Aos 45:20 falo a respeito do RenovaBR, #coragemdeacreditar e a importância do debate político
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terça-feira, 16 de outubro de 2018
sábado, 1 de setembro de 2018
Código de Ética Médica - Capítulo VII
Relação entre médicos
É vedado ao médico:
Art. 48. Assumir emprego, cargo ou função para suceder médico demitido ou afastado em represália à atitude de defesa de movimentos legítimos da categoria ou da aplicação deste Código.
Art. 49. Assumir condutas contrárias a movimentos legítimos da categoria médica com a finalidade de obter vantagens.
Art. 56 - Utilizar-se de sua posição hierárquica para impedir que seus subordinados atuem dentro dos princípios éticos.
É vedado ao médico:
Art. 48. Assumir emprego, cargo ou função para suceder médico demitido ou afastado em represália à atitude de defesa de movimentos legítimos da categoria ou da aplicação deste Código.
Art. 49. Assumir condutas contrárias a movimentos legítimos da categoria médica com a finalidade de obter vantagens.
Art. 56 - Utilizar-se de sua posição hierárquica para impedir que seus subordinados atuem dentro dos princípios éticos.
Música Teu Chorar
Sem querer te procurar
vou querer mais me enganar
e muito mais eu vou chorar
Sem ti para voar
Refrão
Te feri, fui um infeliz
Te magoei, ai, como chorei
Tu, também, chorou e me
Cobrou todo o teu amor
Ninguém viu o teu chorar
Eu, também, como errei
Fui mesquinho com meu amor
E com a dor eu fiquei assim
Me redimi, olha para mim
Não despreza todo o calor
Só me beija, por favor,
E me recebe com teu prazer
14.04.98
vou querer mais me enganar
e muito mais eu vou chorar
Sem ti para voar
Refrão
Te feri, fui um infeliz
Te magoei, ai, como chorei
Tu, também, chorou e me
Cobrou todo o teu amor
Ninguém viu o teu chorar
Eu, também, como errei
Fui mesquinho com meu amor
E com a dor eu fiquei assim
Me redimi, olha para mim
Não despreza todo o calor
Só me beija, por favor,
E me recebe com teu prazer
14.04.98
Poema Tempo
Estou exausto
O segundo metamorfoseia em minuto e hora
E as minhas energias se esvaem tentando inibir
O delírio em presenciar o tempo que de mim sorri
Pelo menos, alguém se alegra, digo eu
Perco a concentração da forma
Que se transforma em abstrato
Minha convicção reage
Não encontro medidas para este desespero
Basta cerrar os olhos e viver
A mim desprezas? Vocifera o Tempo
Quero desculpar-me, vacilo, choro
Isto é a fraqueza do ser
É a mostra da volúpia dos desenganos
A forma mais poética do fracasso
Quando vejo partir as minhas alegrias
No encalço do tempo perdido
Ânsia, estresse vem buscar sua recompensa
Maldita criatura,
Respeito-te nas asas da rebeldia do justo
Desejo-te a inquisição nas linhas mais românticas
Para que, de joelhos, peça-me o fúnebre perdão.
30.03.98
sexta-feira, 3 de agosto de 2018
Artigo - Aumento da Mortalidade Infantil
Aumento da Mortalidade Infantil
por Edmar Fernandes
Mais um dado vergonhoso para a saúde pública brasileira, particularmente, a cearense. Registrado um aumento da taxa de mortalidade infantil que expressa as mortes das crianças que morrem antes de completar 1 ano de vida. Em 2016, houve aumento de 5% desta taxa, passando de 13,3 para 14 em cada 1000 nascidos vivos. O município de Aquiraz, no Ceará, representa bem o descaso da gestão pública da saúde no nosso estado: somente 36% dos 80000 moradores têm esgoto sanitário adequado enquanto que a média nacional é de 52%; o acesso à água potável é de 32% (média brasileira é de 97%); cobertura vacinal menor que 60% e associado à diminuição de leitos na cidade de oito para cinco, justificam Aquiraz ter o maior índice de mortalidade infantil do Brasil 24,9 para cada 1000 nascidos vivos.
A dificuldade ao acesso aos serviços hospitalares dificulta o diagnóstico e adequado tratamento das crianças contribuindo na mortalidade infantil. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) revela que, entre 2010 e 2016, o estado do Ceará diminuiu 665 leitos pediátricos, passando de 3292, em 2010, para 2627, em 2016, perda aproximada de 20%. Nos hospitais particulares a redução foi ainda maior chegando a 33% no mesmo período. Fortaleza fechou 441 leitos de internação pediátrica entre 2010 e 2016, representando uma diminuição de 35%.
Em muitas emergências voltadas para o atendimento das crianças não se encontra um pediatra que é o profissional adequado e preparado para atender esta parcela sensível da população.
Existem outros fatores externos que contribuem com a taxa de mortalidade, como a violência que tem aumentado nos últimos anos.
São inúmeras causas para justificar o aumento da mortalidade infantil. As soluções propostas são evidentes e podemos citar algumas. Investimento em saneamento básico diminui, significativamente, as doenças infectocontagiosas que são uma grande causa de morbimortalidade infantil. Treinamento dos gestores de saúde para priorizar a vacinação, contratação de pediatras para atender nas emergências pediátricas e a maior oferta de leitos pediátricos, incluindo de UTI, são medidas que trariam impacto em médio e longo prazos no devido controle e diminuição da mortalidade infantil no Ceará e no Brasil.
A dificuldade ao acesso aos serviços hospitalares dificulta o diagnóstico e adequado tratamento das crianças contribuindo na mortalidade infantil. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) revela que, entre 2010 e 2016, o estado do Ceará diminuiu 665 leitos pediátricos, passando de 3292, em 2010, para 2627, em 2016, perda aproximada de 20%. Nos hospitais particulares a redução foi ainda maior chegando a 33% no mesmo período. Fortaleza fechou 441 leitos de internação pediátrica entre 2010 e 2016, representando uma diminuição de 35%.
Em muitas emergências voltadas para o atendimento das crianças não se encontra um pediatra que é o profissional adequado e preparado para atender esta parcela sensível da população.
Existem outros fatores externos que contribuem com a taxa de mortalidade, como a violência que tem aumentado nos últimos anos.
São inúmeras causas para justificar o aumento da mortalidade infantil. As soluções propostas são evidentes e podemos citar algumas. Investimento em saneamento básico diminui, significativamente, as doenças infectocontagiosas que são uma grande causa de morbimortalidade infantil. Treinamento dos gestores de saúde para priorizar a vacinação, contratação de pediatras para atender nas emergências pediátricas e a maior oferta de leitos pediátricos, incluindo de UTI, são medidas que trariam impacto em médio e longo prazos no devido controle e diminuição da mortalidade infantil no Ceará e no Brasil.
terça-feira, 31 de julho de 2018
Poema Sueda
Bebi todo o âmbar dos teus seios
Revirei toda a língua inoportuna
Chamei de minha vigorosa nua
Bradei todo o meu amor
Avancei cercas nos teus campos
Debrucei-me em tua coxa com ardor
Derramei carinhos em ti
Valorizei cada pelo do teu corpo
Gritava quando ias partir
Blindava no teu retorno
E na cachoeira do teu pranto
Busca pertences meus
Encara-me agora com espanto
Adeus!
14.03.98
domingo, 29 de julho de 2018
Poema - Surrealismo
Esta soberba lucidez
Da terrível mansidão
Retrata o aroma da rês
Que pasta no campo solidão
Este teatro de bonecos
É da escória maldita
Que se exprime nos botecos
Infanticídio da loucura
Toda ela completa
Sem mais lacuna
Para a perfeição da imperfeição repleta
Desvio do ser idealíssimo
Conexão desplugada
Surrealismo
Natuba-PB, 19.10.99
segunda-feira, 23 de julho de 2018
Conto O Calor
Em um novo devaneio estético de um dos prédios que se
posiciona exatamente ao lado da sua agência, toda a frente está ornamentada com
lâminas de vidro espelhados que refletem, com todo o seu explendor, os fótons e
a energia térmica cósmica oriunda de uma estrela de quinta grandeza que ilumina
o nosso planeta não tão distante assim da gente: a luz emitida da fusão nuclear
ali presente leva parcos 8 segundos para colidir com o nossa tênue ectosfera.
Pois bem, este calor concentrado dirigido para a agência do Ribamar tem causado
inúmeras achados curiosos: peças de plástico que formavam as letras garrafais
exuberantes da agência estavam em um processo de derretimento franco após a
instação das lâminas espelhadas no outro prédio, muito calor mesmo. Os
aparelhos de ar condicionado estavam passando por um processo de revisões mais
constantes já que o calor interno da agência aumentou e para conseguir manter
30 graus! , ajustados no termostato,
estavam tendo que colocar os bofes para fora com o ventilador ao máximo.
Interessante o processo de adequação que o homem se habitua: antes do aumento súbito do calor pela
espelhada decoração do outro prédio, era comum a necessidade de desligar alguns
aparelhos de ar condicionado ou aumentar um pouco a temperatura, pois o frio
era intenso. Alguns clientes costumazes já vinham para o estabelecimento com
casacos comprados em alguma viagem para um lugar um pouco mais frio como o
Alaska. Já ocorrera de um cliente neófito que estava aguardando uma longa
jornada de cadastro para avaliação de empréstimo ter sofrido de hipotermia –
alguns confessam que o incidente acelerou a aprovação do empréstimo solicitado
pelo cliente que pedia uma fábula para abertura de uma merceria especializada
em carne de gia em Aquiraz, cidade conhecida por possuir a primeira casa do
estado do Ceará e que é conhecido o desgosto da população pela carne do dito
réptil.
Ribamar já não aguentava mais a
sudorese que afetava, principalmente, as suas axilas. Ficava marcado por mais
que tivesse tentado usar vários tipos de desodorantes para evitar o suor. No
ambiente de trabalho, tinha que manter a discrição e se mostrar higiênico: uma
agonia. Pensava que o próprio nervosismo levava a piorar a cachoeira axilar.
Cada vez mais, passava a usar camisas de cores escuras, pois evidenciava menos
o rio que surgia sob seus ombros. Começou a investigar sobre o assunto e
descobriu que tem pessoas que tem sudorese excessiva em outras regiões do
corpo: mãos suadas que podem borrar cartas ou documentos – motivo de demissão
do trabalho, - absurdo, pensou. Outros podem escorregar devido os pés que,
também, suam patologicamente. Começou a achar que o melhor é se contentar com o
seu suor e agradecer a Deus porque não fedia – esqueceu de perguntar para quem
trabalhava perto dele sobre o odor que beirava o enxofre. Acontece que com as
altas temperaturas dentro da agência, suas roupas estavam encharcadas e não
conseguia mais esconder este incomodo.
Quem vive em cidades quentes, ensolaradas, principalmente no
sertão, onde a maior parte do tempo o céu é azul, sem nuvens, acha lindo um céu
cinzento. Sensação de alegria coletiva quando se olha para cima e tudo está
nublado – possibilidade de chuva real e temperatura mais amena. O sol que
queima as frontes desnudas deste povo. mais concentrada em áreas próximas do
equador, dá uma trégua tênue e refrescante. De repente, um povo que se acostuma
a se proteger cada vez mais do sol cáustico usando roupas que cobrem todo o
corpo, bonés, protetores solares, diminuem os cuidados quando o sol desaparece
por detrás das nuvens e, mais uma vez, notam que o sol queima suas peles por
mais que encontre vapores de águas no seu caminho. Ribamar, na verdade, nem
gosta de usar protetor solar porque acha melequento e caro. Ele tinha vontade
de morar em um locar que fosse nublado e frio o tempo todo. Acreditava assim que
poderia diminuir o seu suor, não era uma idéia por demais tola. Enfim, entre
sonhos e soluções, tinha que encontrar uma cura para o mal que o afligia.
Tinha que procurar um especialista que o ajudasse, algum
médico, mas qual seria$ Às 2 horas da madrugada, chegou na emergência de uma
hospital que havia no seu bairro. Após uma demora de 1 hora, adentrou o
consultório médico:
- boa noite, adianta Ribamar para criar um vínculo com o
médico que se encontra já abatido de uma noite de muito trabalho na emegência.
- boa noite, responde o médico imaginando o que um senhor com
um aparente vigor físico estaria em uma emergência médica naquela hora
- Doutor, eu tenho um problema grave e gostaria de pedir uma
ajuda ao senhor, desabafa Ribamar. Tenho uma suadeira no meu suvaco mesmo,
cansei de falar axila, o nome é suvaco mesmo, o senhor me perdoe – confessa
Ribamar. Nosso protagonista relata todo o seu infortúnio da sua sudorese e
aguarda a solução do médico.
- Senhor Ribamar, excesso de suor não é motivo de vir para
emergência, pondera o médico. Subitamente, o doutor reflete um pouco e decide
pelo menos orientar o paciente para que o mesmo não fique sem solução para o
seu caso. O médico namorava outra médica que é dermatologista e já ouvira falar
que somente haviam 3 tipos de tratamentos: cremes que diminuiam o suor,
cirurgias que seccionavam o nervo que produz o estímulo do suor e a injeção de toxina
botulínica na área afetada. Orientou, portanto, o suado paciente a procurar uma
consulta com o dermatologista.
- Se o senhor não tiver plano de saúde ou pagar uma consulta
com um médico particular, o senhor deve solicitar um encaminhamento em um posto
de saúde – finalizava a consulta o médico com a sensação de dever cumprido.
Finalmente, após muitos percalços, Ribamar consegue ser
consultado por um dermatologista que atende na rede pública em um centro de
referência em dermatologia. Fica um pouco triste quando descobre que a loção
para diminuir o suor que o médico dermatologista tinha receitado não tinha
surtido o efeito que ele desejara. Volta para a consulta do especialista e se
depara com um dilema: se submeter a fazer uma cirurgia por um cirurgião para
seccionar um nervo que inerva a área da axila e abole a secreção de suor em
toda a área inervada pelo dito nervo e arcar com a possibilidade de ficar com
uma área anestesiada se afetar algum feixe nervoso ou aplicar uma substância, chamada
de toxina botulínica, em vários pontos sob pele, que diminui, temporariamente,
a produção de suor – método menos agressivo e caro, já que o serviço público
não considera a sudorese excessiva como doença e não disponibiliza este
fármaco.
Começou com a peregrinação de tentar encontrar alguma outra
forma de resolver o seu problema sem ter que passar por estas orientações
médicas já que o valor dos tratamentos era proibitivo para o seu parco
orçamento. Fez uso de vários chás, garrafadas, esfregou a casca de romã na pele
suada, até banha de bode capado foi usado como tratamento alternativo, todas
tentativas vãs. Até que um dia, recebe uma ligação do centro de dermatologia
referindo que havia iniciado uma pesquisa para o tratamento para sudorese com
laser e o dermatologista que houvera atendido ele lembrou do seu caso. Um
súbito contentamento tomou posse do seu ser e, entre choro e palavras
desconexas pelo nervosismo, aceitou comparecer na outra manhã para iniciar o
processo de tratamento proposto. Um sucesso. Logo nas primeiras aplicações, o
resultado já era evidente – não se formava suor na área axilar, totalmente
abolido. Ribamar nas consultas posteriores com seu médico dermatologista não
parava de explicar como a sua vida estava transformada, estava usando roupas
melhores, caprichando no visual, voltou até a estudar para concluir o segundo
grau pensando em iniciar uma faculdade. Isso era um alento para aquele
dermatologista cansado. Uma vida impactada pelo sucesso de um tratamento. No
meio de seus livros e teses acadêmicas, há um vasto espaço para os milagres nas
doenças, em boa parte dos casos, de difícil ou impossível tratamento. Não
totalmente satisfeito, procura os arquivos da pesquisa para compreender todo o
método empregado. Descobriu que foram utilizados dois grupos de pessoas, no
primeito era injetado uma nova fórmula de um derivado sintético da toxina
botulínica nas axilas de paciente com excesso de suor e em um outro grupo era
injetado apenas água destilada, isto é, sem efeito biológico nenhum. Pra sua
surpresa o Ribamar estava arrolado no grupo dos que receberam a injeção de água
destilada. Como seria possível$ Pensou em ligar para o Ribamar e contar este
achado e dividir consigo esta surpresa, mas ponderou e entendeu que este efeito
placebo não deveria ser mencionado. A fé no tratamento foi tão grande que seu
corpo acreditou na cura e se automodelou, um milagre. É quando o excesso de
otimismo da esperança cura o pessimismo da evidência!
Conto A Idade Avançada da Nivia
Sobre a idade avançada de
alguns, por atroz ingratidão, negam suas sutis rugas e os cabelos brancos
usando subterfúgios comerciais como tinturas mais escuras para os frâneros que
protegem o couro cabeludo ou o veneno dourado do botulismo, agora, reescrita
como toxina botulínica – beleza líquida – que remodelam as fácies de um ancião
ou anciã ou mesmo de mais jovens obscurecidos pela dádiva da beleza infinita.
Por becos escuros e soturnos da vergonha, vai dissimulando a idade, negando,
até, o conhecimento da sua data de nascimento, sempre uma incógnita talvez por
medo de se encontrar como refere Kleber Novartes, “A velhice dá certo medo. O
medo de eu olhar pra trás, e descobrir quem eu realmente fui a vida inteira”.
Parece que o Barão de
Itararé descrevera Nivia há muitos anos atrás, “as mulheres de certa idade
nunca são de idade certa”. Por diversos relacionamentos, nada se sabia sobre a
sua verdadeira idade, um tabu. Tinha costume de ver fotos de amigos, conhecidos
e familiares quando eram mais novos para poder comparar com a imagem atual,
tentando assim, criar uma perspectiva abstrata do que poderia estar acontecendo
consigo, já que, não conseguia parar de negar que, também, estava envelhecendo.
Vários namoros foram desmanchados por esta busca incensante de adivinhar a sua
idade. O constrangimento causado já virara piada entre os conhecedores da
crença limitante de Nivia. Amigos lhe sobraram quando aprenderam a evitar este
molvediço assunto. Por mais que tentassem subvalorizar a sua idade, mais ela
supervalorizava criando um tabu de proporções gigantescas. Júlio Dantas
explicava que “a velhice é um simples
preconceito aritmético, e todos nós seríamos mais jovens se não tivéssemos o
péssimo hábito de contar os anos que vivemos”, mas a fragmentação do tempo em
anos, dias, horas para ajudar na organização de tarefas no mundo virou um
tormento de escala avassaladora para na autoestima da Nivia.
Velhice – por muito tempo,
Nivia ouvira falar diversos enfoques a respeito deste assunto, “a idade é algo
que não tem importância, a não ser que você seja um queijo” segundo Edmund
Burke. Mais uma vez a comparação de uma vida rica de ensinamentos,
aperfeiçoamentos como afirmava Marco Túlio Cícero, “os homens são como vinhos:
a idade azeda os maus e apura os bons” com massas amorfas como um queijo é
necessário para poder chocar os mais incautos sobre a beleza do viver. A cada
fração de tempo vivida, há um acúmulo de informações captadas pelos nossos
diversos sentidos que irão se fundir e determinar as mais diversas ações. Uma
canção que fora lançada em épocas juvenis da nossa protagonista, quando ouvida
em dias recentes, desperta uma sensação de melancolia, saudades de uma época
que, aparentemente, era mais feliz. Esta capacidade de esquecer a maioria das
angústias vividas outrora como quando repetira de ano na quinta série,
tentativas frustadas de passar no vestibular são trocadas pelos requícios das
passageiras alegrias dos encontros com seus amigos, viagens com a família.
Alguns amigos elaboravam meios de tentar ajudar a Nivia de encontrar paz neste
mundo indicando psicólogos, longas conversas em cafés, viagens para buscar um
equilíbrio em seu ser, mas, cada vez mais, o tempo em sua tez era marcante. Certa
vez, mostraram para ela um copo de vidro transparante com um suco,
aparentemente, de laranja e perguntaram-na como ela o descrevia, após alguns
segundos, ela referiu que não gostava dessas brincadeiras de criança quando um
dos interrogadores desejando incentivá-la, perguntou: -“ Nivia, tu achas que
este copo está meio cheio ou meio vazio$, longa espera. Seus olhos foram se
avermelhando e uma súbita comoção preencheu o recinto quando suas lágrimas
afogaram todas as esperanças dos participantes daquela reunião de amigos. Nivia
já não suportava mais as indagações sobre sua idade ou tentativas de fazê-la
socializar. Ela se afastou de vez dos últimos contatos. Raramente, era vista
nas calçadas ou trabalho. Fora demitida sem ao menos saber do ocorrido. Alguns
pensamentos começavam a se repetir automaticamente como as batidas do seu coração
cada vez mais débil. Após seis meses da indagação sobre o copo, lembrou que
poderia ter respondido pela metade – de certa forma, seria uma forma sábia de sair
daquela situação constrangedora, mas ela não acreditava nesta saída. Na
verdade, deste o primeiro momento, ela gostaria de extravasar a sua
consternação em seguir parâmetros definidos da sociedade que a cercava: que
roupa irá usar na festa de formatura$ o que vai almoçar$ quantos filhos quer
ter$ e a mais cruel – qual a sua idade$! Bastaria responder a uma simples
questão.
De repente, em meio às
diversas explicações psicológicas, sociológicas e até metafísicas, Nivia sente
o peso de uma vida amargurada em fuga de uma aterrorizante verdade equitativa
para todos os seres: o tempo não para. Ela estava lembrando das diversas
histórias que ouvira do seu irmão sobre deuses mitológicos e não poderia deixar
de reviver os momentos de sofrimento quando rememorava o trabalho ininterrupto
de Sísifo carregando aquela pedra de mármore enorme montanha acima. Seu irmão
contava que todos tinham sua pedra de mármore para carregar, a decisão era diminuir
a pedra ou fazê-la desaparecer: livre arbítrio. Nivia, por fim, decide se
livrar desta fatídica lide de se envergonhar da sua idade. Reveste-se de uma
coragem inatingível e ensaia os primeiros passos de como lhe dar com a sua
fobia. Começa a ligar para os diversos conhecidos, amigos que ainda lhe restam
e mesmo os que há anos não tinha mais contato e familiares que chegaram a
questionar a sua cognição e juízo. Ela tinha que ferir de morte o seu maior
pesadelo. Ela tinha que vê-lo sangrar até que a última fagulha de existência se
esvaia daquele corpo amorfo pútrido que a acompanhava em um mundo de dor,
solidão e vergonha.
Todos reunidos em uma grande
sala, ouvem pasmados, uma mulher se esvair em lágrimas e descrever todo o seu
infortúnio por viver uma vida tão infeliz e angustiante. Em um brado de pavor e
fúria, solicita com seus plenos pulmões que a indaguem qual é a sua idade e
todos ainda sem entender, começam a perguntá-la em uma consonância de liberdade
e vitória. Ao longo de silenciosos minutos em que pode se ouvir uma platéia
ofegante e esperançosa e soluços esparsos da protagonista, esta balbucia sons
entremeados que começam a ficar repetidos e mais claros a medida que vai
inclinando a sua cabeça para cima e já rouca de tando gritar, percebe-se o que
diz: eu tenho 30 anos!!!
Finalizado em 22.03.17
Faz parte da antologia sobrames
À flor da pele - 2017
Texto lido na posse do Sindicato dos Médicos do Ceará - gestão 2018-2020
Antes de tudo, agradecer a Deus pela oportunidade de
estar presente nesta posse cercado de amigos e familiares.
Boa noite
Agradeço a presença de todos
Senhores e senhoras,
É com grande honra que presidirei o Sindicato dos Médicos
do Estado do Ceará nesta nova gestão. Sinto-me preparado para assumir este
compromisso, pois tive a oportunidade de conviver,nestes 3 últimos, anos com
profissionais capacitados que se transformaram em verdadeiros amigos e conselheiros.
A Dra.Mayra Pinheiro e todos os diretores da gestão que agora finda, foram
exemplos de compromisso com a categoria médica. O legado que a administração
presidida pela Dra.Mayra Pinheiro deixou será exemplo para as futuras gestões do
sindicato e para outras entidades médicas. Nos aproximamos de outros
sindicatos... que serviram de exemplo para a nossa gestão.
Tenho a oportunidade de fazer parte de um seleto grupo de
grandes profissionais que assumiram o compromisso de defender a categoria médica
nos próximos 3 anos. Dos 22 membros, 4 são da gestão anterior significando um
compromisso de renovação e estímulo para a formação de novas lideranças
médicas.
Precisamos manter a qualidade implantada pela gestão da
Dra.Mayra Pinheiro: defesa da saúde pública e privada com responsabilidade e
justiça; acolher o médico e procurar apoiá-lo de forma personalizada e
eficiente; avaliar cada denúncia e propor soluções com o objetivo de ajudar a
difícil tarefa de gerenciar a pasta da saúde.
Dentre outras ações devemos priorizar:
I - Incrementar nossa participação nos 184 municípios do
estado de Ceará. O médico deve-se sentir protegido pelo Sindicato dos Médicos
do Ceará 24 horas por dia.
II – apoiar o jovem médico, incluindo o residente, em um
campo de trabalho cada vez mais restrito. Cabe, também, lembrar do Sindicato
Estudantil que tem se revelado promissor por aproximar mais o estudante do seu
futuro ambiente de trabalho.
III – Fazemos parte da Comissão Estadual de Honorários Médicos.
Iremos trabalhar por melhores reajustes junto aos planos de saúde. Neste ano,
já convocamos todas as especialidades para uma assembléia para poder
representá-los nas negociações. Já foram solicitadas reuniões com todos os
planos de saúde.
Por fim, desejamos honrar o compromisso que nos foi
confiado. Desta forma, convoco todos os médicos do estado de Ceará para
trabalharmos, unidos, por uma medicina digna para médicos e pacientes.
Desejo lembrar aos médicos a importância de se associar
ao Sindicato dos Médicos.
Presidente Edmar Fernandes de Araujo Filho
Conto Os Caminhos do Ceará
Esta história começa no final dos anos 50, quando o Ceará
era um estado com, aproximadamente, 2 700 000 habitantes que viviam as
aventuras e desventuras de um povo amável, trabalhador e resiliente em uma
terra árida, com 99% do seu território em pleno sertão. Ao final da tarde, o
terceiro filho do seu Júlio, com oito anos de idade, ia tangendo jumentos para
transportar mangas que foram colhidas nos dias anteriores para o mercado São
Sebastião, no centro de Fortaleza, distante 40Km, a pé. Acordava empolgado
porque, como era o único que ajudava nas despesas da casa, recebia um alimento
mais reforçado, mas, na maioria das vezes, somente, havia para beber uma meia
xícara de café para suportar a jornada. Ele morava em uma região afastada do centro
de Aquiraz, Sítio do Marquês, divisa do distrito, que, posteriormente, iria se
emancipar em 1987, Eusébio.
A família do seu Júlio gostava de contar as histórias dos
seus antepassados e valorizar seu solo. Com muito orgulho, referem que a
primeira casa do Ceará que fica por trás da Igreja da Sé, ainda, pertence a
família no centro de Aquiraz. Os aquirazenses têm orgulho de narrar a história
de sua bela Aquiraz que no começo foi criada como vila em 1699 e, a partir de
1713, tornou-se a capital da então capitania do Siará Grande até o ano de 1726,
quando a capital foi transferida para Fortaleza.
O trabalho era exaustivo, mas o único recurso que havia
na época nesta pobre região para conseguir algum sustento. Era mês de novembro,
época das mangas, quando era possível presenciar a formação de um tapete rosa
amarelo de mangas que repousavam no chão aos montes. Era necessário recolher as
frutas de melhor qualidade para encher os caçuás dos dez jumentos que
percorreriam todo o percurso acompanhado de dois homens que faziam a negociação
com os vendedores que aguardavam a mercadoria. Cada caçuá tinha a capacidade de
levar cem mangas e cada jumento levava dois caçuás pendurados nas cangalhas.
Eram duas mil mangas para serem transportadas de cada vez. Saíam ao final da
tarde, quando o sol estava mais ameno e percorreriam uma longa jornada até
chegar na única parada do caminho onde hoje se situa o viaduto da Raul Barbosa
que atravessa a BR-116 para tomar uma xícara de café com meio pão d’água,
aproximadamente, às 4h ; era um momento de grande alegria devido a fartura de
comida para aquele faminto e esguio garoto.
Após um breve descanso, continuam a jornada até o Mercado
Central que fica situado próximo à atual Avenida da Bezerra de Menezes, na
época coberta por calçamento. O filho do seu Vicente aguardava a venda de todas
as frutas que durava até às 6h da manhã quando voltava para casa com previsão
de chegada para às 15h. Quando não era época de manga, também, fazia transporte
de maxixe ou feijão-verde, dependendo da colheita. Cada viagem rendia o
equivalente a meio litro de feijão e de farinha, cem gramas de café e de
açúcar.
Os filhos do seu Júlio, diariamente, procuravam outras
formas para se alimentar como caçar preás e cassacos, pescar no Rio Pacoti,
pegar caranguejo ou, pelo menos, aratus para fazer um caldo quando a pescaria
não era suficiente para a família. Costumeiramente, contam um episódio de forma
jocosa quando ao retornar de uma pescaria malsucedida, encontraram um cacho de
bananas e ficaram extasiados. Como estavam muito famintos, comeram algumas
bananas que, ainda, estavam verdes com casca para poder aproveitar ao máximo a
refeição e não desperdiçar nada. Após ficarem satisfeitos, notaram que o
restante das bananas estavam maduras, mas não conseguiam mais comer, pois todos
estavam saciados de tanto comer banana verde com casca.
·
Agosto, é uma época de festa na cidade de Várzea Alegre,
distante 92 km de Juazeiro do Norte, na região do Cariri, que se destaca pela
produção de arroz há décadas, quando é celebrado, há mais de 162 anos, o
padroeiro da cidade, São Raimundo Nonato. As filhas do seu Vicente adoravam
estes tempos festivos. Esqueciam o luto vivido pela família quando o pai,
envolvido com alcoolismo e jogos, perdeu todas as posses das terras que lhe restava.
Em um chão seco e sem vida, a posse de um terreno, significava um ativo que
poderia ser vendido, mesmo que a preços vis, em uma grande estiagem, que era
comum de acontecer no centro do único estado do Brasil, totalmente, inserido no
sertão nordestino. As filhas do seu Vicente começaram a sonhar em fugir para
uma terra sonhada, banhado pelo mar, dunas brancas e rico de possibilidades
chamada Fortaleza.
Moldada pela astúcia dos antepassados dos
varzealegrenses, uma das filhas do seu Vicente busca o sustento negociando todo
e qualquer objeto que pudesse despertar interesse nas pessoas. Desenvolveu um
espírito fraterno e amigo que buscava a amizade para conseguir vender seus
produtos e formar uma carta de clientes fiéis.
O medo do fracasso e da miséria assolavam seus
pensamentos. A dor da privação, da fome, eram cicatrizes que ardiam em suas
têmporas. Não suportaria apresentar este mundo para seus futuros filhos. Sim,
sonhava ter uma família, crianças robustas, bem alimentadas, coradas,
estudiosas para poder passar em uma faculdade e se formar, era um projeto de
longo prazo. Estudar em um colégio que garantisse a qualidade de estudos era
fundamental. Se dispunha a ser faxineira de um grande colégio particular para
poder acompanhar o desenvolvimento intelectual dos seus filhos. Acordava cedo,
sem sono, disposta e, depois de um preenchido dia de trabalho de boas ou más
vendas, além do emprego de secretária de uma escola primária, dormia entremeada
pelos capítulos das novelas que era o seu único passatempo. Nunca sabia do
desfecho das telenovelas, já que, não conseguia permanecer desperta para
assistir a todas as cenas, um inconstante despertar e adormecer durante a
programação devido o dia laborioso e a própria virtude de conseguir iniciar o
sono logo ao deitar.
·
O filho do seu Júlio conheceu e se apaixonou pela filha
do seu Vicente na ensolarada capital do Ceará. Nos primeiros anos, se
deleitavam nas suas inúmeras praias de águas quentes, algumas vezes traiçoeiras
como as ondas da beira-mar que quase afogaram o filho do seu Júlio quando este,
desejando mostrar sua masculinidade e virilidade, ousou desafiar a força
incomensurável do Oceano Atlântico que banha o norte do estado,
particularmente, da Praia do Náutico, em um dos espigões que já existiam na
década de 80 para tentar evitar o avanço do mar nos belos calçadões dos
arredores da Volta da Jurema.
Havia alegrias da família constituída, mas as decepções
não programadas de um relacionamento temperavam suas convivências. Todas as
experiências e exemplos vividos ao longo dos seus anos estavam em conflito no
matrimônio. O nascimento dos filhos, permitiu a formação de um vínculo forte,
afetivo e um propósito além das suas necessidades circunstanciais. Ao mesmo
tempo, era possível galgar conquistas financeiras discretas, mas constantes,
como a aquisição da primeira casa própria. Neste momento, todo o passado de
carência financeira se extinguia e começavam a viver em um mundo que seria
impossível há alguns anos.
A história deste casal refletida se assemelhava ao deste
bonito e sofrido estado do Ceará. Períodos de chuva e sol, terra seca marrom
com ar seco que arde nas narinas em contraste com um mato molhado em período de
inverno de agradável aroma. Céu azul sem nuvens que fazem a festas dos turistas
nas aprazíveis Praias de Jericoacoara, Pecém, Cumbuco, Beberibe e do tempo
nublado que traz esperança e alegria para os agricultores que assistem o
renascer dos rios como o Jaguaribe e açudes como o de Quixadá, aos pés da
Galinha Choca, e do magnífico Orós.
Os filhos do casal assistiram inocentes o choque de
mundos tão diversos e egocêntricos que se confrontavam. A ruptura deste seio
familiar foi o debut destas crianças
que iriam percorrer não as mesmas estradas dos seus pais, mas um caminho de
dificuldades que seriam transpassadas pela fé inerente ao povo cearense.
Faz parte da antologia da Sobrames nacional 2018
Conto A Metitocracia e a Fábula
Passo mais tempo no meu trabalho
do que em minha casa, então, o meu lar é o meu trabalho! Estranho notar que
após trabalhar,ininterruptamente, por anos a fio, percebo-me mais ligado afetivamente
ao meu trabalho do que minha casa. Preciso diferenciar bem estes termos já que
a conversa gira em torno disto.
Importante diferenciar o trabalho
e o emprego. O trabalho existe desde os primórdios quando o homem começou a
mudar o meio ambiente em benefício próprio. Algumas vezes, o termo trabalho é
utilizado para designar o local em que o indivíduo exerce o seu emprego como o
supermercado é o local de trabalho do funcionário que trabalha como caixa da
empresa. O emprego, via de regra, é o tempo gasto pelo trabalhador em troca de
uma remuneração. Desta forma ele vende parte do tempo da sua vida, seu esforço físico ou cognitivo em troca de outros
valores estipulados como dinheiro, bens duráveis como uma casa ou mesmo um trabalho
de outra pessoa, que possa estar necessitando, como um médico ou uma faxineira.
O termo emprego foi sendo elaborado, juntamente, com o desenvolvimento da
revolução industrial que tomou conta de países europeus, inicialmente, Inglaterra, a partir, aproximadamente, de
1760. O dinheiro entrou no meio destas relações para facilitar este processo.
Sobre casa, não me refiro somente
a construção que lembra quatro paredes com uma porta e uma janelhinha ao lado
com vários cômodos entremeados em seu espaço interno. Meu interesse é citar a
definição de lar, local onde posso morar sozinho, dividindo despesas com amigos
ou com uma família, onde tenho um guardaroupa com minhas vestimentas ou a cama
que costuma repousar.
Bem, voltando ao início, ouso me questionar
o que é meu lar ou meu trabalho. Sinto esta necessidade de definir isto, pois
pode me trazer profunda calma ou atroz angústia as concepções diferentes que
podem preencher estes dois temas. Desde pequeno, ora ouço falar que o trabalho
dignifica o homem, ou que o trabalho é uma benção de Deus para as nossas vidas
como é citado no livro de Lucas capítulo 10 versículo 7 “...pois o trabalhador
merece o seu salário”, ou mesmo citações de grandes pensadores como Voltaire,
“o trabalho afasta de nós três grandes males: o tédio, o vício e a necessidade”;
ora ouço inúmeros males provocados pelo rítmo frenético que reveste o ato de
labutar: Burnout, esgotamento físico,
estresse são consequências citadas frequentemente. Assédio do patrão ou colegas
de trabalho, desconto do salário devido atrasos no ponto ou férias não
concedidas somam-se a inúmeras relações negativas que são citadas
rotineiramente pelos bilhões de empregados que existem no mundo. Em gênesis
3-19 “com o suor do teu rosto você comerá o seu pão”, isto é, o que era uma
alegria, após o pecado, tranformou-se em fadiga. Criou-se portanto uma relação
conflituosa entre orgulho e sofrimento no ambiente de trabalho dos terráqueos.
Por inúmeras vezes, detenho-me
com indagações indeléveis como: quando o trabalho passou a ser necessário$
Imagino várias formas de homens primatas, não necessariamente macacos, homens
sem vestígios de saberes tecnológicos que possam ser evidenciados nas suas
vestimentas, acomodações, ferramentas, enfim, sendo acometidos por necessidades
várias, por exemplo, talvez um alimento desejado que ele não possua ou tenha
dificuldade em obtê-lo e desenvolve uma atividade que possa satisfazer o
possuidor de tal iguaria a se sentir tentado a fazer uma troca justa entre
ambos. Formas primárias de comércio entre os homens em que era estipulado o
escambo, isto é, troca de mercadorias entre as pessoas. Se eu fosse um
pescador, passava horas, dias no mar ou rios em busca de peixes que pudessem
ser interessantes para alguém que possuísse algo de interesse para mim para
permutar; uma troca simples. Pronto,
nascia o escambo. De certa forma, havia um prazer intrínseco nesta ação já que
o ganho final era evidente, imediato e, muitas vezes, poderia custar a sua
sobrevivência. Talvez, alguns homens conseguissem carnes através da pesca ou caça,
mas outros, por motivos como doença, sequelas de traumas ou mesmo medo de
enfrentar outros animais, preferissem ir atrás de frutas, verduras espalhadas
nas florestas e matas para poder fazer um banquete onde todos dividiriam o alimento
ou haveria uma troca baseado no esforço que cada uma havia despreendido para
conseguir o dito alimento.
O trabalho enobrece ou é um
fardo$ É intrigante imaginar em qual momento começou-se a relacionar o trabalho
com sofrimento. Talvez, este conceito perpetrou-se através das civilizações que
adotaram a escravidão, servidão, principalmente, após as guerras quando os
derrotados teriam que trabalhar de graça para o seu “dono”. Difícil imaginar em
qual grupo de homens de qualquer continente nestes 10 000 anos aproximados da
presença humana na terra tenha desenvolvido o trabalho como uma ação inerente e
consequente a sua vida de tal forma que não há prazer nem sensação de
exploração: um simples ato de viver em harmonia consigo e criando relações com
a sociedade presente já que os seus atos são entendidos como parte de um
processo de que pertence ao seu meio.
Imaginando essas linhas do tempo,
diversos modelos de figuras humanas entremeadas por suas paisagens típicas,
suas vestimentas peculiares em seus afazeres mundanos e necessários me sobrevem
a notícia incolúme da preguiça, a adinamia patológica, o contrafluxo do
progresso. Nunca ouvi debate semelhante desta pretensa fagulha que gerou
diversos estorvos no processo de gerar bens, riquezas, desenvolvimento ao longo
da história: por algum motivo ou questinamento, a preguiça, considerada um
pecado capital, enche de furor diversos seguimentos populacionais e o embate
contra o natural processo do trabalho nasce. De repente, o processo milenar,
alguns diriam, biológico, de transformar em líder o mais capaz, como o lobo
mais sagaz que guia a sua matilha, ou a fêmea ou macho que busca o melhor da
sua raça para poder procriar e, assim, gerar descendentes mais capazes para
sobreviver as intepéries do meio que os cercam se transforma em discurso de
ódio e a humanidade envenenada por desconhecer a história, abraça a causa da
preguiça. Subitamente, aquela pessoa que se esforça dia a noite para
aperfeiçoar seu conhecimento para interagir mais eficientemente para a sociedade
e que, naturalmente, deveria ser reconhecida por seus méritos escassos no nosso
meio, como um dom desenvolvido, perde-se em meio ao numerosos preguiçosos que
desenvolvem um hino que é repetido á exaustão que fala de direitos e deveres
para todos e nas entrelinhas adverte da necessidade de que todos, incluindo os
esforçados trabalhadores e estudantes e, por outro lado, os preguiçosos, piores
alunos, tem o direito de receber suas remunerações igualmente. Assim como,
todos os que produzem, estudam ou criam soluções para o aperfeiçoamento da
sociedade como um todo, dito trabalhadores, tem o dever de dividir seus
pertences, seus bens, seu tempo para aqueles que não querem labutar, ou que
passam a maior parte do seu tempo incitando ódio dentro de empresas, grupos de
trabalho ou em coopertativas sem fim.
Em uma era em que a pregriça, não
o animal, tomou lugar do trabalho, provas incontestáveis vem a tona para explicar tal anormalidade: a
criminiladade vem a tona já que é mais fácil roubar do que trabalhar. É
gritante a defesa destes meliantes por grupos de pessoas que esquecem do lastro
de sangue e dor que eles deixam.
Conseguem transformar a percepção da realidade ao se fazer notar a
brutalidade da polícia em contraponto do romantismo do bandido. Incia-se um
processo de descaracterização do termo bandido, pois traz traumas profundos
traumas ao fora da lei que insiste em seguir suas próprias regras causando
destruição por onde passa. O bandido, através de filtros interpostos dos
preguiçosos transvestidos de direitos humanos, transforma-se em mártir da
sociedade dos oprimidos.
Há uma linha de pensamento que
concorda que devemos receber ou colher o que plantamos; quem trabalha na
agricultura sabe disso. Há outros exemplos: quem se alimenta evitando excessos
de açucares e gorduras e faz exercíos regularmente tende a ter um corpo mais
sadio evitando a obesidade, uma epidêmica patologia limitante da saúde pública.
Há fábulas que cantam diversos exemplos semelhantes de prêmios que seguem o
esforços como a moral da história da cigarra e a formiga referida como obra de Esopo da grécia antiga e encontrada escrita
por Jean de La Fontaine nos idos do século XVII. Ora vejam, que todos torcem
pela formiga e concordam com o esforço desta em contrapartida daquela cigarra
que se divertia ao bel prazer dos sabores que o mundo oferece, mas, no fim,
enfim, encontra-se desesperada pois não foi sábia para preparar para o futuro
ou para uma infortúnia privação.
Aqui eu volto para as minhas
viscerais elocubrações a despeito do meu emprego. Quantas vezes fui homenageado
por estudar muito para poder passar no vestibular e criticado pelo mesmo ato.
Cedia em momentos de cansaço físico e mental e procurava descansar em noites
regadas a álcool e ressacas que duravam dias. As palmas viam das formigas e das
cigarras, o mesmo som, não era possível diferenciar. Depois que passou o
inverno é que entendo o olhar penetrante das formigas, como a minha mãe, que
enxergava quatro décadas após, sabia da necessidade de plantar boas sementes,
regar regularmente, para poder ter uma boa safra. Consigo meu emprego e me
envolvo completamente. Faço inúmeros cursos de aperfeiçoamento, congressos com
um dedicação sentimental e gosto quando sou recompensado por isto. Receber o
meu salário no final do mês compensa todo o tempo que trabalhei, na verdade, é
uma consequência. Não consigo passar muito tempo sem trabalhar, talvez por isso
que me atormenta ver tantos colegas reclamando do seu emprego e falando da
utópicas virtudes das férias intermináveis.
Conheço
uma história de uma senhora, avó de muitos netos que detinha uma característica
peculiar, não falava palavras torpes. Certa vez, seus netos quiseram pregar uma
peça na amável avó: perguntariam qual a opinião dela sobre o diabo e, desta forma,
não teria como ela não referir um nome bem feio. Quando chegou o jantar, todos
já eufóricos, aguardam o término da degustação da sobremesa de banana com cravo
que a vovozinha costumava servir e, todos reunidos em um canto da mesa quase
que deixando a senhora sem ter para aonde ir, perguntaram o que ela achava do
diabo; ela pensa, senta um pouco e, quando todos já no regojizo de conseguirem
vencer a pobre vovó, ouvem essa, “o diabo é persistente”, reflete a indomável
anciã.
A
cigarra é persistente, mas ainda prefiro fazer do meu trabalho a minha casa,
enfim.
Meritocracia: termo utilizado pela primeira vez por Michael
Young, no livro “Rise of the Meritocracy”
(“Levantar da Meritocracia”, em português), publicado em 1958.
terça-feira, 3 de julho de 2018
Antologia Cearenses Voltados para a Cultura - lançamento dia 03.07.18
Segue em anexo o convite para o lançamento da nossa primeira Antologia. Será no mesmo dia da nossa sessão ordinária mensal, dia 03/07/18, às 19:30h.
Favor atentar que o encontro será na Casa do Leão - Rua João Cordeiro, 2181 - Aldeota.
sábado, 9 de junho de 2018
Custo dos políticos do Brasil
1 presidente Palácio do Planalto
1 vice-presidente
1 câmara federal
81 senadores
513 deputados federais
27 governadores e vices
27 vice-governadores
27 câmaras estaduais
1.049 Deputados estaduais
5.568 prefeitos
5.568 vice-prefeitos
5.568 Câmaras municipais
57.931 vereadores
TOTAL: 70.794 POLÍTICOS.
12825 - Assessores parlamentares Câmara Federal (sem concurso)
4455 - Assessores parlamentares Senado (sem concurso)
27.000 – Ass. parlamentares Câmaras Estaduais (sem concurso – estimado/falta de transparência)
600.000 - Ass. parlamentares Câmaras Municipais (sem concurso – estimado/falta de transparência)
TOTAL GERAL: 715.074 FUNCIONÁRIOS NÃO CONCURSADOS.
CUSTO
248 mil por minuto;
14,9 milhões por hora;
357,5 milhões por dia;
10,7 bilhões por mês;
CUSTO TOTAL: acima de 128 BILHÕES por ano, mais 6 BILHÕES do FUNDO PARTIDÁRIO para 2018. Sem contar o rombo que esses canalhas fazem na previdência social com suas aposentadorias alienígenas.
35 PARTIDOS REGISTRADOS no TSE e 73 PARTIDOS em formação.
1 vice-presidente
1 câmara federal
81 senadores
513 deputados federais
27 governadores e vices
27 vice-governadores
27 câmaras estaduais
1.049 Deputados estaduais
5.568 prefeitos
5.568 vice-prefeitos
5.568 Câmaras municipais
57.931 vereadores
TOTAL: 70.794 POLÍTICOS.
12825 - Assessores parlamentares Câmara Federal (sem concurso)
4455 - Assessores parlamentares Senado (sem concurso)
27.000 – Ass. parlamentares Câmaras Estaduais (sem concurso – estimado/falta de transparência)
600.000 - Ass. parlamentares Câmaras Municipais (sem concurso – estimado/falta de transparência)
TOTAL GERAL: 715.074 FUNCIONÁRIOS NÃO CONCURSADOS.
CUSTO
248 mil por minuto;
14,9 milhões por hora;
357,5 milhões por dia;
10,7 bilhões por mês;
CUSTO TOTAL: acima de 128 BILHÕES por ano, mais 6 BILHÕES do FUNDO PARTIDÁRIO para 2018. Sem contar o rombo que esses canalhas fazem na previdência social com suas aposentadorias alienígenas.
35 PARTIDOS REGISTRADOS no TSE e 73 PARTIDOS em formação.
quinta-feira, 31 de maio de 2018
Poema - Triste desejo
Triste desejo
Voar já não me encanta
Debruçar-me sob o céu também
Outrora, o sol me espanta
Agora, meu martírio me sobrevém
Peco por imaginar tanto
Carinho das flores do bem
Secura em meu pranto
Não se oculta, se mantém
Se já não posso voar
Também insisto em denegrir
A bizarra imagem do podar
No seio da ignorância que irá parir
É um triste desejo de ceifar
A inoperância do destino
Querendo me arrastar
Para longe de eu-menino
Não preciso seguir deduções
De débeis ensinamentos
Sujo, imundo, fedidas porções
Embriagam-me em tormentos
Estorvos nas traves do saber
Dilui o beneplácito beijo
De transgredir o ego e temer
Um triste desejo
Limoeiro, 25.09.99
Voar já não me encanta
Debruçar-me sob o céu também
Outrora, o sol me espanta
Agora, meu martírio me sobrevém
Peco por imaginar tanto
Carinho das flores do bem
Secura em meu pranto
Não se oculta, se mantém
Se já não posso voar
Também insisto em denegrir
A bizarra imagem do podar
No seio da ignorância que irá parir
É um triste desejo de ceifar
A inoperância do destino
Querendo me arrastar
Para longe de eu-menino
Não preciso seguir deduções
De débeis ensinamentos
Sujo, imundo, fedidas porções
Embriagam-me em tormentos
Estorvos nas traves do saber
Dilui o beneplácito beijo
De transgredir o ego e temer
Um triste desejo
Limoeiro, 25.09.99
domingo, 20 de maio de 2018
Poema - Tu
Tu
Verter tuas lágrimas por pão
É bem mais eloquente
Que esforçar-te por um não
Uma negativa que jaz em tua mente
Tu não és mais aquela formosa
Nem mesmo já fora
Aceita esta face dolorosa
Até desmerecida é tua pele loura
Bom-dia não tens
Labor é tua rotina
Preza mais pelos teus bens
Ouro brilha em tua retina
Porca imunda te denominam
Ingrata tu és
Ódio e rancor te dominam
Denigre até a fé dos infiéis
Tu não tens salvação
Nem mesmo o sol que clameja
Por tua alma que perece em solidão
É injucundo a tua peleja
Tua força se esvai
Por dentre os dedos do tempo
Tu não cede e recai
No viés do teu tormento
Recife, 29.09.99
quarta-feira, 16 de maio de 2018
Poema - Tua ida
Tua ida
Não me importa se sou feliz
Até porque não há lógica
De viver sem esperança
De sacrificar-me por esta aliança
Se já não te quero, não há senso
Para me desculpar em vão
Julgo-te ter em meus braços
Não vinga sem meu coração
Agora, eu presenciei tua ida
Não ias nos meus braços
Estavas encantadora, linda
Dói agora o meu peito
Não te importa se estou infeliz
Outro te ama e está satisfeito
Recife, 23.02.99
terça-feira, 15 de maio de 2018
Poema - Umbuzeiro IV
Umbuzeiro IV
O passado te serve como presente?
Teu hoje é o ontem
Não quero estar em ti
Para que a nostalgia seja o meu néctar
Luto com os meus pensamentos e ideias
O futuro é meu parceiro ou parceira
Não carrego arrependimento
Nem sofrimento
Desejo-te paz interior
Vida com todo ardor
Alegria de viver com furor
Não me aproximo mais
Pois há uma cerca
Que te envolve nos teu ais
Umbuzeiro, 20.09.99
domingo, 13 de maio de 2018
Poema - Mamãe
Mamãe
Chamo de mamãe
Por que assim sou eu
Metade enquanto mãe
Impossível, pois sou todo teu
És minha querida
És linda magnitude
Tua frondosa arte bendita
Enseja-me de plenitude
Te quero como uma estrela
Te anseio como o mar
Os dois são únicos, lampeja
O meu orgulho de te amar
Não posso esquecer a confissão
Que eu fiz para te agradecer
Uma união com Deus
Para fazer você me receber
Tenho fotos contigo
Ser supremo
Ora, abraçado, segurando o teu umbigo
Ora, chorando e você me acolhendo
Estas meras colocações não precisam
O que me transtorna
Se sou teu filho
Por que estou longe de ti agora?
Umbuzeiro-PB, 03.10.99
sábado, 12 de maio de 2018
Poema - Umbuzeiro III
Umbuzeiro III
Posso tentar escrever para distante
Mas não fujo da escravidão
Dos ciúmes, brigas,
Não há mais amor, solidão
É um mundo de tristeza
Planeta de desgraça
Não quero estragar teu dia
Então, não se aproxime, vadia
Em outro momento te quero
Quero mais que amor
Quero toda em mim
Nua sem cetim
Novamente, te pertenço
E tu me devoras
Na tua pele quente e suada vou me afogar
Para depois de odiar
Umbuzeiro, 20.09.99
sexta-feira, 11 de maio de 2018
quarta-feira, 9 de maio de 2018
Poema - Umbuzeiro II
Umbuzeiro II
O vento mesclou-se com a chuva
Foi o retrato da nossa paixão
Perfeição assim, não existe
Nós dois, então
Vou falar de amor
Brincar de carinhos
De que vale nossos sonhos
Se não estivermos juntos para sempre?
Falo por meio de vis palavras
Nada que represente
A felicidade, a alegria
De ter-te comigo presente
Vou apregoar minha busca
Tu és minha escolhida
Traga o produto do melhor vinho
Teu beijo embora minha
Umbuzeiro, 20.09.99
terça-feira, 8 de maio de 2018
Poema - Umbuzeiro I
Umbuzeiro I
Tu falaste em sonho
Esqueceste-se de mencionar meu nome
Eu sonho, tu sonhas, todos, então,
Não vingue sem teu coração
Já não me basta esta angústia
Algo de atroz em teu rosto me seduz
Teus encantos mórbidos
Abatem-me com uma cruz
Visualizei nosso fim
Era exuberante, era feliz
Vi escuridão, sombras
Nada me surpreende, julgas
Julgas que és alheio a mim
Não desfrutas do amor
Que um dia faltou
E você chorou
Umbuzeiro-PE, 20.09.99
domingo, 6 de maio de 2018
Conto - O choro
O choro
Em um estranho amanhecer, a
vida se abstraiu em amor. A dor trouxe alegria, a calmaria não era bem vinda. O
choro da criança naquele momento findo da gestação permitiu que a paz reinasse entre
os seus convidados. O parto de João fora aguardado assim como a calmaria após a
tempestade. O grito de vida da criaça ecoava por todos os espaços da
obstetrícia do hospital. Os médicos felizes pela saúde estampada da criança
confirmada pela força produzida pelos pulmões do recém nascido. O choro
significa a chegada da esperança.
Ele berrou por uma razão que
não entendia e, logo após, estava no seio da sua mãe, sorvendo um maná que
fazia o incômodo passar. Eram momentos de carinho de calor agradável de pele
com pele. Havia um aroma gostoso de amor, aconchego. Neste momento, inciava um
processo que se expressava em um sorriso, uma serenidade e satisfação. A
associação era imediata – fome, choro, maná, satisfação e sono. Era o instinto
de sobrevivência que brotava como um ramo alegria e paz em um ambiente familiar.
O choro significa fome e saciedade.
Um barulho estoteante abalou
e feriu seu ouvido. O grito de medo transfigurou-se através da sua face
assustada. Um prato caia no chão e a paz estabelecida foi dilacerada em
fragmentos. A paz já não era possível continuamente, algumas vezes, ela poderia
ser rompida. O susto existia, o inesperado poderia ser doloroso. O medo é real
e palpável. O pavor foi acalentado com um abraço, um canto e, logo, aqueles
hormônios do tensão que torturavam o corpo daquela criança, iam diminuindo cada
vez mais a medida que os humores de serenidade iam contagiando o seu semblante.
O choro significa susto e medo.
Certa vez, foram passear com
João e, de repente, seus pais desapareceram.
Ele pranteou copiosamente. A sensação de abandono era punjante. Estava
em um meio desconhecido, vultos bizarros, objetos estranhos. Após longos
minutos, o cansaço começava a vencer seu frágil corpo de 4 anos e chorar já não
resolvia mais, precisava elaborar outra estratégia para se adaptar. Aos poucos,
notava sons semelhantes ao seu e buscava se aproximar do igual. Haviam outros
semelhantes a ele neste espaço e o movimento frenético de correr, sorrir, pular
o empolgava cada vez mais. Seus pais aparecem e o interrompeu nas suas
brincadeiras no seu primeiro dia na cheche. O choro significa abandono e
frustração.
A alegria de ir ao colégio
permeava seu ser. João gostava do meio acadêmico que o conduzia a esferas
cognitivas por ele ainda não percebidas. As experiências discorridas nos
livros, experiências orais dos professores submergiam em mundos diversos. A
força da intelectualidade avançava a passos largos e invisíveis no seu ser em
desenvolvimento acelerado. No meio deste universo infinito do nosso ser, há a
carne e ossos que carregam nossa mente. Em um lapso de segundos, toda a massa
compacta do seu corpo precipita-se pela escada principal do colégio quando
corria para mais um recreio festivo. O sangue se espalha pelo seu corpo e
farda, a dor explode e as lágrimas não conseguem ser contidas. O alvoroço dos
colegas criam uma imagem de agonia, vergonha e desespero. A dor continua e o
sangue não para de jorrar. O choro
significa dor e sangue.
João aparece em mais um dia
de férias com a sua família em um sítio do seu tio. Muita alegria no ar e
inúmeras possibilidades jocosas. A empolgação do jogo de vôlei era visível. Ele
tem notado que, cada vez mais, está crecendo e conseguindo bloquear na rede; a
sua importância no time é crucial. Sua voz está se tornando grave o que o torna
um homem perante seus pares de 14 a 15 anos. As inúmeras conversas sobre
relacionamentos, namoros vão brotando nas intermináveis confraternanizações de
amigos nas mesas próximas da piscina . Nas festas é possível trocar olhares
com garotas. O coração bate rápido, a
testosterona vai a mil, o calor é tácito e a vergonha inerente. No último dia
de férias, recebe um pequeno pedaço de papel com alguns corações desenhados escrito
com uma caneta rosa – “ você é um gato”.
Uau! O que dizer$ uma sensação inatingível. Ele terá que ir embora para casa
sem saber o autor da pequena declaração, e precisa$ Quando está deixando para
trás estas férias, olha através do vidro
e sente que perdeu tempo para descobrir mais e chora. O choro siginifica
emoção e paixão.
As lágrimas caiam juntos com
os seus cabelos para festejar o início
da faculdade. Ser adulto agora é para valer. Oficialmente estava aprendendo uma
nova habilidade para o mercado de trabalho. Vai receber seu dinheiro, em breve,
e fazer o que bem entender. Liberdade já podia ser vislumbrada. Algumas
disputas por melhores notas ou estágios dentro do campus já é um treino para o
futuro. O choro significa conquista e aprendizado.
A dor de ver seu filho em
coma é inimaginável. Não há descrição. O esposo quando perde sua esposa se
transforma em um viúvo; o filho quando perde
o pai é denominado orfão e o pai que perde seu filho$ Somente a
expressão da dor estampada no seu rosto pode decifrar este momento. Cada
minuto, ca da notícia é importante para alimentar uma esperança da recuperação
do filho. João estava, totalmente, absorto com os seus sonhos centrados no seu
único filho estendido naquela cama de UTI pediátrica. Seus olhos estão
edemaciados, avermelhados, sensíveis de tanto chorar. É um final de tarde
qualquer, o médico que está saindo do plantão, cansado, cabelo desarrumado,
roupa amassada, ao passar pelo pai, acena com a cabeça e segue seu caminho.
João está sentado, com o olhar no infinito e, de repente, é surpreendido por
uma mão no seu ombro. É o plantonista que acabou de sair e sentiu no coração
que deveria dizer uma novidade presenciada por ele
– João, seu filho já começa a dar sinais de
melhora. Em breve, ele deve sair da UTI e ir para a enfermaria, disse o médico.
O choro pode siginificar desesperança e
milagre.
No enterro de João, inúmeros
pessoas buscam espaço para dar o último adeus. Se mede a qualidade de vida de
um indivíduo pela quantidade de presentes no seu velório. Haviaa mais de duas
centenas de conhecidos, amigos e parentes abatidos pela partida de um ente tão
querido. O que vai importar agora é o legado, a experiência, os ensinamentos
que ele deixou e que irão lembrar por muito tempo, principalmente, os filhos.
Estes não seguem, necessariamente, o que
os pais dizem; eles são guiados pelos exemplos dos seus progenitores. O choro
significa um adeus.
Finalizado em
30.09.16
Faz parte da antologia Sobrames regional Ceará 2018
Faz parte da antologia Sobrames regional Ceará 2018
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