segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

O Pior e o Melhor de Mim

     É muito difícil conviver com as pessoas que são diferentes de nós. Deveras complicado. Não somente estranho em relação aos pensamentos, ideias ou costumes, mas também, em relação ao nosso corpo. Parece que as pessoas que são mais altas, são mais bonitas, ou que têm olhos azuis e verdes são mais elegantes. Em algumas culturas, ser negro é mais bonito, em outras, ser branco ou amarelo. Complicado é quando uma pessoa apresenta alguma deficiência propriamente dita: quem usa cadeira de rodas, deficiência visual ou mesmo auditiva. Tenho a sensação de que é difícil encaixar em nosso mundo, as pessoas que têm estas diferentes nuances. Pior para mim que tenho algo a mais que ninguém tem. Alguns podem definir como maldição e outros, como uma bênção.

Talvez, estes questionamentos sejam o próprio problema: fico achando que as outras pessoas irão definir o que é o mais bonito ou o feio e eu serei avaliado desta forma. Provavelmente, estes mesmos cidadãos nem estejam me notando, estão seguindo as suas vidas com os seus desafios e somente isto. Elas devem ter os mesmos sentimentos angustiantes e banais que estou me referindo e cada um dará o devido grau de importância a estas questões.

Início

As minhas primeiras lembranças são vagas em relação a minha força elevada que causava diversos acidentes. Era muito comum alguém dizer que eu era forte, mas, de alguma forma, consegui, inconscientemente, não causar grandes danos, machucar ou mesmo matar uma pessoa. Como meus pais chamavam muito a minha atenção para que eu tivesse cuidado e não quebrasse as coisas, fui aprendendo a me controlar. Só para constar: não sou alienígena e nem fui exposto a alguma substância química ou radioativa que transformou o meu corpo a ponto de ter a força equivalente a cem homens. Nasci desta forma e esta é a minha história.

Muitas vezes, evitava brincar com as outras crianças, justamente para evitar acidentes, que diga-se de passagem, eram muito comuns. Já amassei a lataria de inúmeros carros quando jogava bola perto destes veículos. Sempre tinha que correr, porque sabia que eu era o culpado. Era considerado muito desastrado. Até hoje, este excesso do medo de quebrar as coisas, me incomoda, me limita nas minhas ações. Os pais dos meus amigos, na maioria das vezes, advertiam seus filhos para evitarem brincar comigo, porque eu era estabanado e poderia machucá-los. Eles não escondiam os seus descontentamentos na minha presença: eles desejavam que eu ouvisse, provavelmente, para que eu me afastasse dos seus rebentos e não causasse danos.

Meus pais, também, tinham este cuidado com as minhas irmãs e os objetos da casa. As minhas brincadeiras não eram adequadas para quaisquer pessoas, mesmos adultos, imagine para crianças mais novas do que eu, no caso, das minhas irmãs. Elas dormiam em um quarto separado do meu para evitar acidentes devido às brincadeiras ou brigas comuns entre irmãos. Certa vez, empurrei a minha irmã, que estava na borda da piscina, visando apenas dar um susto nela, mas não saiu como o planejado. A intenção era que ela caísse perto da borda da piscina, próximo da escada e, desta forma, ela poderia voltar para a beira da piscina de novo. Em vez disso, a força empregada foi tamanha que ela caiu na parte profunda da piscina. Ela não gritava, pois já estava se afogando. Quem gritou por ajuda fui eu que percebi logo a bobagem que fizera. Eu sabia nadar, mas fiquei paralisado sem saber o que fazer. Ainda tenho este receio de entrar em água, se for para ajudar alguém que está se afogando. Talvez tenha sido deste evento que ocorreu com a minha irmã no Clube Náutico que fica na Avenida Beira-Mar de Fortaleza, local que a gente frequentava quando a nossa tia conseguia uma cortesia para levar seus sobrinhos para passear aos finais de semana.

 Em outra oportunidade, a brincadeira, se podemos definir desta forma, era jogar sandálias um no outro e o objetivo era se esquivar como acontecia nas histórias em quadrinhos da Turma da Mônica, quando a Mônica arremessava o seu coelhinho de pelúcia e o Cebolinha tentava desviar, ou nos desenhos animados que passavam nos programas de TV quando eram comuns jogar objetos uns nos outros, como nas brigas de gatos e ratos, Pica Pau contra o Leão Marinho. Quando a minha irmã atirou a sandália na vez dela, consegui desviar com certa facilidade, talvez ela tenha conseguido me acertar em algumas outras oportunidades. Você já pode imaginar o que aconteceu quando foi a minha vez. Ainda bem que o primeiro arremesso errei, mas iria bater na cabeça dela. A sandália quebrou-se contra a parede devido a intensidade da energia aplicada. Por causa da ingenuidade, continuamos brincando e quando joguei pela segunda vez, a sandália do outro pé, acertou na perna dela. Imediatamente, ela soltou um grito pavoroso de dor. Esta outra sandália começou a ser destruída já na perna da minha irmã e terminou seu desmonte ao colidir contra a parede. Por sorte, o projétil passou lateralizando da perna esquerda dela, abaixo do joelho. Não sei como, mas ela não quebrou nenhum osso. Em vez disso, arrancou parte da pele da perna e teve que ser levada ao pronto-socorro. Precisou ficar usando curativo por um bom tempo e tomar antibióticos que ela detestava e, na maioria das vezes, vomitava por não gostar do sabor.

Cada vez mais, meus pais ficavam preocupados, porque à medida que a minha força aumentava, os acidentes ficavam mais graves. Estava jogando bola em um calçamento no bairro Beira Rio, local que havíamos mudado recentemente, depois que os meus pais terem vivido seus primeiros anos de casados no bairro São João do Tauape próximo ao Lagamar. Em um determinado momento do jogo, chutei o chão, em vez da bola, até porque, futebol nunca foi o meu forte, despedaçando uma pedra de calçamento um pouco mais saliente, arremessando com uma enorme força e velocidade um pedaço de pedra que se tivesse pegado em alguém, com certeza, teria transfixado. O fragmento de pedra atingiu uma caixa transformadora em um poste ocasionando um grande barulho e foi este motivo que muitos não conseguiram associar o acidente ao meu chute. Desta vez, comecei a ficar mais preocupado e já entendia que seria mais sensato me afastar das pessoas para evitar maiores transtornos.

Adultez

Seria esperado que eu me tornasse um super-herói ou mesmo que tivesse utilizado este dom, ou poder em benefício próprio. Em vez disso, escondi por este tempo. Não consigo compreender ter algo que é diferente totalmente da humanidade lá fora. Sem lógica para mim. Como irei explicar? Com quem poderei debater sobre o meu dia a dia? Ninguém pode entender. Irei me transformar em um deus para a maioria deles e isto não desejo. Não me sinto à vontade de ser superior somente devido a um dom.

Sei que muitas pessoas são idolatradas devido algumas características, mas o meu caso é diferente. Algumas pessoas são aclamadas, porque são cantoras, mas, na maioria das vezes, se não emplacarem sucessos seguidos, caem no esquecimento. Outros, são grandemente ovacionados, porque são grandes jogadores de algum esporte, mas em breves anos se aposentam sendo esquecidos gradativamente. Por outro lado, eu sempre serei poderoso.

Prefiro a paz da minha consciência. Não quero parecer soberbo, acima de ninguém. Acredito que este excesso de força foi indevidamente colocado sob a minha responsabilidade ou, quiçá, fui deliberadamente sorteado para guardar este precioso dom. Talvez Deus ou qualquer outra força superior, soubessem qual seria o meu comportamento e quisessem esconder este poder da mão de qualquer outra pessoa na Terra.

Sempre estou avaliando os meus comportamentos ou pensamentos. Posso estar equivocado em tudo o que penso. Porventura, posso decidir usar esta minha força para salvar alguém, e pronto, ou fazer shows demonstrando feitos nunca realizados pelo homem, como a capacidade de levantar um caminhão acima da cabeça, usando apenas a força de um ser humano. Não sei o que pode acontecer daqui para frente que mude os meus ideais. Acredito que a humildade possa ser uma característica minha que pode estar inibindo de usufruir deste talento. A minha prudência pode estar se questionando se este excesso de força é algo positivo ou negativo para a minha vida. É melhor evitar ter filhos que possam herdar esta mutação, pois não desejo que ninguém sofra. Não sei precisar como será a minha atitude no futuro como já mencionara, mas a decisão de saber se agi corretamente ou não, dependerá de quando for avaliado ou por quem.

Algumas perguntas ficam sem respostas mesmo. Até agora, o ser humano concluiu ser importante formular perguntar e tentar responder. Pois é, tentar responder e, algumas vezes, a resposta que serviu perfeitamente, inicialmente, encontra-se equivocada nas diversas esquinas do tempo. No meio do relativismo, ainda podemos nos questionar se sabemos perguntar. Este é um dos questionamentos mais intrigantes da raça humana vigente. Talvez se a gente conseguir ultrapassar algumas destas respostas, poderemos nos sobrelevar como espécie animal, supra sapiens, com o desenvolvimento de características sobre-humanas, impensáveis até este momento. Presentemente, o meu dom poderia, talvez, ser útil e, por enquanto, fico apenas como um rei deposto que tem um olho em uma terra de cegos.

 

24.01.2024

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

A importância da FMB e seus sindicatos de base para a Medicina Brasileira

Existem algumas informações que os médicos deveriam saber para o seu dia a dia. Nesta participação no site da Associação dos Médicos pelo Brasil-AMPB terei em vista trazer alguns dados e opiniões para a classe Médica e estudantes de Medicina que possam ser úteis na sua caminhada ao longo da sua vida. Sempre estarei atento para tirar dúvidas, abordar temas que estejam mais quentes no momento e esclarecer mitos e verdades que nos rodeiam e, algumas vezes, nos amedrontam. O intuito será sempre de ser uma leitura leve e útil. 

Nesta primeira oportunidade, gostaria de abordar um assunto muito importante que é quando, porque e como acionar um sindicato Médico nos seus respectivos estados. 

Quando? O principal motivo é quando um Médico ou Médica tem quaisquer dos seus direitos trabalhistas comprometidos: atrasos dos seus salários e das contrapartidas dos municípios para os integrantes do Programa Médicos pelo Brasil, desrespeito ao cumprimento dos horários de alimentação e repouso obrigatório, qualquer exemplo de assédio, incluindo, para os profissionais atenderemum número de pacientes por hora incompatível com o trabalho digno da Medicina, qualquer tipo de violência sofrida dentro e nos arredores da sua unidade de saúde, etc. Vale destacar que alguns sindicatos, como o Sindicato dos Médicos do Ceará, disponibiliza um amplo corpo jurídico que defende com maestria estas violações dos direitos trabalhistas assim como extrapola o seu campo de atuação oferecendo até o direito do consumidor para situações mais corriqueiras da vida do profissional Médico fora da esfera trabalhista, isto é, o colega Médico tiver a sua mala desviada de uma viagem, se a Médica se sentir prejudicada porque a companhia aérea mudou o valor da passagem ou mesmo se comprar algum produto que não correspondeu aos anseios do Médico ou da Médica e desejarem devolver ou trocar a loja não aceitar. 

Por quê? Os sindicatos têm toda uma perícia para tratar das questões da categoria Médica, tanto por possuírem profissionais qualificados nas questões Médicas como pela diretoria toda formada, exclusivamente, de Médicos que entendem os anseios e dificuldades da Medicina regional e nacional, se esforçando, diuturnamente, para trazer respostas satisfatórias para a categoria. Além disso, é muito mais barato: se a Médica paga uma mensalidade mensal ou a anuidade do sindicato mantendo-se adimplente, ela irá poder acessar qualquer serviço da entidade sem ter que pagar um adicional, p.ex., se esta profissional trabalhar em três lugares diferentes e se for necessário acionar a justiça por quaisquer motivos para cada uma destes lugares como atraso salarial, ela precisará pagar um advogado para cada vez que este for acionado, neste caso, ela precisaria pagar como entrada do processo em torno de R$ 3mil até R$10mil para cada ação. No sindicato, como ela paga somente uma anuidade ou uma mensalidade pequena, ela pode demandar o jurídico sem ter custos a mais para cada processo. Indiscutivelmente, é sempre mais barato, eficiente e personalizado. Sem esquecer que a maioria das entidades possui um clube de vantagens com descontos em planos de saúde, escola, restaurante e lojas bem interessantes. É só colocar no papel: se for considerar toda a economia que o Médico tem ao utilizar o sindicato, tirando o valor da mensalidade ou anuidade, ele sai ganhando muito mais. Simples assim. 

Como? Existem diversas formas de acionar o seu sindicato do seu estado. Pode ser por telefone, site da entidade, emailTelegram e até mesmo o Instagram ou Facebook (no futuro aparecerão diversas outras formas), e o meu preferido, atualmente, o WhatsApp porque a rapidez e simplicidade do envio desburocratiza a troca de informações. 

E para finalizar: a Federação Médica BrasileiraFMB representa todos os seus sindicatos de base federalmente. A maioria das pautas do Programa Médicos pelo Brasil precisam ser questionados e resolvidos ao nível do Ministério da Saúde (MS) e Agência Brasileira de Apoio à gestão do Sistema Único de Saúde (AgSUS). Para conseguir apoio a estas pautas da Medicina Brasileira é necessário conversar e se aproximar dos deputados, senadores, frente parlamentar da medicina (FPMED), ministros e até com o presidente ou vice-presidente da república. São competências diferentes, mas com o mesmo intuito: a proteção da Dignidade Médica em todas as suas esferas.

 

Edmar Fernandes

Diretor financeiro e de patrimônio do Sindicato dos Médicos do Ceará 

Secretário de comunicação da Federação Médica Brasileira — FMB

E-mail — edmardermato@gmail.com

terça-feira, 21 de novembro de 2023

Sobre o bem e o mal

Herlen é um bem-humorado curitibano que mora no estado do Acre desde a sua infância. Tem lembranças amargas do colégio, pois sempre estava acima do peso e os seus colegas o nomeavam com diversos apelidos infames para uma criança suportar como elefante ou rolha de poço. Estudioso, colecionava medalhas de ouro devido excelentes notas e boletins que enchiam de orgulho seus pais. Filho único, sempre desejou ter vários irmãos e, se possível, um gêmeo. Não teve dificuldades para passar no vestibular para Engenharia Elétrica, ficou em terceiro lugar. Os dois primeiros lugares eram gênios também, Alex e Pedro. Fez logo amizade com ambos e se tornaram irmãos de verdade. Relacionamento profícuo que alimentava os saberes da nova profissão vindoura. Costumeiramente, se reuniam para conversar sobre os mais diversos assuntos afetivos e segredos, algumas vezes, perturbadores.

Raquel morava em Lima, capital do Peru desde seu nascimento, pois sua mãe sofreu um acidente aéreo, quando o avião estava pousando no aeroporto da cidade matando toda a tripulação e alguns passageiros. Estava grávida de sete meses e acompanhava o marido em uma de suas inúmeras viagens para esta capital proveniente de Salvador, sua terra natal. Apresentava uma gestação de alto risco que o seu obstetra orientou, por diversas vezes, a evitar esforços desnecessários, incluindo, viagens aéreas. Em alguns momentos, Raquel perguntava-se por que sua mãe insistia em viajar mesmo com as advertências médicas. Quem contava estes detalhes para ela era a sua tia Núbia que tentava preservá-la de outros acontecimentos do passado, relacionado aos seus pais, que poderiam abalar o mundo de Raquel como a existência de uma amante em Lima que era o motivo das diversas idas do seu pai para a capital peruana. Sua mãe, tentando preservar o casamento, insistia em estar ao lado, continuamente, do seu pai, na tentativa de frustrar o encontro dos enamorados mesmo colocando em risco a gravidez como da sua própria vida.

Alex, que se tornou amigo de Pedro e Herlen na faculdade de Engenharia Elétrica, era um jovem que enfrentava a depressão há dois anos antes do vestibular. Supõe-se que o estresse da cobrança dos seus pais para passar na prova foi um desencadeador do processo. Sua família já sofria com esta doença devido o seu pai, alcoólatra, que desenvolveu depressão grave a ponto de ser internado por meses em clínicas psiquiátricas. Certa vez, ainda adolescente, ouviu alguns especialistas em um simpósio sobre saúde mental que achavam absurdo uma pessoa ser internada nestas clínicas psiquiátricas ou hospitais. Referiam que a família deveria permanecer com o doente, pois é importante a socialização e o contato constante com a família mesmo em uma fase psicótica quando o paciente perde a consciência dos seus atos e agride pessoas, quebra objetos de forma a pôr em risco sua vida e de outras pessoas. Alex ficou estupefato com o escárnio que aquelas pessoas proferiam. Elas não sabem como é difícil uma família ver um ente querido se tornar um sujeito agressivo, inconsequente dos seus atos em casa em meio a um pânico avassalador. É necessário potentes medicações injetáveis e vários dias de internamento para existir a possibilidade de volta ao convívio social e familiar. Alex e sua família já eram testemunhas de um sistema de saúde que não prioriza seus pacientes psiquiátricos sem local para internar adequadamente quando necessário. Ouvira falar sobre uma luta antimanicomial que foi a causa da diminuição dos leitos para os pacientes psicóticos agudos. Não entendia como alguma pessoa em sã consciência poderia ser contra as vagas em hospitais psiquiátricos para estas pessoas que estão sofrendo, gritando, correndo pelas ruas nus, sem pudor, capazes de matar e de tentar o suicídio.

Pedro nunca pensou em se casar. Com vinte e dois anos de idade, era decidido a manter um namoro para sempre com Rebeca. Ela sugerira o casamento por diversas vezes, mas ele foi decisivo em procrastinar este noivado. Algumas pessoas achavam muito estranho este relacionamento, pois ela, habitualmente, aparecia com o olho roxo, chorando pelos cantos e evitando se expor publicamente para que não notassem as feridas físicas e espirituais decorrentes das brigas com Pedro. Certa vez, após uma discussão barulhenta, ela decidiu acabar com o seu enlace com Pedro. Foi uma tragédia na vida destas duas pessoas. Ela contou para seus pais e todos os seus amigos o que acontecia no namoro. Ele a espancava por qualquer motivo. Foi o primeiro namorado dela e não conseguia se afastar muito tempo dele já que o amava demais. Escondia este sofrimento de todos para que ninguém se intrometesse no seu relacionamento causando mais dor e angústia. Por sete anos ela suportou este martírio, desde os dezesseis anos de idade.

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Herlen se transformou em um dos mais brilhantes alunos que a faculdade já teve. Antes de concluir o curso, já fora convidado a ser um dos professores da universidade. Como era necessário ter um doutorado que servia de pré-requisito para lecionar, foi permitido preparar sua tese em paralelo com o trabalho como um virtuoso mestre. Assíduo em seus compromissos era motivo de orgulho do corpo docente desta entidade. Era, frequentemente, convidado para ser o paraninfo das turmas de formando que se despediam todos os anos. Seu relacionamento com Pedro e Alex também sofreu mudanças. Alex que no início era um brilhante aluno piorou seu rendimento a ponto de ter que repetir uma cadeira. Algumas vezes, Herlen procurava chamar Alex para ir a algum bar para tomar uma cerveja, mas não sabia como, Alex odiava bebida alcoólica por causa do seu pai e isto afastava o convívio de ambos. Pedro sempre acompanhava Herlen. Os dois se preocupavam com Alex que era motivo de longas conversas.

Raquel começou a praticar pequenos furtos para sair com as suas amigas. Sabia que a sua tia não tinha dinheiro para comprar roupas, sapatos, joias e ingressos para shows ou entrada para boates. Precisava estar sempre bem vestida e pronta para viajar ou estourar o cartão de crédito em qualquer visita a um shopping. Os primeiros furtos foram dentro da sua própria casa e sua tia percebeu. Aconselhou Raquel a não seguir este comportamento cleptomaníaco. Em certo momento, ela foi expulsa de casa. O mundo, então, a abusou e ela se entregou por completo. Se transformou em uma vendedora de drogas e se enveredou na prostituição. Durante o dia, dormia. Usava crack no desjejum após as três horas da tarde. Mandou matar e matou muitos que ousaram não pagar pelas drogas. Espancou muitas jovens que tentavam sair da prostituição. Organizou e conseguiu dinheiro para assaltos a carros-fortes e, posteriormente, a caixas eletrônicos com dinamites furtadas de uma mineradora. Não conseguia frear seus impulsos, seus pensamentos sobre si mesma, eram confusos. A única certeza que ela acreditava era que, somente, conseguiria parar com este comportamento ensandecido se algo disruptivo acontecesse. Um tiro no abdome e outro na coluna conseguiram este intento.

Alex começou a participar de mutirões para arrecadar fundos, roupas, mantimentos para a construção e manutenção de algumas clínicas de reabilitação para drogados. Sentia a necessidade de ajudar estas pessoas carentes de afetividade e, a maioria, de recursos financeiros já que não conseguiam trabalhar. Se identificava consigo. A face triste, sem o brilho nos olhos eram muito familiares e, de certa forma, traziam conforto. Não que fosse sadista, mas não era incomum os diversos relatos estapafúrdios sobre vidas de famílias destruídas pelas drogas ou doenças psíquicas. Foi se tornando um nome reconhecido pelo seu altruísmo e dedicação. Muitos vinham buscar ajuda, comida, dinheiro, uma amizade ou conselho. Sentia que poderia ajudar mais se fosse vereador de sua cidade. Desta forma, seria mais fácil conseguir recursos para estas clínicas psiquiátricas e ajudar a aperfeiçoar o modelo de saúde mental desta cidade. Participou de um sufrágio que ficou como suplente. Aprendeu como é difícil conseguir votos de forma honesta, pelo voto ideológico. Decepcionou-se com diversas pessoas que tinha ajudado e que se prontificaram em apoiá-lo na campanha, mas que trabalharam e votaram em outro candidato por um milheiro de tijolo ou por uma nota de cinquenta reais. Algumas agradáveis surpresas como pessoas que o ajudaram e trabalharam, voluntariamente, mesmo sem nunca ter feito nada por estas pessoas, simplesmente, por que acreditava nas propostas dele. Depois de um tempo afastado dos seus amigos dos tempos da faculdade, marcou um encontro em sua casa com ambos e voltaram a repetir os encontros semanalmente.

Pedro inconformado com o fim do seu relacionamento com Rebeca havia cinco anos, não parava de tramar uma vingança contra a sua ex. A morte era um fim na maioria dos seus planos. Começou a investigar todos os lugares frequentados por ela. Sabia a hora de chegada e saída do trabalho e todo o trajeto percorrido de sua casa até a academia. Como não tinha tempo para ficar monitorando, contratou um detetive para poder fazer este serviço, queria informes diários. Até que um dia, mesmo temeroso, o detetive descreve uma saída de Rebeca com um outro homem para um jantar em um restaurante e, depois, ela o convida para passar a noite no seu apartamento. Por breves segundos, Pedro fica sem palavras, ausência de mente e espírito. Pega uma arma que ficava guardada em uma caixa de sapato debaixo da cama e sai decidido a pôr um fim a este relacionamento. Matará a Rebeca e este safado que ousou tocar nela. Sai disparado em sua moto pelas ruas da cidade, cortando carros, ultrapassando sinais vermelhos. Não ouviu quando um policial pediu para parar em uma blitz. Iniciou-se uma perseguição sem que ele notasse, seu objetivo estava a poucas quadras dali. Quando, de repente, cai da moto. Passou um tempo desacordado e, lentamente, procurava entender o acontecido. Olha em volta e observa os transeuntes e curiosos tentando ajudá-lo. Uma ambulância do SAMU chega e uma das enfermeiras se aproxima para saber como ele está e prepara a sua remoção. Ela explica que um cachorro passou na rua correndo e foi atropelado pela moto dele. Pedro pede para ver o cachorro. Ele está agonizando no meio da rua sem ninguém para socorrer. A enfermeira e o médico insistem para que ele permaneça deitado para poder providenciar a remoção para um hospital de trauma mais próximo. Não está sentindo a clavícula esquerda quebrada e diversos arranhões nas costas e nos seus membros. Almeja salvar a vida daquele cachorro. Ele é tomado por uma compaixão nunca antes sentida. A polícia também quer prendê-lo. Herlen, ao saber do ocorrido, chega ao local do acidente para saber como está seu amigo. Pedro fica muito feliz quando reconhece o seu amigo e explica que ele precisa salvar aquele cachorro. Precisava levá-lo para um hospital veterinário imediatamente. Se houver despesas, ele arcará com tudo e assim fez Herlen.

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Herlen está aguardando o diagnóstico do veterinário para aquele cachorro que o seu amigo Pedro confiou. Está apreensivo, amava os animais. Sai um pouco para deambular na calçada do Hospital para relaxar. Um menino de, aproximadamente dez anos, pede esmola para ele. Subitamente, Herlen é tomado por uma estimulante sensação estranha ao ver aquela criança. Olha em volta para saber se alguém está observando. Pergunta o nome do garoto, se está acompanhado de alguém. Oferece para o infante dinheiro e almoço na condição de acompanhá-lo para o seu apartamento. Uma longa conversa se inicia com risadas e suaves toques no rosto do infante que responde com receio, cabeça baixa. Herlen deixa-o aguardando em uma lanchonete próxima comendo um sanduíche e um refrigerante enquanto volta para averiguar a situação do cachorro. O veterinário afirma que irá sobreviver. Precisou de uma cirurgia para conter um sangramento abdominal devido contusão grave do fígado. Herlen deixa tudo pago e avisa para Pedro das condições do seu cachorro e tudo que está sendo feito para salvá-lo. Na verdade, Herlen está ansioso para levar aquele moleque para seu apartamento e gozar até não poder mais consigo como há anos ele vinha fazendo com outras meninas e meninos que passavam por suas mãos.

Raquel estava internada em um hospital público há duas semanas. Não conseguia parar de chorar. A dor que sentia era imensa. Não movimentava as suas pernas. Os médicos explicaram que a sua coluna foi afetada por um dos projéteis. Sentia falta das drogas que consumia regularmente e, em alguns momentos, teve convulsões e delírios por causa da abstinência. Períodos de desespero e angústia. Suas lembranças e pensamentos estavam desconexos. Uma profunda tristeza invadia seu espírito. Era incapaz de imaginar uma solução para o seu presente. Passava o dia todo calada, sem conversar com ninguém. Algumas respostas monossilábicas para o médico que a visitava diariamente. Certa vez, ao observar um semblante ameno e feliz de uma senhora que estava limpando o seu quarto despertou sua atenção. Algumas vezes, era capaz de ouvir o canto sutil que saía dos lábios da funcionária encarregada da limpeza do andar do hospital. A presença desta pessoa trazia paz de certa forma, não sabia explicar. Insinuou umas palavras para chamar a atenção daquela mulher que se apresentava com uma paz inesperada para aquele coração aflito. Iniciou-se uma amizade que permaneceu após a alta da Raquel do hospital. A funcionária, nos dias de folga, acompanhava Raquel na fisioterapia, retornos para consulta com os médicos e, parcimoniosamente, Raquel foi compreendendo a necessidade da presença de Deus na vida dela estimulada pela sua nova colega. Começou a frequentar a igreja da sua amiga e participar de cursos bíblicos. Ajudar os mais necessitados virou sua missão de vida e, como apresentava uma oratória que contagiava as outras pessoas, logo foi iniciado o processo para prepará-la para ser pastora. Sempre testemunhava sobre a sua vida. Tudo o que passou até estar ali, em cima do púlpito, em uma cadeira de rodas servindo a Deus era, minuciosamente, relatado para todos que estivessem preparados para ouvir.

Alex estabeleceu uma meta para a próxima campanha eleitoral, juntar dinheiro suficiente para a compra de votos e propaganda para conseguir aumentar suas chances para vereador. Aumentou seu trabalho junto com as comunidades mais carentes procurando ajudá-las e guiá-las nas suas demandas e denúncias para melhorias das suas condições de vida. Havia muitas pessoas que o apoiavam. Seus aliados aceitavam a necessidade da compra de voto de outras pessoas para conseguir o objetivo que seria bom para todos os cidadãos daquela cidade. A corrupção naquele momento seria com um objetivo justificado para ajudar outras pessoas. Sua consciência ardia em chamas ao pensar neste ato inescrupuloso em conseguir seu intento, mas a necessidade de ajudar os cidadãos suplantava o malefício da desonestidade, pensava.

Pedro adotou aquele cachorro nomeado puffy e passou a dedicar sua vida à proteção dos animais. O que aconteceu com o puffy era uma realidade nas estradas e ruas das cidades com seus animais abandonados. Criou uma ONG para a defesa da fauna e pagava uma mensalidade mensal para o Greenpeace. Pensou em fazer Medicina Veterinária para se entregar de corpo e alma nesta sua nova esperança. Conheceu sua atual esposa em um dos inúmeros resgastes de animais presos vivendo em precárias condições com seus donos que maltratavam, espancavam diariamente. Preferiram não ter filhos, pois criavam em casa sete cachorros e vinte e sete gatos encontrados na rua.

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Herlen, Raquel, Alex e Pedro são ótimas pessoas e más ao mesmo tempo. Existem pessoas que os respeitam, enquanto que outros tiveram suas vidas destruídas pelas suas ações. Comportamentos amorais entremeados em cidadãos e cidadãs que passeiam pelas ruas da cidade incólumes. São mais de 7 bilhões de seres humanos vivendo em momentos diferentes, alguns em pleno gozo de saúde, enquanto que outros estão condenados por doenças terminais. Empresários que empregam milhares de colaboradores, mas que precisam pagar propinas para não serem prejudicados pelos fiscais do município. A mãe de família que permite fornicar com o chefe do seu trabalho para não perder seu emprego, o único sustento da sua morada. Anjos e demônios travestidos de seres humanos. O próximo é um risco inopino de vida e amá-lo é uma atitude Divina no campo do sobrenatural e irracional no natural.

 

Publicado em 03.05.18

Faz parte: Sopro de Luz, 37ª Antologia da Sobrames-CE, 2020

 

Desmatamento da Amazônia – uma Fraude contra o Brasil

Sempre este assunto vem à tona. Desmatamento para cá, queimadas lá na Amazônia, mas o Brasil desponta como a maior potência ecológica do mundo, apesar das críticas insistentes contra. Tem 85% da floresta nativa, utiliza 80 % de toda a energia elétrica que consome de forma limpa (hidrelétricas) e, ainda, alimenta cerca de 1,5 bilhão de pessoas com 8% de sua terra. O Brasil tem mais florestas que Estados Unidos, Canadá e Rússia cujo o território é o dobro do Brasileiro. A área de matas preservadas é o dobro da mundial. A Amazônia real mantém 98% da sua vegetação natural intocada (3).

Algumas personalidades mal-informadas ou mal-intencionadas atrapalham o debate quando postam mentiras sobre o assunto. O ator Leonardo Di Caprio, a modelo Gisele Bündchen e o atrapalhado presidente frânces Emmanuel Macron já utilizaram uma foto da década de 70 de uma área sob fogo como se fosse atual. O presidente francês chegou a dizer que é um caso de “crise internacional” e que deveria ser discutido com os países do G7 de forma emergencial. Muitas fotos de animais queimados são de outras localidades como da Califórnia e São Paulo. Um vídeo que mostrava uma mulher indígena chorando enquanto apontava para as chamas que foi divulgado por celebridades é, na verdade, de uma mulher da tribo da região metropolitana de Belo Horizonte-MG. Até o jogador Cristiano Ronaldo denunciando as queimadas da floresta amazônica que seria responsável pela produção de mais de 20% do oxigênio mundial postou uma foto que é de um incêndio na Reserva Ecológica do Taim, no Rio Grande do Sul ocorrido em 2013(1).

Quando se fala de desmatamento, parece que, somente, existe floresta sendo devastada aqui no Brasil, mas esquecem os outros países. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), nos sete primeiros meses de 2020, houve um aumento de 44% no número de queimadas na América do Sul, comparando com o mesmo período do ano anterior. Esse crescimento foi maior na Argentina (286%), Uruguai (177%), Paraguai (129%) e, no Brasil, pasmem, 4%! A China responde por 27,9% da emissão dos gases do efeito estufa. Ninguém fala nisso. O Brasil aparece com 1,3% das emissões. Por que não se fala do aquecimento global causado pela China?(6)

Se for falar de queimadas em um país continental como o Brasil, tem que entender a diferença entre absoluto e relativo e compreender que o número de queimadas por quilômetro quadrado é mais importante, a título de comparação e estudo, que o número absoluto de eventos. De janeiro até julho de 2020, o Brasil registrou cinco queimadas por 1000 quilômetros quadrados, ao passo que a Venezuela registrou 38 pontos de calor na mesma área; o Paraguai, 36; a Colômbia, 17; e a Argentina, 10.

Parece que o desmatamento sempre piora na Amazônia, mas houve queda de 7% nas queimadas em 2020 em comparativo com os primeiros sete primeiros meses de 2019.

Os incêndios, que são espontâneos, não acontecem na Amazônia uma vez que a floresta é úmida. A queimada, por outro lado, é uma tecnologia agrícola muito utilizada pelos pequenos agricultores da região. O acesso as tecnologias mais modernas podem ajudar a diminuir esta prática, mas o produtor precisa de meios para poder adotar as tecnologias.

A legalidade é uma forma eficaz de diminuir as queimadas. Cerca de 95% dos produtores rurais registrados no Cadastro Ambiental Rural (CAR) não promovem nenhum foco de calor nas suas propriedades. Na grande maioria das vezes, os pontos de calor são notificados em áreas não incluídas no CAR.

Outro ponto importante: produção rural pelo povo local. Existem 1 milhão de produtores rurais na Amazônia, a produção é insignificante para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, mas é a sobrevivência do povo da região. O produtor rural pode utilizar 20% do seu imóvel para produção autorizado pelo Código Florestal, deixando 80% com vegetação nativa, mas não querem que ele use esses 20% por estarem na Amazônia (2). Outro detalhe: é preciso dar atenção aos cultivos perenes na Amazônia, como o cacau, dendê e seringueiras. A mídia internacional só tem associado a região ao desmatamento, mas os estados são grandes produtores de cacau, dendê, açaí, soja, milho, algodão, café e mandioca. Nem todo produto do extrativismo tem o comportamento vantajoso do açaí. Para ajudar esta bioeconomia estes pequenos produtores da Amazônia precisam de modernização, por meio da oferta de novas tecnologias, barateamento do calcário e mecanização agrícola, entre outras medidas (6).

O Brasil é um país campeão na produção de comércio de produtos agrícolas e tem incomodado países no primeiro mundo que tem encontrado dificuldades de aumentar a sua área cultivada por falta de espaço o que o Brasil tem de sobra. Nosso país tem batido recordes na produção de grãos, mas a sua área plantada não seguiu este crescimento. Em 1975, era de 40 milhões de hectares, para uma produção de 40 milhões de toneladas; atualmente, está em torno de 65 milhões de hectares para uma produção seis vezes maior – em 2020, a safra recorde de grãos foi de 255 milhões de toneladas. Na agropecuária, as exportações de carnes aumentaram 90% com a produção 42% maior em uma área 10% menor. Por isto que pode se afirmar que o agronegócio protegeu 310 milhões de hectares do desmatamento em três décadas. O aumento da produtividade fez com que a área fosse poupada desmatamento ou devolvida para recomposição da vegetação natural (4). Existem 500 milhões de hectares, ou 60% de todo o território nacional que não estão ocupados por qualquer estabelecimento rural – imaginem uma economia pujante considerando que o agronegócio produz cada vez mais no mesmo espaço.

Há décadas, acreditou-se que poderíamos viver em uma época de escassez de comida, mas, atualmente, o Brasil produz por ano alimentos para mais de 1 bilhão de pessoas, ou cinco vezes a própria população. Tornou-se um dos maiores produtores de comida do mundo: maior exportador de soja, carne, frango, açúcar e café. Colhem-se três safras por ano.

Este país que dá certo está incomodando os grandes e, nesta guerra econômica, não medem esforços ou mentiras para ganharem. Uma das principais medidas é insistir que a Amazônia está sendo destruída devido os interesses do agronegócio e, por isto, irá acabar com o oxigênio do planeta e envenenar o mundo com agrotóxicos. Ameaçam cortar investimentos ou boicotar o país contra a produção rural brasileira. Sem esquecer das inúmeras ONG que precisam de causas para ganharem investimento – principais veiculadoras de mentiras como acima referidas. É uma fraude maciça contra o Brasil.

 

Edmar Fernandes de Araujo Filho

 

 1.https://g1.globo.com/google/amp/fato-ou-fake/noticia/2019/08/22/veja-o-que-e-fato-ou-fake-sobre-as-queimadas-na-amazonia.ght

2.https://www.canalrural.com.br/programas/informacao/mercado-e-cia/embrapa-mitos-e-verdades-queimadas-desmatamento/amp/

*3.https://jovempan.com.br/opiniao-jovem-pan/comentaristas/j-r-guzzo/desmatamento-na-amazonia-e-conto-do-vigario-em-escala-planetaria.html?amp

4. https://www.girodoboi.com.br/destaques/agro-protegeu-310-mi-de-hectares-do-desmatamento-no-brasil-em-tres-decadas/amp/

5. https://www.politize.com.br/desmatamento-no-brasil/

6. https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2020/12/17/brasil-tem-condicoes-de-monitorar-e-combater-desmatamento-afirmam-especialistas

7. https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2021-02/desmatamento-na-amazonia-tem-queda-de-70-em-janeiro-diz-governo?amp

8. https://valor.globo.com/google/amp/politica/noticia/2021/03/18/bolsonaro-defende-politica-contra-desmatamento-na-amazonia-em-reuniao-do-bid.ghtml

 

Fernanda Anônima

Prólogo

Ainda em choque, caminhava em ruelas desconhecidas atrás de jogar fora, aquele saco com algo ou alguém dentro. Ela estava tonta, cambaleante. O pai a acompanhava de longe. O telefone da sua casa tocava, já distante, como um grito de socorro, mas Fernanda nada percebia, nada a afetava mais. Ela não sentia medo, não tocava mais o chão, não percebia o peso de um corpo na mão. O suor da sua palidez, escorria incólume das suas costas frágeis de uma menina de 17 anos. Os cães das casas próximas ladravam como se a acusasse… E eles eram intolerantes. A dor dilacerante entre as suas pernas se revelavam pelo sangue derramado e contido pelo pano de chão encharcado do banheiro da sua casa.

Quase desfalecendo, se pergunta mais uma vez: por que isto aconteceu comigo? O delírio complacente permite que ela receba um feliz aniversário de uma frágil, pequena e pálida mão que escapa de um saco plástico, ensanguentado, que a toca em um dos seus trêmulos dedos.

Amigos

Em sua festa de aniversário de 16 anos, Fernanda está cercada com os seus melhores amigos. Amanda e André são seus colegas de infância; Madalena e Martha são suas conhecidas da igreja que frequentam. Todos estudam no mesmo colégio. Amanda costuma usar roupas escuras e perucas produzidas por ela mesma, com aspirações em ser uma maquiadora profissional. Tem um excelente convívio com a sua família, tanto que, a sua maior fã (e única!) é sua inocente irmãzinha de 5 anos! O seu quarto é um verdadeiro circo de caracteres, máscaras, retratos, roupas, tintas, apetrechos para as inúmeras possibilidades de personagens que ela adora montar e, algumas vezes, interpretar.

André imagina que ser professor de História irá permitir estudar o mundo antigo com mais serenidade e como ele interfere na sociedade contemporânea. Assim, finalmente, poderia ajudar outras pessoas a compreender a realidade que as cerca. No seu tempo livre, curte fazer drag, em outras palavras, ser uma drag queen para se expressar artisticamente pelo Instagram ou YouTube, seus meios sociais favoritos. Não pensa e nem tem tempo para se expor publicamente, é seu hobby.

Madalena está na sua fase de revolta. Após a morte da sua mãe, ela perdeu a fé em tudo e em todos. O único porto seguro, são seus amigos. As roupas que costumava usar, agora, estão rasgadas devido o ódio desproporcional ao Deus “de amor” que não deveria permitir a dor, o sofrimento e a morte. Suas antigas saias longas que não permitiam o deleite de desnudar seus tornozelos juvenis, se transformaram em minissaias. Não entendia o motivo da sua mãe, a única pessoa que a mantinha na Assembleia de Deus, ter morrido justamente enquanto falava com o seu “Pai”. Até o seu próprio pai compartilha da sua revolta. Ela consegue se confortar em estudar Matemática, porque o resultado é exato, previsível, diferentemente do abstrato desejo supremo de um Deus que define os seus destinos.

Martha é a mais séria do grupo, provavelmente, deverá seguir a advocacia, seguindo os passos de sua mãe e de seu pai. Apesar de ser, também, da Assembleia de Deus, onde conheceu Madalena, ela tem opiniões bem liberais para uma cristã tão fervorosa, como seus pais. A sua amizade com Madalena lhe trouxe um dos piores momentos da sua vida, mas, apesar de sua dor, ela compreende que não foi culpa da sua amiga.

 Dor de Madalena

Aos 8 anos de idade, Madalena era o xodó da família. Criança divertida, boas notas e comportamento escolar, exemplar. Aos poucos, começou a ficar mais reclusa, cada vez mais triste. O início da adolescência acentuou a agressividade sombreada na infância. Aos 12 anos, já falava em sexo, começava a se apaixonar por meninos e meninas de forma frequente. A agressividade com os pais foi se acentuando. Não conseguia mais abraçar ou beijar algum membro da sua família. Mesmo a ida frequente à igreja, não foi suficiente para barrar um lado sombrio que nela aflorava.

O próximo passo foi deixar de comparecer nas reuniões de jovens da igreja e nos cultos. Alegava que as palavras ditas pelo pastor ou pastora, eram preconceituosas. A igreja virou um lugar de repúdio.

Sentindo-se cada vez mais incompreendida, tentou, por diversas vezes, entender e decifrar o mundo à sua maneira. Todos os comportamentos suprimidos ao longo de anos, foram testados vigorosamente. Sexo, drogas, sem conseguir estudar ou trabalhar, sem definir um norte preciso para a sua vida, levaram ela cada vez ao fundo do poço. No meio desse caminho, muitas pessoas passaram na sua vida: uma delas foi a Martha.

Martha

Sempre a Martha foi reclusa, desde a tenra infância. Apesar de os pais sempre estimularem brincadeiras ao ar livre, ela tendeu a ficar em casa, brincando no seu quarto. No colégio, os professores avisavam aos pais de Martha, a necessidade de interagir mais com as pessoas, preocupados com o desenvolvimento social dela. Apesar de tudo, Martha teve bom desenvolvimento escolar, com poucos colegas que se relacionaram até o dia que teve que trocar de cidade, devido um novo trabalho que sua a mãe assumiu.

Em Fortaleza, seu novo domicílio, foi estudar no Colégio Cearense, localizado no Centro da capital do Ceará, próximo à Praça Coração de Jesus.

 

 

O Aniversário

Uma banda de música, que foi convidada para tocar na festa de aniversário da Fernanda, era composta por quatro integrantes, mas se sobressaía, o baixista Gabriel, para a aniversariante que não desgrudava seus olhos castanhos do músico.

A festa transcorreu de forma morna já que, alguns jovens, esperavam que fosse mais “ilegal” com álcool, drogas e, por um breve instante, como órfãos sem as limitações dos seus pais.

No outro dia, na hora do recreio, Fernanda estava sentada no chão conversando com os seus amigos quando observou ao longe, Gabriel passando no corredor. Eles trocaram olhares. Ela notou que já o conhecia, mas, somente agora, o percebeu. Ele lembra da aniversariante do dia anterior.        Ela toma coragem e vai de encontro a ele. Ele percebendo que ela se aproximava, não imaginava o que ela iria fazer, talvez, estivesse indo para outro setor do colégio, indo falar com qualquer outra pessoa fora ele. Mas o olhar dela começava a se fixar nele. A partir desse momento, inúmeros pensamentos inundaram sua mente adolescente sem ele poder controlar. Seu rosto estava pegando fogo. Ela estava ansiosa, discretamente animada, querendo passar uma sensação de segurança inexistente.

Fernanda: Oi, acho que te conheço. - começa o diálogo abrindo seu sorriso mais ainda.

Gabriel: Sim, com certeza. Foi ontem na festa do teu aniversário, estava tocando na banda. - responde o garoto sem acreditar que está conversando com uma garota tão bonita.

Fernanda: ‒ Valha, como você sabe que era o meu aniversário?

Gabriel: É, bem… Você era a única que estava usando uma coroa.

Fernanda: Oxe, quer dizer que só a aniversariante pode usar uma coroa?

Gabriel: É. - sorri.

Fernanda: Realmente, faz sentido. - fala sorrindo também.

Dessa forma, nos recreios e, somente nos recreios, eles eram permitidos aproveitar a presença um do outro a pedido da Fernanda. As semanas foram se passando, tornaram-se meses e o namoro inevitável entre os dois foi acontecendo.

Em um passeio pela Praia de Iracema, de mãos dadas, o primeiro beijo aconteceu. Viviam momentos felizes, que a juventude pode proporcionar sem preocupações sobre a burocracia que inferniza a vida das pessoas que têm família, necessidade de trabalhar para o sustento, doenças que surgem inesperadamente, algumas mortais, que requerem muito gasto de tempo e dinheiro.

Após três meses, Gabriel começa a mudar. Ele não liga mais como antes, sempre inventando desculpas, cada vez mais, para evitar estar ao lado de Fernanda. Isso começava a causar tristeza e dor nela. Os acessos de choro começavam a se tornar frequentes. Ela não consegue entender por que um namoro tão bom, poderia passar por esse horrível momento. Ela não desistia e continuava buscando a atenção do seu já, ex-namorado.

Certo dia, Gabriel, após conversar com o André sobre o que estava acontecendo, com os olhos lacrimejantes, revelou um triste fato: nunca namorava ou “ficava” por mais de três meses com alguém. Sempre começava com muita paixão, mas, sem explicação, já não tinha vontade de ver a namorada ou “ficante”. Esse comportamento existe desde a primeira vez que começou a se relacionar. André abraça o seu amigo, diz que compreende o seu sofrimento e deixa rolar uma lágrima sobre o ombro de Gabriel.

André é muito emotivo e sofre quando seus amigos estão passando por um momento difícil. Ele não gosta de influenciar as decisões das pessoas, principalmente, quando estão em sofrimento como a Fernanda. Ele chora porque poderia, por exemplo, tirar da cabeça da Fernanda a ideia dela querer voltar com o Gabriel, mas, ele considera que possa haver uma possibilidade no futuro, de o casal reatar. Nesse caso, ele não gostaria de ter sido um pária, para o relacionamento.

O mundo desabou para a Fernanda que passou dias chorando, perdendo peso, não acreditando no término do namoro. Ela tentou de tudo para conversar mais com o Gabriel, para tentar reatar o relacionamento. Aceitaria apenas “ficar” sem compromisso. Passaram-se dias, semanas nesse tormento, mas Gabriel não cedia. Ele, já chateado com a irritante perseguição, tentou falar com alguma das amigas da sua ex. Conseguiu conversar com Madalena que tinha mais proximidade.

Madalena, Martha e Gabriel

 

Madalena estava sentada em um canto da quadra central do seu colégio, onde poucas pessoas aparecem. Estava refletindo a forma estranha que Martha tem se comportado nos últimos tempos. Cada vez mais, Martha tem procurado abraçar, tocar Madalena de uma forma invasiva. Sempre, Martha procurava entrar no banheiro junto com a Madalena e presenciar sua amiga trocando de roupa ou qualquer ação que desnudasse seu corpo. Há poucas horas, Madalena gritou com a sua amiga explicando que não aguentava mais esse tipo de assédio. Martha caiu em lágrimas. Pediu desculpas e explicou que não era nada demais, e que ela gostava muito da Madalena, só isso. Madalena por sua vez, retrucou:

Como nada demais? Você está muito estranha. Fica querendo tocar nos meus seios o tempo todo, falando que as minhas calcinhas são lindas e perfumadas… Como? Você cheirou as minhas calcinhas? Você está dando em cima de mim? Somos muito amigas, mas isso está passando dos limites.

Você sabe como estou passando momentos difíceis depois da morte da minha mãe. Você está se aproveitando de mim?

Não, nunca iria te fazer mal ou magoá-la. Gosto muito de você, só isso. - respondeu Martha enxugando as suas lágrimas.

Elas se afastam, seguindo caminhos diferentes, Madalena não querendo mais falar com a Martha e, esta, procurando um meio para se reaproximar de Madalena e desfazer o mal-entendido. Nesse momento, Gabriel se encontrou com a Madalena.

          Madalena, tudo bem? Estou precisando de uma ajuda tua. - falou Gabriel sorrindo, mas notando a feição séria da Madalena.

          Estou com muitos problemas também, o que foi que aconteceu? - responde Madalena falando com a cabeça um pouco baixa, mas se levantando para tentar, pelo menos, escutar alguém, já que, não consegue entender e resolver seus próprios pesadelos.

          É sobre a tua amiga, mas, conte o que está acontecendo contigo? - responde Gabriel preocupado com Madalena.

          Ela contou tudo o que aconteceu com a Martha, tudo. Gabriel compreendeu e passou a conversar cada vez mais consigo, ele notava que quanto mais ela falava, mais relaxada ela ficava.

          Os dias passaram, Gabriel e Madalena se aproximavam cada vez mais. Eles nunca tinham se paquerado, mas a oportunidade de conversarem um com o outro, mudou a perspectiva que cada um tinha do outro. Era inevitável o relacionamento, mas não obrigatório. Madalena sentia essa aproximação e isso a incomodava. Gabriel notando a rejeição, começou a falar um pouco mais de si, inclusive, sobre o relacionamento com a Fernanda. Isso a incomodou sensivelmente, e passou a defender a volta do casal, já que ela sabia do sofrimento da sua amiga. Gabriel ficou muito chateado com Madalena.

          André entrou em contato com Gabriel também para tratar do mesmo assunto.

          Eu não quero mais namorar com a Fernanda, gosto dela, mas não a amo. O que está acontecendo? Por que essa pressão? - questionava Gabriel.

          Não quero me meter na vida pessoal de vocês… Estou, apenas, te avisando que tem uma garota muito legal que está com saudades de você, mas se já não é do teu interesse, entendo a tua decisão. - retruca André.

 

A Volta

Já se passaram seis meses do término do namoro, mas Fernanda, ainda sofria com o fim do relacionamento.

          Madalena convida seus amigos para um show que aconteceria no final de semana, com uma série de bandas de rock. Ela havia elaborado um plano para matar dois coelhos com uma cajadada só: aproximaria a Martha da Fernanda e torcer para que as duas começassem um relacionamento, dessa forma, Martha não ficaria mais chateada consigo e a Fernanda sairia da fossa que se encontrava. Ninguém sabia mais do plano.

          Depois que o plano foi revelado, após várias doses de cervejas que elas estavam tomando, houve uma grande confusão. Martha partiu para cima de Madalena tentando esbofeteá-la. Os amigos as cercaram e foi necessário o reforço dos seguranças do local para conter os ânimos. Fernanda não conseguia conter o choro.

          Gabriel, nessa noite, sente remorso de tudo que está acontecendo com a Fernanda, se aproxima dela, pede desculpas e, após breves palavras de carinho, a beija com todo calor e emoção, sentindo o rosto úmido de lágrimas copiosas que banhavam o rosto dela, e a partir desse momento, dele também.         O impulso do momento se transforma em cenas de sexo juvenil e um exame de urina se detecta, algumas semanas depois, que a Fernanda estava grávida.

          O desespero e o choro contínuo, invadem a vida de todas as pessoas envoltas desses dois novos jovens pais. Todo o tipo de conselho é dado como, fazer pré-natal cedo, como abortar ou assassinar essa criança, dependendo da ideologia de cada um. São momentos difíceis para as vidas de todos. Os amigos em volta, já não sabem o que falar, não querem mais arriscar palpites para piorar as vidas deles.

          Por fim, depois de semanas de suplício, a Fernanda começava a aceitar essa nova realidade e se preparar para o matrimônio proposto pelos pais de Gabriel e confirmado por ele.

          De repente, quando estava se preparando para tomar um banho, pois sairia com seus amigos, para comemorar o seu aniversário, percebe que começa a perder muito sangue a ponto de perder suas forças. Ela estava sozinha, sabia que tinha que procurar ajuda, ir a algum hospital, pois poderia desmaiar ou algo pior acontecer a qualquer momento.       

          Era véspera do seu aniversário de 17 anos.

Tudo Pode Piorar

          Madalena, quando soube da gravidez da Fernanda, entrou em desespero se sentindo culpada por todo o mal que estava fazendo para seus amigos. Precisava se redimir.

          A principal solução seria dar um fim àquela criança que estava no ventre da Fernanda já que estava causando tanta dor para todos, principalmente, para Fernanda. Madalena tinha remorso do encontro que ela planejou para as amigas, mas que acabou favorecendo a recaída de Gabriel e Fernanda. Madalena sabia que precisava fazer algo.

          Ela foi a única pessoa que estimulou Fernanda para abortar. Fernanda estava com muitas dúvidas sobre o assunto. Opiniões contrárias ao aborto, também existiam. Por fim, Madalena conseguiu alguns comprimidos abortivos e colocou em um suco para Fernanda. Ela não sabia do suco com a droga abortiva. A princípio não quis tomar, pois já apresentava náuseas devido a gravidez, mas Madalena insistiu que era para o bem dela e, assim, Fernanda ingeriu aquele líquido.

          Teve dificuldades para dormir, pois começou a sentir dores abdominais cada vez mais intensas além das náuseas e vômitos incoercíveis. Nas primeiras horas do dia, sentiu o líquido viscoso e quente, entre as suas pernas e ao tentar ligar a luz do quarto de forma cambaleante, percebeu um rastro de sangue que ia das suas coxas até a sua cama. Percebeu uma massa vermelha em cima da cama e, ao chegar mais perto, conseguiu notar as feições de um feto. Em um estado confuso, trôpega, procurou um saco plástico para guardar e jogar fora aquilo que ela não entendia, mas que causava dor e agonia. Sentia uma mistura de medo, desespero, desesperança, mas sabia que precisava prosseguir para esconder algo que ela não entendia. Por fim, ainda antes de desfalecer e ser levada pelo seu pai que a encontrara desmaiada em meio a uma poça de sangue, para um hospital, percebeu o único e último toque de feliz aniversário daquele que seria seu filho.

 

 

 

Obs: revisado em 31.07.23 pela Rejane e enviado para a Antologia 2023 da Sobrames em 01.08.23

E essa onda de calor?

A morte de uma fã em um show da cantora Taylor Swift no Rio de Janeiro, supostamente, devido o calor, deixou em alerta todos os brasileiros. A jovem teria tido uma parada cardiorrespiratória logo no início do show e relatos apontam que no local do show as pessoas estavam com dificuldades para conseguir água. No dia do show, o Rio de Janeiro chegou a uma temperatura máxima de 39,1°C.

Nos últimos dias está sendo constante nos noticiários a abordagem de assuntos referentes a onda de calor que o Brasil está passando, mais acentuada em algumas regiões. A classificação de onda de calor é bastante variada, mas é possível definir quando a temperatura absoluta (tanto a mínima quanto máxima) excede os valores normais para a região, por no mínimo, 3 dias consecutivos.

Quando as temperaturas estão elevadas, existem várias queixas como, excesso de sede, suor, irritabilidade e até sintomas mais graves, como fadiga em exposição prolongada a atividades físicas e mesmo no trabalho quando a temperatura se situa até os 32° C. Quando a temperatura se situa entre 32,1° a 41°C existe a possibilidade de cãibras, esgotamento e insolação para exposições prolongadas e atividade física. A insolação causa um aceleramento da desidratação do indivíduo, principalmente se tiver exposições ao sol por longos períodos podendo ocasionar queimaduras extensas na pele também.

Na medida que a temperatura vai se elevando, piores serão os sintomas sentidos pelos indivíduos. Os adultos são os que mais suportam estas variações de temperatura, sendo que as crianças e idosos fazem parte da população que mais sofre com o calor excessivo. Outro aspecto que deve ser lembrado é que a temperatura interna de alguns locais ou mesmo em áreas expostas pode ser mais elevada que as registradas oficialmente, pois pode ter baixa ventilação. Quando o indivíduo está fazendo atividade física que eleva a temperatura corpórea ou mesmo quando uma pessoa está usando grande volume de roupa que dificulta o resfriamento do corpo também.

Existem evidências relacionadas entre o aumento de mortalidade e o calor. Os efeitos na saúde parecem estar associados à exposição do corpo humano a temperaturas elevadas e prolongadas acima das quais a população está habituada. Entre as causas de morte associadas à onda de calor destacam-se doenças do aparelho cárdio circulatório, principalmente devido a hipertensão, doenças cerebrovasculares, doenças do aparelho respiratório, com destaque para as pneumonias, e até neoplasias malignas foram citadas em estudos.

               As doenças e a mortalidade associadas ao calor podem ser evitadas através de alteração do comportamento como beber bastante líquidos, uso de ar-condicionado e evitar excesso de roupas que possam reter o calor do corpo, dificultando seu resfriamento. Sendo um assunto de importância para a saúde pública, é necessário desenvolver modelos de previsão climáticos e tomadas medidas de prevenção, tanto a nível social, como de emergências hospitalares, de forma a prevenir as manifestações graves e até mesmo a mortalidade.

 

Edmar Fernandes de Araujo Filho