Isolou, e agora?
Qual é o próximo passo?
por Edmar Fernandes
No enfrentamento de uma crise, como a pandemia da Covid-19, por exemplo,
é necessário definir e seguir três fases para que haja o mínimo de perdas à
população. A primeira fase é reconhecida pela identificação do problema,
elaboração de planejamento para o enfrentamento, disponibilização de recursos
para a execução do plano inicial e tem o objetivo de evitar mortes em curto
(até um mês) e médio prazo (de 1 a 6 meses). A segunda fase caracteriza-se pela
preparação para retomada das atividades sem causar prejuízo ao plano de
enfrentamento inicial e tem objetivo de minimizar o sofrimento que a população
tenha sofrido devido às medidas tomadas na primeira fase. Por fim, a última
etapa é a volta da rotina da população, sem riscos de um retorno do problema
posto.
A primeira fase está em andamento em todo o mundo. Foi amplamente
divulgado para a população que medidas não farmacológicas seriam as únicas
armas disponíveis para deter este vírus, como o distanciamento social,
higienização das mãos e etiqueta respiratória. O isolamento horizontal, que é a
exigência de todos os setores da sociedade permanecerem em casa, foi implantado
na maioria dos Estados e dos Municípios para evitar o máximo de contato entre
as pessoas e, assim, atrasar a disseminação do vírus.
Foi ampliado o número de enfermarias para isolamento, UTIs para os casos
mais graves, hospitais de campanha para pacientes com suspeita ou confirmados
com a Covid-19. Foi decretado Estado de Calamidade no Ceará e na maioria dos
municípios cearenses. Para agilizar as ações do Poder Público, foi autorizado
até a destinação de recursos para o controle da pandemia, sem licitações. O
objetivo de evitar ou diminuir as mortes – ao máximo possível, em curto e médio
prazos –, está sendo conseguido graças ao trabalho conjunto de todos; mas, e a
segunda fase? Quem está discutindo ou se preparando para implantá-la?
É calculado, em uma perspectiva otimista, um acréscimo de 5% na taxa de
desemprego no Brasil devido à implantação do isolamento social horizontal.
Estima-se que, para cada 1% de acréscimo na taxa de desemprego, há um aumento
da mortalidade de 0,78 para cada 100 mil habitantes. Portanto, se aumentar em
5%, haverá, aproximadamente, mais de 8 mil mortes por ano decorrentes da perda
destes empregos formais. São mortes ocasionadas não pela ação direta do vírus
na vida dos cidadãos, mas, sim, pela situação econômica destes.
Existem várias propostas para a execução da segunda fase. Algumas já em
andamento em outros locais, menos no Ceará. O isolamento horizontal deve ser,
gradativamente, mudado para isolamento vertical onde apenas o grupo de risco
deva continuar em isolamento. Importante salientar que o processo deve decorrer
de uma forma parcimoniosa para, caso haja súbito aumento de eventos adversos,
que superem a capacidade dos leitos preparados para a doença na primeira fase,
voltem às medidas restritivas de circulação.
Por fim, é necessário se debruçar sobre estes dados e entrar na próxima
fase. Santa Catarina já permitiu a reabertura das lojas de rua desde o dia 13
de abril, respeitando algumas regras. Quando o Ceará e seus municípios passarão
para a próxima fase? Quando o Governo Estadual e Prefeituras apresentarão um
plano para a reabertura dos postos de trabalho e evitar o aumento da
mortalidade devido o desemprego decorrente da quarentena imposta aos cidadãos
cearenses?
Fortaleza, 23.04.20
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