Em um novo devaneio estético de um dos prédios que se
posiciona exatamente ao lado da sua agência, toda a frente está ornamentada com
lâminas de vidro espelhados que refletem, com todo o seu explendor, os fótons e
a energia térmica cósmica oriunda de uma estrela de quinta grandeza que ilumina
o nosso planeta não tão distante assim da gente: a luz emitida da fusão nuclear
ali presente leva parcos 8 segundos para colidir com o nossa tênue ectosfera.
Pois bem, este calor concentrado dirigido para a agência do Ribamar tem causado
inúmeras achados curiosos: peças de plástico que formavam as letras garrafais
exuberantes da agência estavam em um processo de derretimento franco após a
instação das lâminas espelhadas no outro prédio, muito calor mesmo. Os
aparelhos de ar condicionado estavam passando por um processo de revisões mais
constantes já que o calor interno da agência aumentou e para conseguir manter
30 graus! , ajustados no termostato,
estavam tendo que colocar os bofes para fora com o ventilador ao máximo.
Interessante o processo de adequação que o homem se habitua: antes do aumento súbito do calor pela
espelhada decoração do outro prédio, era comum a necessidade de desligar alguns
aparelhos de ar condicionado ou aumentar um pouco a temperatura, pois o frio
era intenso. Alguns clientes costumazes já vinham para o estabelecimento com
casacos comprados em alguma viagem para um lugar um pouco mais frio como o
Alaska. Já ocorrera de um cliente neófito que estava aguardando uma longa
jornada de cadastro para avaliação de empréstimo ter sofrido de hipotermia –
alguns confessam que o incidente acelerou a aprovação do empréstimo solicitado
pelo cliente que pedia uma fábula para abertura de uma merceria especializada
em carne de gia em Aquiraz, cidade conhecida por possuir a primeira casa do
estado do Ceará e que é conhecido o desgosto da população pela carne do dito
réptil.
Ribamar já não aguentava mais a
sudorese que afetava, principalmente, as suas axilas. Ficava marcado por mais
que tivesse tentado usar vários tipos de desodorantes para evitar o suor. No
ambiente de trabalho, tinha que manter a discrição e se mostrar higiênico: uma
agonia. Pensava que o próprio nervosismo levava a piorar a cachoeira axilar.
Cada vez mais, passava a usar camisas de cores escuras, pois evidenciava menos
o rio que surgia sob seus ombros. Começou a investigar sobre o assunto e
descobriu que tem pessoas que tem sudorese excessiva em outras regiões do
corpo: mãos suadas que podem borrar cartas ou documentos – motivo de demissão
do trabalho, - absurdo, pensou. Outros podem escorregar devido os pés que,
também, suam patologicamente. Começou a achar que o melhor é se contentar com o
seu suor e agradecer a Deus porque não fedia – esqueceu de perguntar para quem
trabalhava perto dele sobre o odor que beirava o enxofre. Acontece que com as
altas temperaturas dentro da agência, suas roupas estavam encharcadas e não
conseguia mais esconder este incomodo.
Quem vive em cidades quentes, ensolaradas, principalmente no
sertão, onde a maior parte do tempo o céu é azul, sem nuvens, acha lindo um céu
cinzento. Sensação de alegria coletiva quando se olha para cima e tudo está
nublado – possibilidade de chuva real e temperatura mais amena. O sol que
queima as frontes desnudas deste povo. mais concentrada em áreas próximas do
equador, dá uma trégua tênue e refrescante. De repente, um povo que se acostuma
a se proteger cada vez mais do sol cáustico usando roupas que cobrem todo o
corpo, bonés, protetores solares, diminuem os cuidados quando o sol desaparece
por detrás das nuvens e, mais uma vez, notam que o sol queima suas peles por
mais que encontre vapores de águas no seu caminho. Ribamar, na verdade, nem
gosta de usar protetor solar porque acha melequento e caro. Ele tinha vontade
de morar em um locar que fosse nublado e frio o tempo todo. Acreditava assim que
poderia diminuir o seu suor, não era uma idéia por demais tola. Enfim, entre
sonhos e soluções, tinha que encontrar uma cura para o mal que o afligia.
Tinha que procurar um especialista que o ajudasse, algum
médico, mas qual seria$ Às 2 horas da madrugada, chegou na emergência de uma
hospital que havia no seu bairro. Após uma demora de 1 hora, adentrou o
consultório médico:
- boa noite, adianta Ribamar para criar um vínculo com o
médico que se encontra já abatido de uma noite de muito trabalho na emegência.
- boa noite, responde o médico imaginando o que um senhor com
um aparente vigor físico estaria em uma emergência médica naquela hora
- Doutor, eu tenho um problema grave e gostaria de pedir uma
ajuda ao senhor, desabafa Ribamar. Tenho uma suadeira no meu suvaco mesmo,
cansei de falar axila, o nome é suvaco mesmo, o senhor me perdoe – confessa
Ribamar. Nosso protagonista relata todo o seu infortúnio da sua sudorese e
aguarda a solução do médico.
- Senhor Ribamar, excesso de suor não é motivo de vir para
emergência, pondera o médico. Subitamente, o doutor reflete um pouco e decide
pelo menos orientar o paciente para que o mesmo não fique sem solução para o
seu caso. O médico namorava outra médica que é dermatologista e já ouvira falar
que somente haviam 3 tipos de tratamentos: cremes que diminuiam o suor,
cirurgias que seccionavam o nervo que produz o estímulo do suor e a injeção de toxina
botulínica na área afetada. Orientou, portanto, o suado paciente a procurar uma
consulta com o dermatologista.
- Se o senhor não tiver plano de saúde ou pagar uma consulta
com um médico particular, o senhor deve solicitar um encaminhamento em um posto
de saúde – finalizava a consulta o médico com a sensação de dever cumprido.
Finalmente, após muitos percalços, Ribamar consegue ser
consultado por um dermatologista que atende na rede pública em um centro de
referência em dermatologia. Fica um pouco triste quando descobre que a loção
para diminuir o suor que o médico dermatologista tinha receitado não tinha
surtido o efeito que ele desejara. Volta para a consulta do especialista e se
depara com um dilema: se submeter a fazer uma cirurgia por um cirurgião para
seccionar um nervo que inerva a área da axila e abole a secreção de suor em
toda a área inervada pelo dito nervo e arcar com a possibilidade de ficar com
uma área anestesiada se afetar algum feixe nervoso ou aplicar uma substância, chamada
de toxina botulínica, em vários pontos sob pele, que diminui, temporariamente,
a produção de suor – método menos agressivo e caro, já que o serviço público
não considera a sudorese excessiva como doença e não disponibiliza este
fármaco.
Começou com a peregrinação de tentar encontrar alguma outra
forma de resolver o seu problema sem ter que passar por estas orientações
médicas já que o valor dos tratamentos era proibitivo para o seu parco
orçamento. Fez uso de vários chás, garrafadas, esfregou a casca de romã na pele
suada, até banha de bode capado foi usado como tratamento alternativo, todas
tentativas vãs. Até que um dia, recebe uma ligação do centro de dermatologia
referindo que havia iniciado uma pesquisa para o tratamento para sudorese com
laser e o dermatologista que houvera atendido ele lembrou do seu caso. Um
súbito contentamento tomou posse do seu ser e, entre choro e palavras
desconexas pelo nervosismo, aceitou comparecer na outra manhã para iniciar o
processo de tratamento proposto. Um sucesso. Logo nas primeiras aplicações, o
resultado já era evidente – não se formava suor na área axilar, totalmente
abolido. Ribamar nas consultas posteriores com seu médico dermatologista não
parava de explicar como a sua vida estava transformada, estava usando roupas
melhores, caprichando no visual, voltou até a estudar para concluir o segundo
grau pensando em iniciar uma faculdade. Isso era um alento para aquele
dermatologista cansado. Uma vida impactada pelo sucesso de um tratamento. No
meio de seus livros e teses acadêmicas, há um vasto espaço para os milagres nas
doenças, em boa parte dos casos, de difícil ou impossível tratamento. Não
totalmente satisfeito, procura os arquivos da pesquisa para compreender todo o
método empregado. Descobriu que foram utilizados dois grupos de pessoas, no
primeito era injetado uma nova fórmula de um derivado sintético da toxina
botulínica nas axilas de paciente com excesso de suor e em um outro grupo era
injetado apenas água destilada, isto é, sem efeito biológico nenhum. Pra sua
surpresa o Ribamar estava arrolado no grupo dos que receberam a injeção de água
destilada. Como seria possível$ Pensou em ligar para o Ribamar e contar este
achado e dividir consigo esta surpresa, mas ponderou e entendeu que este efeito
placebo não deveria ser mencionado. A fé no tratamento foi tão grande que seu
corpo acreditou na cura e se automodelou, um milagre. É quando o excesso de
otimismo da esperança cura o pessimismo da evidência!
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