, não conseguiu aceitar expor o seu relacionamento para a sociedade ao lado de um derrotado. Ela não respeitava os seus pais, não tinha prazer de visita-los e isto tinha reflexo na convivência o com seu filho que preferia ficar com o pai. Até o gesto de frequentar o asilo tinha objetivos outros que era de tentar angariar parte dos bens da sua tia-avó quando esta morresse.

Os passos largos para a terra da besta eram largos e angustiantes. Conseguia ver algumas pessoas na terra que estavam cometendo seus mesmos erros. Em uma atitude súbita, altruística, solicita a permissão de voltar para o convívio dos seus parentes para poder alertá-los das consequências deletérias dos seus atos nocivos, mas seus julgadores são precisos nas suas palavras. Afirmam que por diversas vezes, enviaram homens e mulheres para precaver a humanidade do resultado de uma vida libidinosa e evitar o lago de fogo e enxofre. Estes loucos ou profetas como eram chamados, foram torturados e mortos pelos indivíduos que eles desejavam salvar. A ida de Roberta seria desnecessária.

Ela inicia sua derradeira caminhada. O calor e a sede começam a tomar conta do seu semblante de ruína. Ela sabia que o inferno existia nas piadas, nas vozes esquecidas dos cristãos, mas não entendia a possibilidade da sua existência. O principal dor será o arrependimento. Muitas vezes sentiu remorso após um ato indevido, mas não o suficiente evitar de repetir o mesmo erro por diversas vezes posteriormente. Roberta errou, sofreu, gozou, viveu, morreu foi para o tormento eterno e, desta vez, o diabo não é o culpado, mas agradece o esforço dela para estar na sua companhia.

Fortaleza, 02.06.18

(atualizado em 02.06.18)

Isolou, e agora? Qual é o próximo passo?

                                                                             

Isolou, e agora? Qual é o próximo passo?

por Edmar Fernandes  

No enfrentamento de uma crise, como a pandemia da Covid-19, por exemplo, é necessário definir e seguir três fases para que haja o mínimo de perdas à população. A primeira fase é reconhecida pela identificação do problema, elaboração de planejamento para o enfrentamento, disponibilização de recursos para a execução do plano inicial e tem o objetivo de evitar mortes em curto (até um mês) e médio prazo (de 1 a 6 meses). A segunda fase caracteriza-se pela preparação para retomada das atividades sem causar prejuízo ao plano de enfrentamento inicial e tem objetivo de minimizar o sofrimento que a população tenha sofrido devido às medidas tomadas na primeira fase. Por fim, a última etapa é a volta da rotina da população, sem riscos de um retorno do problema posto.

A primeira fase está em andamento em todo o mundo. Foi amplamente divulgado para a população que medidas não farmacológicas seriam as únicas armas disponíveis para deter este vírus, como o distanciamento social, higienização das mãos e etiqueta respiratória. O isolamento horizontal, que é a exigência de todos os setores da sociedade permanecerem em casa, foi implantado na maioria dos Estados e dos Municípios para evitar o máximo de contato entre as pessoas e, assim, atrasar a disseminação do vírus.

Foi ampliado o número de enfermarias para isolamento, UTIs para os casos mais graves, hospitais de campanha para pacientes com suspeita ou confirmados com a Covid-19. Foi decretado Estado de Calamidade no Ceará e na maioria dos municípios cearenses. Para agilizar as ações do Poder Público, foi autorizado até a destinação de recursos para o controle da pandemia, sem licitações. O objetivo de evitar ou diminuir as mortes – ao máximo possível, em curto e médio prazos –, está sendo conseguido graças ao trabalho conjunto de todos; mas, e a segunda fase? Quem está discutindo ou se preparando para implantá-la?

É calculado, em uma perspectiva otimista, um acréscimo de 5% na taxa de desemprego no Brasil devido à implantação do isolamento social horizontal. Estima-se que, para cada 1% de acréscimo na taxa de desemprego, há um aumento da mortalidade de 0,78 para cada 100 mil habitantes. Portanto, se aumentar em 5%, haverá, aproximadamente, mais de 8 mil mortes por ano decorrentes da perda destes empregos formais. São mortes ocasionadas não pela ação direta do vírus na vida dos cidadãos, mas, sim, pela situação econômica destes.

Existem várias propostas para a execução da segunda fase. Algumas já em andamento em outros locais, menos no Ceará. O isolamento horizontal deve ser, gradativamente, mudado para isolamento vertical onde apenas o grupo de risco deva continuar em isolamento. Importante salientar que o processo deve decorrer de uma forma parcimoniosa para, caso haja súbito aumento de eventos adversos, que superem a capacidade dos leitos preparados para a doença na primeira fase, voltem às medidas restritivas de circulação.

Por fim, é necessário se debruçar sobre estes dados e entrar na próxima fase. Santa Catarina já permitiu a reabertura das lojas de rua desde o dia 13 de abril, respeitando algumas regras. Quando o Ceará e seus municípios passarão para a próxima fase? Quando o Governo Estadual e Prefeituras apresentarão um plano para a reabertura dos postos de trabalho e evitar o aumento da mortalidade devido o desemprego decorrente da quarentena imposta aos cidadãos cearenses?

 

Fortaleza, 23.04.20

 Texto publicado no site:    

https://www.sindicatodosmedicosdoceara.org.br/noticias/777-artigo-isolou-e-agora-qual-e-o-proximo-passo 

A Medicina amordaçada

 

A Medicina amordaçada   

por Edmar Fernandes                                                                     

Os últimos anos têm sido difíceis para a Categoria Médica no estado do Ceará. Inúmeros profissionais trabalhando na linha de frente durante a Pandemia sem receber gratificação, faltando Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e com equipes médicas reduzidas nos plantões sobrecarregando o trabalho destes profissionais. Quando se iniciaram a imunização contra a COVID-19, a maioria dos médicos foram impedidos de tomar a vacina porque o Governo do estado alegou que não era prioridade, mesmo após inúmeras tentativas do Sindicato dos Médicos do Ceará em reverter esta decisão. Como consequência, o número de óbitos dos profissionais médicos, é alarmante. Cerca de 25% das mortes por COVID-19 dentre os profissionais de saúde, são de Médicos e, apesar disso, o Governo do estado e a Secretaria do Estado do Ceará (SESA) negaram priorizar a categoria médica na vacinação ou valorizar o esforço dos Médicos nas emergências pagando a gratificação devida.

Depois de mais de uma década aguardando a implantação do Plano de Cargos, Carreiras e Salários (PCCS) dos servidores do estado, os Médicos servidores frustram-se após as atualizações dos valores, pois muitos Médicos não notaram acréscimo e o retroativo, tão aguardado, foi negado pelo Secretário de Saúde, mesmo após várias reuniões com os representantes dos Médicos e o Sindicato dos Médicos de Ceará, quando era tácito o indicativo de pagamento do retroativo. Vários Médicos têm sido barrados em diversas unidades de saúde como o Hospital Waldemar Alcântara (HWA) e Instituto Doutor José Frota (IJF) dentre outros, para poderem acompanhar seus pacientes ferindo o Código de Ética Médica (CEM). É notório o medo dos jovens médicos nas Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e nos diversos Postos de Saúde no estado em denunciar irregularidades como salários atrasados, assédio, constrangimento, falta de insumos para o atendimento da população de forma adequada, pois temem serem perseguidos e perderem os seus empregos.

O trabalho médico é de liderança e aperfeiçoamento do ambiente que o cerca. São notórias as críticas construtivas que emergem nos diversos serviços de saúde, público quanto no privado capitaneado pelos colegas Médicos com o objetivo de melhor atender a população e correção de injustiças que possam existir quanto aos direitos da categoria. Nos últimos meses, vários ofícios foram encaminhados ao CESAU solicitando detalhamento e justificativas de vários repasses e pagamentos efetuados pelo Governo do estado, pois existem suspeitas de irregularidades nestas transações. No meio de uma Pandemia com evidências de fraudes, é importante o esclarecimento de todos os gastos, principalmente, os sem licitação, pois significam vidas. Em vez de o Governo do estado se prontificar em acatar os questionamentos, explicar os gastos e transações e parar com os desvios de verbas injustificadas ou com indícios de corrupção, o Governador Camilo Santana (PT) assinou um decreto que retira a cadeira do representante Médico no Conselho Estadual de Saúde do Ceará (CESAU) de forma arbitrária e sem discussão com a classe médica.

O Sindicato dos Médicos do Ceará já solicitou reconsideração desta medida ao Governo do estado e esperamos que, desta vez, os Médicos do estado do Ceará não sejam punidos por exercerem sua cidadania dentro do nosso estado.

 

Fortaleza, 21.04.21


Estado Mínimo versus Pandemia – exemplo cearense

 

                                                                                       

Estado Mínimo versus Pandemia – exemplo cearense

por Edmar Fernandes

 

O debate do Estado Mínimo está acontecendo diuturnamente durante a Pandemia que assola o mundo desde 2020. Para evidenciar a minha afirmativa, preciso de uma breve explanação.

O Estado deveria interferir o mínimo, (daí Estado Mínimo) possível, nas ações de uma sociedade para que necessitasse de menos imposto e mais liberdade das pessoas físicas e jurídicas para o desenvolvimento de um país. Quanto mais empresas controladas pelo estado, as estatais, secretarias, comissões, ministérios, salários elevados de cabides de emprego como cargos comissionados, vereadores, deputados, senadores, mais gastos que o Estado tem e, como consequência, mais impostos. Desta forma, acredita-se que se o Estado não fosse tão pesado, ou seja, se não tivesse tantas responsabilidades que pesam no orçamento, poderiam ser cobrados impostos menores. Seria possível ter reduzido os impostos na Pandemia, para ajudar as pessoas e as empresas que não estavam conseguindo gerar renda, por exemplo.

No entanto, o Estado é utilizado para interferir em todos os aspectos na vida do pagador de impostos, (contribuinte) alegando que pode prover toda a assistência devida às pessoas como se soubesse o que cada indivíduo necessita. Sem contar, que cada governante tem seus devaneios com dinheiro público aumentando as despesas do Estado, cito alguns exemplos: no último Diário Oficial do Município de Fortaleza, Decreto nº 14.901, publicado na véspera do então, Ano-Novo 2020, o ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT) programou 204 assessores para ficarem à disposição do Prefeito Sarto (PDT) no Paço Municipal; a montanha de concreto inacabada na Praia de Iracema que seria um Aquário, custou mais de R$ 130 milhões aos cofres públicos graças ao então, governador, Cid Gomes (PDT); mais de 100 milhões de reais gastos em uma tenda temporária, ou hospital de campanha, armada no meio do Estádio Presidente Vargas(PV) que durou quatro meses em 2020 para receber alguns pacientes com a COVID-19. Com menos dinheiro foi construído o IJF 2 com, aproximadamente, 72 milhões de reais e a vantagem que sobrevirá mais de 100 leitos disponíveis, permanentemente, para os pacientes cearenses. Deve-se colocar na planilha de gastos do município de Fortaleza, para piorar, pelo menos, 2 milhões de reais para a reforma do PV. Ainda estamos aguardando uma CPI dos respiradores comprados pelo ex-prefeito Roberto Cláudio, que tem pretensões de ser candidato a governador em 2022, que não foram entregues e nem o dinheiro devolvido algo em torno de 17 milhões de reais.

Como o Estado pode dar conta de tantas responsabilidades? Aumentando ou criando impostos. Até a água é taxada, só falta estocar o vento(!). No Decreto 33.920 de 03 de fevereiro de 2021 do governo do estado do Ceará, Camilo Santana (PT) cobra o uso da água mesmo que seja da captação privada de açudes, lagoas e poços profundos em casa, condomínio, sítio, fazenda ou empresa. Além do mais, ainda é implantado uma correção da inflação da taxa do uso da água do período compreendido entre março de 2019 e agosto de 2020, resultando no percentual de 4,18%. O Ceará é o único estado do Nordeste a cobrar ICMS pelo “uso de fios” para quem produz sua própria energia através do sol. Outro exemplo: os servidores estaduais tiveram um prejuízo dos seus rendimentos quando o Governador Camilo Santana aumentou de 11 para 14% o desconto para a Previdência, porque o próprio governo não foi capaz de investir o dinheiro da categoria para sua aposentadoria e o Prefeito Sarto (PDT) caminha para altear, da mesma forma, a taxa de contribuição dos servidores municipais que não têm culpa do rombo previdenciário, mas é quem irá pagar a conta. Quando se cria um imposto, não há a preocupação de diminuir outro, apenas, aumenta toda a carga tributária.

A maioria dos pagadores de impostos espera receber do Estado tudo o que um ser humano precisa para viver: casa, limpeza das ruas, segurança, educação, emprego, lazer, saúde e espera que o prefeito ou governador, que ajudaram a eleger, tenham idoneidade e competência administrativa para executá-lo. Segundo pesquisas, a saúde sempre foi a principal preocupação do povo cearense e eles não estavam enganados. 90% dos cearenses necessitam do Sistema Único de Saúde (SUS) para serem atendidos durante a pandemia, mas, com péssimos gestores, o Ceará é um dos estados onde mais morreram pessoas por milhão de habitantes por causa da COVID-19.

O Estado está precisando abrir leitos de enfermaria e UTI, comprar respiradores, luvas, máscaras, medicamentos como nunca, contratar mais profissionais, pagar gratificação Covid para estes, mas os bilhões que foram gastos irresponsavelmente, esvaziaram o cofre. Solicitou ajuda do Governo Federal e recebeu bilhões destinados a salvar pessoas da Pandemia. A Procuradoria Geral da União (PGR) pediu informações, sobre como foi utilizado o dinheiro enviado da União e, até agora, o estado do Ceará não enviou os esclarecimentos devidos. Quer dizer, um estado pesado, mas pobre e precisando aumentar os impostos para cobrir os custos e pedir dinheiro, (algumas vezes ao BID-Banco Interamericano de Desenvolvimento com juros - em outro artigo discorrerei sobre estes empréstimos) mas se você acha que já está muito ruim, o pior está por vir.

Determinaram o isolamento social rígido, lockdown, para que tentassem evitar a propagação do vírus e para dar tempo de readequar o sistema de saúde precário do estado em 2020. Em meses, pré-pandemia, já existia uma fila de 150 pessoas em média, aguardando vaga para um leito de UTI no estado do Ceará. O sistema de saúde já estava colapsado com mais de 400 pessoas internadas nos corredores dos hospitais. Parou a economia. Nunca o estado do Ceará teve sua economia suspensa. Não poderia dar certo; e não deu. Até junho de 2020, 15 mil micros e pequenas empresas encerraram as suas atividades definitivamente. Milhares, arrimos de família, sem terem como suprir o sustento da casa com as mãos na cabeça. Esperava-se que o governo do estado fosse suspender ou, pelo menos, diminuir o valor da cobrança dos impostos como, ICMS, IPVA, ITCMD (os impostos estaduais representam 28% das arrecadações de todo o país). Da mesma forma, era aguardado que os impostos municipais, IPTU, ISS, ITBI fossem reduzidos ou cancelados, pelo menos, em 2020 na capital cearense, assim como nos demais 183 municípios cearenses. No entanto, nenhuma destas benesses foram ofertadas para a população desempregada ou para as empresas que começavam a fechar as suas portas.

Começaram a diminuir os casos de pacientes buscando as emergências por COVID no final de junho e começaram a sonhar em retomar as atividades econômicas. Rezava o bom senso que o governo do estado e as prefeituras mantivessem os leitos de enfermaria e UTI criados, equipes de saúde formadas, para melhor atender a população e se preparar para futuras crises de saúde como esta. No entanto, começaram a fechar os leitos, a segunda onda veio em 2021 com força total e a população descobriu, com amargor nos olhos, que o estado tinha fechado a maioria dos leitos, despedidos inúmeros profissionais de saúde e não tinha feito provisões para uma nova tribulação.

Dos 20 mil bares e restaurantes do Ceará, até janeiro de 2021, 8 mil tinham fechados as portas desde o início da Pandemia e em fevereiro já era esperado, com as medidas de encerramento do comércio, que o total de bares e restaurantes afetados chegasse a 50%, por volta de 10 mil. Nenhuma destas empresas receberam ajuda do governo. Mais cearenses desempregados vendo o governador receber seu salário em dia, mandando todos ficarem em casa sem um plano para ajudar o povo. Pior, começaria tudo de novo. Novo lockdown foi de novo o remédio amargo fornecido pelo Estado. Desta vez, ficou evidente: novo lockdown é sinônimo de má gestão da saúde pública e exemplo de evidência deletéria do Estado na vida das pessoas e empresas.

O melhor benefício financeiro que um governo pode oferecer aos cidadãos é a geração de empregos e, para isto, é necessário reduzir o papel do Estado que interfere em todos os aspectos da vida dos pagadores de impostos, tirando até sua liberdade de ir e vir e de se expressar, e que cobra altas taxas de encargos, mas não oferta serviços de qualidade. Os impostos e a burocracia precisam abrandar para que as empresas, principalmente, as micro e pequenas empresas, que são responsáveis por cerca de 60-80% dos empregos formais de todo o país, possam continuar funcionando e prosperando para poderem empregar milhares de brasileiros e ajudar na produtividade da nossa Nação. Em uma crise como esta, as pessoas precisam de trabalho para manter o sustento das suas famílias. O Estado pede para todos pararem de trabalhar, mas o mesmo Estado não para de pedir dinheiro através dos impostos. Não tem como dar certo!

Fortaleza, 14.04.21

(1)   (1)  https://www.poder360.com.br/coronavirus/pgr-pede-informacoes-a-todos-os-governadores-sobre-hospitais-de-campanha/

 

 

O banimento da Associação Médica Brasileira – AMB e um breve histórico da Medicina Brasileiras nos últimos anos

 

                                                                                         Fortaleza, 07.04.21

O banimento da Associação Médica Brasileira – AMB e um breve histórico da Medicina Brasileiras nos últimos anos

A minha intenção de escrever este texto é recordar aos médicos com mais de três anos de formação, e aos jovens médicos que não tiveram conhecimento dos anos difíceis compreendidos entre 2013 a 2018, em especial, conhecerem um pouco desta história atribulada que a classe médica, em nível nacional, vivenciou e como ela encontrou forças para se unir e lutar contra um inimigo comum que está se levantando dentro do mar do esquecimento: a esquerda liderada por partidos políticos como o Partido dos Trabalhadores (PT), Partido Comunista do Brasil (PC do B), Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e Partido Democrático Trabalhista (PDT) que agiram sobremaneira contra o REVALIDA, o ATO MÉDICO e, atualmente, contra a AUTONOMIA MÉDICA e tantos outros direitos e atribuições históricas da Classe Médica que foram massacradas por estes partidos quando no poder. Neste texto, vou citar e relacionar a perseguição que os Médicos sofreram depois da ascensão do PT e aliados comunistas ao poder e como a atuação desta última gestão 21-23 presidida pelo Dr. César Fernandes-SP, francamente alinhado com estes partidos esquerdistas, acima mencionados, envergonha a história da Entidade e mancha a profissão Médica perante a sociedade quando são expostos na mídia, posicionamentos execráveis da nova gestão que é contra a Autonomia Médica como se representasse os Médicos Brasileiros.

A AMB já viveu momentos de glória em defesa da categoria médica e do exercício de uma Medicina de qualidade para a população. Nas gestões presididas pelo Dr. Florentino e Dr. Lincoln, acompanhei momentos desagradáveis que a Medicina Brasileira sofreu e estes tiveram a coragem e discernimento para trabalhar em favor dos Médicos Brasileiros e, consequentemente, de uma saúde de qualidade para a nossa população. Estava à frente do Sindicato dos Médicos do Ceará e pude participar dos bastidores desta guerra vivida pelos Médicos, que assistiam sua profissão ser vilipendiada quando a esquerda estava no poder, sempre apoiando e agindo em prol da categoria.

Em 2013, o governo do PT implantou o Programa Mais Médicos (PMM) no Brasil, após uma série de atos contra o governo da Presidente Dilma (PT) como passeatas e protestos que tomavam contas das ruas das cidades brasileiras. Ele foi um dos grandes divisores de águas do apoio Médico ao governo, porque feria diretamente a atuação médica de qualidade para a população. Utilizaram de duas mentiras para justificar o projeto: levar Médicos aos locais de difícil acesso à saúde, à população, e afirmavam que tinham poucos Médicos no país para este intento. Por que as inverdades? Primeiro porque a maioria dos Médicos, e quaisquer outros profissionais, preferem os grandes centros urbanos pelas melhores condições de vida, possibilidade de crescimento profissional, centros de estudos mais avançados o que não é encontrado nos rincões. Para isto, seria necessário investimento em infraestrutura, contratos de trabalhos mais atraentes e seguros como a proposta da Carreira Médica de Estado que está engavetada por manobras dos deputados federais do PT como o ex-Ministro da Saúde da Presidente Dilma, Alexandre Padilha. A proposta de Emenda à Constituição para implantação da Carreira Única de Médico de Estado foi apresentada em 2009, pelo então, Deputado Federal Ronaldo Caiado (DEM/GO) e era vista pelos Médicos com uma solução exequível para a fixação dos profissionais nos locais de mais difícil acesso à saúde em vez de formulações populistas e ideológicas que prejudicam a qualidade do atendimento da população mais carente. A proposta fixa um piso salarial para o Médico de Estado em todo o país, que deve ingressar na carreira por meio de concurso público e atuar em regime de dedicação exclusiva. Sobre a segunda invencionice: o Brasil tinha uma razão em 2013 de dois Médicos para cada 1000 habitantes (1) como, Japão, México, Coreia do Sul, Canadá, o dobro da média ideal recomenda pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que sugere no mínimo um para cada mil (2), mas o grande golpe estava por vir.

Conseguiram disseminar a mentira da falta de Médicos e tinham uma carta na manga: abertura emergencial de emprego aos Médicos de todo o mundo para ajudar o povo brasileiro sem a revalidação do diploma que é um item obrigatório para qualquer profissão que exija qualificação profissional desenvolvida em centros universitários, de qualquer país do mundo incluindo o nosso. Com a aprovação na Câmara de Deputados e Senado, na época já afogados com os escândalos do mensalão (5) que garantiam a compra de votos do Executivo, somente apareceram nos aeroportos brasileiros intercambistas cubanos disfarçados de Médicos.

Nesta mesma ação, o governo Ptista decidiu abrir o número de faculdades de Medicina por todo o Brasil sem critérios. Vários bons colegas Médicos, foram formados nestas faculdades, mas esperava-se que fossem aperfeiçoadas as já existentes como as Universidades Federais e as Estaduais. O que se viu foi a utilização do Fundo do Financiamento Estudantil-FIES, que fora criado em 1976 com outro nome, para promover um maior aporte de pessoas com formação universitária sem o devido preparo do Ensino Básico e Fundamental. No entanto, as boas intensões foram travestidas de propagandas políticas de um governo que estava falido na tentativa de demonstrar para a população que eram capazes de aumentar, da noite para o dia, o número de Médicos em todo o Brasil a qualquer custo. O despreparo e as más intenções do governo do PT já tinham deixado seu lastro de destruição na Medicina Brasileira. O ônus fiscal do Fies em 2016 chegou a R$ 32 bilhões, valor 15 vezes superior de 2011(6).

Em 2011, criaram o Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica (PROVAB) com intenção de estimular a presença dos Médicos em locais de maior vulnerabilidade e extrema pobreza (7). Ao final de um ano de trabalho, o Médico receberia pontuação adicional de 10% em provas para ingresso em programas de residência que poderiam ser utilizados por até cinco anos (alguns candidatos podem usar até 2023). A partir de 2015, começaram a aparecer os problemas. Como havia cada vez mais médicos se formando, a busca por uma vaga através do PROVAB começou a aumentar e o número de vagas era limitado. Começaram a ter denúncias dos Médicos da falta de critérios para entrada no programa. Ora, alguns entravam na justiça através dos Sindicatos ou com advogados particulares para garantir o ingresso, ora, os que conseguiam as vagas queriam os diretos garantidos de usufruir do benefício. O número de vagas disponíveis caía, cada vez mais, e explodiu o número de queixas quanto ao sistema adotado do PROVAB. Os poucos Médicos que conseguiam a vaga através do Programa, já chegavam com a vantagem de 10% nas provas de residência. Os estudantes de Medicina e os Médicos recém-formados estavam muito preocupados com o seu futuro, mas as más notícias não paravam de aparecer.

Quando os intercambistas cubanos (sem o Revalida) chegaram e ocuparam as vagas que seriam destinadas aos Médicos brasileiros no PMM, principalmente, os recém-formados, muitos Médicos que estavam alheios a estes problemas, acordaram e perceberam que não teriam emprego se não lutassem pelos seus direitos. Gradativamente, os Médicos entendiam a necessidade de se unir às Entidades Médicas, aos deputados federais para não permitirem que os desmandos da Presidente Dilma continuassem a ferir a dignidade médica. Não foi possível contar com a maioria dos deputados federais que votaram a favor do PMM aceitando a vinda de intercambista sem a Revalidação Médica. Notem que toda abertura de novas frentes de trabalho para os Médicos Brasileiros e para os que fazem o Revalida (maioria são brasileiros também) são bem-vindos.

O PMM que a princípio serviria para alocar Médicos nos lugares ermos, foi amplamente utilizado pelos prefeitos de inúmeras cidades (senão, todas) para economizarem com os Médicos contratados da cidade (8). Desta forma, na maioria destas cidades, os Médicos que já atuavam na atenção básica, há anos, foram demitidos para serem contratados os novos profissionais pagos pelo Governo Federal e, também, os intercambistas cubanos que recebiam 30% do valor pago das bolsas e 70% era enviado à ditadura cubana. Estima-se que foram expatriados mais de cinco bilhões de reais para a ilha do Ditador Comunista Fidel Castro. Estes intercambistas viviam como escravos já que seguiam as leis cubanas em território brasileiro, não tinham livre trânsito no nosso país (por determinação do seu governo) além de ser confiscado boa parte do seu dinheiro como supracitado. Tantos absurdos, tantas injustiças com os cansados Médicos Brasileiros, mas ainda tem mais!

Tentaram ampliar o tempo da formação médica de seis para oito anos e, pasmem, os dois últimos anos seriam uma residência médica obrigatória do SUS (9). O PMM pretendia ampliar, repentinamente, o número de residências médicas sem a busca pela qualidade. O CFM e a AMB e toda a classe médica sabiam, já em 2013, que somente 50% dos egressos das faculdades de Medicina conseguiam uma vaga na residência, mas das 12 mil vagas que eram ofertadas na época, meramente, 9 mil vagas eram preenchidas o que demonstrava que a questão era a necessidade de valorização de algumas áreas. Era intento ampliar a oferta de vagas de todas as especialidades mesmo sem os critérios mínimos como estruturas adequadas, Médicos capacitados e disponíveis para serem preceptores de um número colossal de residentes que emergiriam. Todos sabem das dificuldades apresentadas nas residências médicas em todo o Brasil: bolsas com remunerações indignas, estruturas sucateadas, falta de insumos para a realização de cirurgias, exames e tratamentos, falta de preceptores para o acompanhamento dos residentes e a carga horária excessiva sobrecarregando os Médicos residentes. Até os internos de Medicina são prejudicados por estas dificuldades. Agora, imaginem se tivessem quadruplicado o número de vagas para a residência sem um preparo adequado que requereria anos. Obviamente, a maioria significativa das especialidades médicas se levantaram contra estas improbidades e conseguiram derrubar esta proposta. A persistência do governo em adotar tais medidas demonstrando improviso para gerir a Saúde Brasileira foram o estopim para passeatas, reuniões e a grande insatisfação da Classe Médica. No entanto, a insensibilidade do governo Ptista com a causa médica não se restringiu a estas medidas e conseguiu criar uma grande ferida na Dignidade Médica pior ainda.

A Medicina apesar de ser milenar, ela não era regulamentada até 2013 no Brasil. Em 2002, iniciou o processo de elaboração da Lei do Ato Médico. Foram 11 anos de tramitação, 27 audiências públicas e centenas de reuniões. O documento aprovado no Senado em 18/06/13 em nada mudava do texto aprovado na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) em 2006 com a participação de Entidades Médicas e de outras profissões, mas quando estava para ser sancionada pela então, Presidente Dilma, outras Entidades profissionais começaram a questionar o Ato Médico de forma traiçoeira. Estas outras categorias da saúde queriam dar diagnósticos de doenças que eram exclusividades dos Médicos.

O Ministro da Saúde, na época, Alexandre Padilha, Médico, fora consultado pela Senadora Lúcia Vânia por duas vezes: em dezembro de 2012 na CAS e no plenário do Senado em junho/2013 e não fez nenhuma oposição ou sugestão de modificação. O ministro foi negligente ou, pelo menos, omisso já que não se preocupou em entender o Projeto de Lei (PL) e deixar seguir a tramitação.

O comitê de Entidades Médicas que acompanhava este processo como a AMB, Conselho Federal de Medicina (CFM), Federação Nacional dos Médicos (FENAM), Associação Nacional dos Médicos Residentes (ANMR) observou que a Presidente utilizou três dias para avaliar e sancionar o projeto sem os Médicos serem ouvidos. Vários vetos da Presidente feriram todo um trabalho construído para a regulamentação devida do trabalho médico. Mais uma vez, os Médicos eram menosprezados, mesmo após tanta labuta e responsabilidade em tratar os seus pacientes ao longo de toda a sua história. Os vetos da Lei do Ato Médico aliado a importação de “Médicos” sem a revalidação dos diplomas deixavam claro que a Presidente Dilma Rousseff e o Ministro Alexandre Padilha (PT), pretendiam que os brasileiros enfermos, no SUS, fossem atendidos por qualquer pessoa sem a devida qualificação desprezando os Médicos Brasileiros. Restava que o Congresso Nacional derrubasse os vetos, o que não aconteceu apesar das caravanas de Médicos de todo o Brasil, principalmente, do Ceará, para pressionar os deputados federais e senadores. Infelizmente, a Medicina Brasileira não tem uma bancada política. Posteriormente, foi iniciada uma campanha para a criação de uma Frente Parlamentar da Medicina com o intuito de termos representantes políticos que defendessem a nossa causa. Os protestos ficavam cada vez mais calorosos e uma grande união foi estabelecida entre os Médicos e os estudantes de Medicina, que já participavam dos atos de repulsa, contra o Governo Federal. Foi uma grande traição sofrida pela classe médica, mas o Governo do PT e aliados ainda podiam piorar a nossa situação.

Em 2020, o mundo foi acometido por uma grave doença que ceifou a vida de muitas pessoas e de muitos colegas médicos: COVID-19 ocasionado pelo SARS-CoV-2. Estima-se que 25% dos contaminados com o Coronavírus são profissionais da saúde (13). Já em maio de 2020, 113 Médicos tinham falecido por esta causa desde o primeiro óbito registrado no dia 17 de março do mesmo ano, quase dois profissionais por dia (10). Em 8 de fevereiro de 2021, 624 Médicos falecidos era o que mostrava um memorial desenvolvido pelo CFM em homenagem aos colegas que padeceram até então (11). Nenhum antiviral conseguia curar ou amenizar os efeitos da doença. Começaram a discutir protocolos em todo o mundo para tentar controlar esta doença. Ensaios clínicos começavam a utilizar os mais diversos medicamentos já existentes para tentar conter a virulência. Uma das estratégias era testar drogas já aprovadas pela ANVISA e FDA, dos Estados Unidos, que já passaram por séries de testes rigorosos que justificassem utilizar as drogas em seres humanos. Um estudo francês apresentou alguns achados quando se utilizava a Hidroxicloroquina ou a Hidroxicloroquina associado à Azitromicina para o tratamento da COVID-19 (14). A partir daí diversos trabalhos em todo o mundo, utilizaram estas drogas para avaliar a sua eficácia. No Ceará, O Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM) desenvolveu uma proposta de protocolo para tratamento da COVID-19. As diretrizes foram enviadas, primeiramente, ao Sindicato dos Médicos do Ceará em 13.05.2020. Por sua vez, o Sindicato dos Médicos do Ceará encaminhou para a apreciação das autoridades competentes, como o Conselho Regional de Medicina do Ceará (CREMEC-CE), a Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (SESA), a Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza (SMS) e o Ministério da Saúde (MS). Neste estudo, assinado por grandes cientistas, Médicos e Infectologistas sugeria um protocolo com Hidroxicloroquina, Azitromicina, Ivermectina, Sulfato de Zinco e tecendo considerações sobre o uso Corticoides e Anticoagulantes em algumas fases da doença (15).

Muitos Médicos Brasileiros, adotaram a medicação nos primeiros dias dos sintomas da doença na tentativa de diminuir a progressão da doença para a forma grave já que não se dispunha de qualquer tratamento. Por outro lado, outros colegas Médicos não se sentiam à vontade de utilizar as mesmas medicações e, até hoje, não a prescrevem - isto é denominado Autonomia Médica e é defendido pela maioria esmagadora da Categoria Médica. Também é defendido pelos Médicos a Autonomia do paciente de decidir se irá ou não seguir a prescrição médica. Este posicionamento tem sido defendido pelo CFM de forma exemplar, cito algumas declarações da nossa Entidade Médica maior: “O ponto fundamental que embasa o posicionamento do CFM é o respeito absoluto à autonomia do Médico na ponta de tratar, como julgar mais conveniente, seu paciente; assim como a autonomia do paciente de querer ou não, ser tratado pela forma proposta pelo Médico assistente” e conclui com a seguinte afirmação em um artigo publicado no dia 27.01.21: “Deve ser lembrado que a autonomia do Médico e do paciente são garantias constitucionais, invioláveis, que não podem ser desrespeitadas no caso de doença sem tratamento farmacológico reconhecido - como é o caso da COVID-19 -, tendo respaldo na Declaração Universal dos Direitos do Homem, além do reconhecimento pelas competências legais do CFM, que permite o uso de medicações “off label” (fora da bula)” (16). No Parecer nº 4/2020 o de abril do ano passado o CFM já explicava que a Cloroquina e a Hidroxicloroquina poderiam ser usados com parcimônia, em caráter temporário, desde que não se apresentassem outros tratamentos mais eficazes respeitando a Autonomia Médica e na valorização da relação Médico-Paciente com o objetivo de oferecer ao doente o melhor tratamento médico disponível no momento, não cometendo infração ética o Médico que utilizar Cloroquina e Hidroxicloroquina nos termos referidos no parecer referido.

Por sua vez, a AMB, presidida pelo Dr. César Fernandes, divulgou uma nota na contramão da Medicina Brasileira, contra o posicionamento de várias Entidades, passando o constrangimento de ser desmentida publicamente (17). No dia 19.01.21 ela já utilizava palavras de cunho popular e pejorativo como “negacionista” referindo aos Médicos que estivessem a usar os medicamentos do chamado tratamento precoce e, ainda, sugerindo que os Médicos poderiam ser contra outras formas de prevenção como a vacinação. Neste momento, percebeu-se que o linguajar indevido que esta Entidade estava utilizando era o mesmo dos partidos políticos que fazem oposição sumária contra o Presidente da República como o PT, PSOL, PSDB, PC do B e PDT. O alinhamento da atual AMB com a esquerda fere toda a luta da Classe Médica nestes últimos anos colocando a política acima dos preceitos éticos.

Ainda não satisfeita, a AMB emite o boletim 02/21 em 23 de março de 2021 (18) que causou repulsa da Classe Médica e foi utilizada exaustivamente por mídias como O Globo e Jornal Nacional para atacar a Classe Médica, em especial, em dois quesitos, 7 e 8, que ferem a Autonomia Médica, segue os dois artigos: “7. Reafirmamos que, infelizmente, medicações como Hidroxicloroquina/Cloroquina, Ivermectina, Nitazoxanida, Azitromicina e Colchicina, entre outras drogas, não possuem eficácia científica comprovada de benefício no tratamento ou prevenção da COVID-19, quer seja na prevenção, na fase inicial ou nas fases avançadas desta doença, sendo que, portanto, a utilização destes fármacos deve ser banida; 8. Aos Médicos, reafirmamos que o uso de Corticoides e Anticoagulantes devem ser reservados, exclusivamente, para pacientes hospitalizados e que precisem de oxigênio suplementar, não devendo ser prescritos na COVID-19 leve, conforme diversas diretrizes científicas nacionais e internacionais. Aos pacientes com suspeita ou com COVID-19 confirmada, alertamos que não se automediquem, em especial, não utilizem Corticoides (Dexametasona, Prednisona e outros); estes fármacos utilizados fora do período correto, especialmente, no início dos sintomas, podem piorar a evolução da doença. Procure atendimento médico em uma Unidade Básica de Saúde dando preferência, se possível, à telemedicina, se apresentar sintomas leves, como dor de garganta, tosse, dor no corpo, náuseas, perda de apetite, perda do olfato ou paladar. Porém, se apresentar manifestações clínicas que podem representar COVID grave, respiração rápida (mais que 30 movimentos respiratórios por minuto), saturação de oxigênio menor que 94% ou febre persistente por 3 dias ou mais, procure uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) ou Serviço de Emergência”.

Imediatamente, diversas Entidades Médicas vieram a público para criticar e repudiar o boletim da AMB, principalmente, sobre o pedido de banimento de medicamentos relacionados ao tratamento precoce e o item que condena a prescrição de Corticoides e Anticoagulantes em casos leves da doença. A AMB que é formada por 27 Associações Federadas e 55 Sociedades de Especialidades, irresponsavelmente, inseriu o nome de todas as Instituições como se tivessem anuência do conteúdo do documento de todas elas. Abaixo, o posicionamento de algumas das Entidades contra o referido boletim:

A Associação Médica de Minas Gerais (AMMG) veio a público do CFM em defesa da Autonomia Médica (19).

A SBOT - Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia veio a público reafirmar seu apoio irrestrito às resoluções do Conselho Federal de Medicina que garantem ao médico o direito à prescrição (20).

A Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) e a Associação Médica de Brasília (AMBr) membros do CEM COVID_AMB não concorda com os itens 7 e 8 do boletim 02/2021 emitido pelo comitê.

A Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA) comunicou aos seus associados seu afastamento do Comitê Extraordinário de Monitoramento COVID-19 (CEM COVID_AMB) em “virtude da extemporaneidade de algumas proposições que conflitam como os princípios propostos da SBA”.

A Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-facial (ABORLCCF) pediu para retirar o apoio da Associação ao boletim.

A Associação Médica do Rio Grande do Norte (AMRN) referiu que não concordava com os itens 7 e 8 e pediu para retirar o apoio ao boletim.

A Associação Médica de Goiás - AMG pediu para retirar o apoio ao boletim e solicitou que ao proceder a divulgação do nome da Associação que fosse antes consultada.

ANADEM (Sociedade Brasileira de Direito Médico e Bioética) demonstrou apoio ao CFM e apoio irrestrito à Autonomia Médica contrária ao conteúdo do boletim.

A Associação Brasileira de Cirurgia Pediátrica (CIPE) discorda dos itens 7 por politizar a discussão sem necessidade e o item 8, também, polêmico. Explicou os bastidores da confecção do documento: “Quando o assunto ainda estava em debate, a nota original foi divulgada, sem as alterações sugeridas, junto à imprensa com a assinatura da CIPE e de outras sociedades de especialidade e federadas da AMB que não concordaram com o teor da nota (...). Logo em seguida, a AMB publicou em seu Site a nota oficial, com o mesmo conteúdo, apenas sem as assinaturas das Entidades que não aprovaram o documento, e das federadas, a única que aprovou foi a Associação Paulista de Medicina. O documento foi publicado no Site da AMB com 16 assinaturas, das quais duas eram da própria AMB, uma da APM e apenas 13 das sociedades de especialidade”.

A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) demonstrou insatisfação por não ter sido devidamente ouvida e pediu para retirar o apoio ao boletim.

A Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT) refere que nem chegou a ser consultada sobre o conteúdo do boletim. Cita o caso como um “posicionamento equivocado tomado por uma minoria que não representa o entendimento da maioria dos Médicos” (21).

Posteriormente, A AMB publicou uma nota em seu Site, porém, com assinatura de apenas 16 nomes, em vez de 80, inicialmente. No dia 25 março, em matéria do G1, explica o motivo de ter aconselhado o banimento das medicações mesmo após as manifestações de diversas Entidades Médicas e mente ao afirmar que “depois, os Médicos descobriram que a Hidroxicloroquina e os outros remédios não funcionavam” teriam parado de prescrever os medicamentos (22). No AMB na mídia, do dia 30 de março, divulgou como se fosse um mérito para a gestão da AMB, uma matéria do Fantástico que teria utilizado o boletim depreciativo 2/2021 para fazer uma matéria chamada “Influencers do Crime” em vez de denunciar colocando a população contra a Classe Médica (23).

As ações da gestão 21-23 da AMB presidida pelo Dr. César Fernandes constrangem a categoria médica. Uma série de ações nocivas à Dignidade Médica. Espero que o Presidente e a Diretoria da atual gestão evitem, a partir de agora, tomar decisões de cunho político prejudicando e desonrando todo o sacrifício e honradez da Classe Médica e passe a se pautar em ajudar a defender os mais de 500 mil Médicos Brasileiros em todas as suas instâncias ao lado do CFM, federadas, sociedades de especialidades e o Sindicato dos Médicos do Ceará.

Edmar Fernandes - Dermatologista

CRM 7577 RQE 5373

 

 

(1)     https://portal.cfm.org.br/noticias/explode-numero-de-medicos-no-brasil-mas-distorcoes-na-distribuicao-dos-profissionais-ainda-e-desafio-para-gestores/#:~:text=Hoje%2C%20o%20pa%C3%ADs%2C%20com%20seus,Unido(2%2C8).

 

(2)     https://www12.senado.leg.br/emdiscussao/edicoes/saude/realidade-brasileira/profissionais-concentrados-nas-regioes-mais-ricas#:~:text=De%20acordo%20com%20estudo%20do,m%C3%ADnimo%20um%20para%20cada%20mil.

 

 

(3)     Nota da AMB mantendo o posicionamento https://amb.org.br/noticias/nota-de-esclarecimento-sobre-o-boletim-02-2021-do-comite-extraordinario-de-monitoramento-covid-19-cem-covid_amb/

 

(4)     Boletim 23.03.21 https://amb.org.br/noticias/boletim-02-2021-comite-extraordinario-de-monitoramento-covid-19-cem-covid_amb/

 

(5)     https://istoe.com.br/161884_MENSALAO+ABALA+GOVERNO+E+CUPULA+DO+PT/

 

(6)     http://portal.mec.gov.br/component/tags/tag/rombo

 

(7)     http://www.blog.saude.gov.br/servicos/31906-entenda-como-funciona-o-provab

 

(8)     https://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/prefeituras-estao-demitindo-medicos-para-8230-contratar-os-do-mais-medicos/amp/

 

(9)     https://portal.cfm.org.br/images/PDF/contrarrazoesato%20medico.pdf

 

(10)  https://epoca.globo.com/tempo/noticia/2013/08/medicos-bcriticam-propostab-de-residencia-medica-no-sus-1.html

 

(11)  https://pebmed.com.br/covid-19-brasil-ultrapassa-a-marca-de-cem-medicos-mortos-por-conta-do-virus/

 

(12)  https://memorial.cfm.org.br/

 

(13)   

https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2021-03/covid-19-pesquisa-revela-impactos-em-95-dos-profissionais-de-saude

 

(14)   Gautret et al. (2020) Hydroxychloroquine and azithromycin as a treatment of COVID19: results of an openlabel nonrandomized clinical trial. International Journal of Antimicrobial Agents - In Press 17 March 2020 - DOI: 10.1016/j.ijantimicag.2020.105949  

 

(15)  https://www.sindicatodosmedicosdoceara.org.br/noticias/793-npdm-ufc-disponibiliza-para-medicos-sugestao-de-protocolo-para-tratamento-da-covid-19

 

(16)  https://portal.cfm.org.br/artigos/o-conselho-federal-de-medicina-e-a-covid-19/

 

(17)  https://amb.org.br/noticias/amb/nota-relevante-orientacao-da-associacao-medica-brasileira-e-da-sociedade-brasileira-de-infectologia-sobre-vacinacao-e-tratamento-farmacologico-preventivo/

 

(18)  https://amb.org.br/wp-content/uploads/2021/03/boletim-cem-covid-amb-02-2021.pdf

 

 

(19)  https://ammg.org.br/noticia/15710/

 

(20)   https://sbot.org.br/nota-de-esclarecimento-aos-associados-da-sbot/

(21)   

https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/entidades-medicas-desaprovam-nota-associacao-que-pede-banimento-do-tratamento-precoce-nota-associacao-banimento-tratamento-precoce/

 

(22)  https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2021/03/25/entenda-por-que-a-associacao-medica-brasileira-mudou-de-opiniao-e-agora-diz-que-o-kit-covid-deve-ser-banido.ghtml

 

(23)  https://amb.org.br/noticias/fantastico-globo-minuto-15013/